Sinopse: Uma retrospectiva bizarra sobre um ano bizarro em todos os sentidos.
"Black Mirror" é uma série revolucionária ao contar histórias fictícias, mas que não são muito distantes de nossa própria realidade. Questões como redes sociais, fake news, negacionismo e polarização ao extremo são alguns dos assuntos em que a série mais aborda e dos quais nós enfrentamos no lado de cá da tela. Tudo isso transbordou de vez no ano de 2020, onde a pandemia do Coronavírus revelou a face grotesca de várias pessoas, onde escancarou governos despreparados perante o assunto e o falso documentário "2020 Nunca Mais" vem para recontar os absurdos desse ano tão complexo.
Realizado pelos mesmos criadores de "Black Mirror", com o título original de Death to 2020 (Morte à 2020, em tradução livre) e encabeçado por Charlie Brooker e Annabel Jones, nada mais justo que esse especial relembraria os eventos deste ano com um humor ácido carregado de ironía. A previsão se concretiza logo aos primeiros minutos, quando somos apresentados aos “entrevistados” da retrospectiva, que vão desde um jornalista interpretado por Samuel L. Jackson até a própria Rainha Elizabeth II, vivida por Tracey Ullman.
A escolha pelo humor ácido para descrever o que passou neste último ano é mais do que apropriado, pois antes rir do que chorar perante tantas situações horríveis e absurdas que ocorreram ao longo de cansativos doze meses. O documentário se destaca principalmente pela escolha de seus personagens, onde cada um representa uma faceta de uma sociedade que prega a todo custo o seu pensamento, mas sem querer ouvir a opinião diferente do seu próximo. Se por um lado temos uma dona de casa que aceita todo o tipo de mentira que transborda em seu celular, do outro, temos o historiador que possui uma grande bagagem de conhecimento da história, mas que o próprio não consegue fazer uma análise construtiva sem mencionar histórias populares, porém, fictícias.
Logicamente, tudo isso se dirige à figura polêmica que foi Donald Trump, cujo o seu discurso negacionista com relação ao vírus sentenciou inúmeros norte-americanos a morte ao longo do ano. Curiosamente, a obra destaca outros governantes da extrema direita que possuem o mesmo discurso, como no caso do grotesco Primeiro Ministro da Inglaterra Boris Johnson e cujo o seus discursos são tão bizarros quanto do próprio Presidente norte americano. É tanta coisa hedionda que o documentário se estenderia ainda mais se colocassem o nosso Presidente Bolsonaro na jogada, mas para isso seria preciso fazer uma análise mais aprofundada, pois só com o nosso governo atual precisaria de, no mínimo, dois documentários para recontar tantas loucuras que acontecem por aqui em nossas terras tropicais.
Só para se ter uma noção de como esse ano foi problemático, a questão do coronavírus chega até mesmo a ficar em segundo plano em alguns momentos de projeção, principalmente quando os realizadores colocam na tela questões sobre o combate contra o racismo e que neste ano estourou com o assassinato covarde de um jovem negro que havia sido morto por um policial. Tudo isso acabou gerando uma convulsão social, da qual começou nos EUA e se espalhou ao redor do mundo. Isso fez com que aumentasse ainda mais o combate contra Donald Trump, mas esse embate somente estava começando.
É aí que no ato final do documentário testemunhamos uma eleição norte americana bizarra, onde vemos um Presidente negar o resultado de uma eleição e que não aceita a derrota até o último instante. Todos nós conhecemos essa e outras histórias do ano de 2020, mas olhando para as situações vistas na tela concluímos que nenhuma ficção vista no cinema ou literatura criada até aqui previu tamanha montanha russa de situações que fizeram a gente testar a nossa força de vontade a todo momento. O ano de 2020 deu adeus para alegria de muitos, mas os resquícios do que ele provocou continuam e cabe a gente ver o que acontece neste jogo já tumultuado para esse novo ano.
"2020 Nunca Mais" é um replay sobre tudo o que havia dado errado neste ano, mas também escancarando o quanto somos persuadidos a querer continuar cometendo os mesmos erros.
Onde Assistir: Netflix.
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