Sinopse: Em 1977 o parlamento espanhol aprovou uma Lei de Anistia que garantia a liberdade de todos os presos políticos e a proibição do julgamento de qualquer ato criminoso ocorrido durante a ditadura de Francisco Franco no país. O Franquismo assombrou a Espanha durante 38 anos deixando um imenso número de vítimas e parentes sem respostas.
Recentemente eu revi no cinema o clássico do Expressionismo Alemão "O Gabinete do Dr. Caligari" (1919), do qual se tornou uma espécie de metáfora de uma geração alemã derrotada após a 1ª Guerra Mundial e da qual se encontrava sonâmbula perante o horror do mundo real. Não é de hoje que governos tentam persuadir o povo a se colocar numa posição de desligamento com relação aos fatos da história e se tornarem verdadeiros zumbis perante uma realidade crua, porém, que não pode ser ignorada. "O Silêncio dos Outros" escancara a dura realidade de um governo irresponsável, do qual deseja apagar da história inúmeros fatos, mas que o povo em geral procura continuar desperto.
Apresentado para o mundo pelo cineasta Pedro Almodóvar, e dirigido por Almudena Carracedo, Robert Bahar, o documentário fala sobre os 40 anos de ditadura de Franscico Franco na Espanha e sobre os crimes contra a humanidade que ele havia cometido. Após a sua morte, o governo decidiu criar a Lei da Anistia, da qual garantia a liberdade de todos os presos políticos, mas também a proibição de julgamento para qualquer ato criminoso ocorrido durante o governo Franco. Porém, amigos e familiares abominam essa lei e procuram a todo custo por justiça e saber sobre o destino das pessoas desaparecidas.
O início da obra já começa de uma forma tocante, onde testemunhamos uma senhora de idade avançada, guiada pela sua parente e que vai em direção do possível local onde pode estar enterrado seus entes queridos vítimas da ditadura de Franco. Esses primeiros momentos já servem como preparação para o que virá mais adiante, pois embora não seja um filme de terror, as atrocidades vindas da própria realidade podem sim se tornar muito mais angustiantes. Uma vez que testemunhamos imagens de arquivos, mesmo que sejam de vários anos, concluímos que certas feridas ainda se encontram em abertas e das quais não param de sangrar.
"O Silêncio dos Outros”, busca escancarar esses horrores do passado, mas do qual o próprio governo tenta acobertar os fatos. De acordo com o discurso oficial da época, sustentado pelo presidente do governo espanhol, Mariana Rajoy, é melhor esquecer os fatos passados e se focar no futuro, ou seja, nada de “remexer nos ossos”, pois o que passou, passou. A facilidade com que as autoridades obtêm sobre esse assunto delicado são espantosas diante das dezenas de casos relatados nos documentários e dos quais não podem ser jamais abandonados.
Os diretores Almudena Carracedo e Robert Bahar reúnem inúmeros fatos sobre a tortura, assassinatos, crianças recém-nascidas sendo roubadas e outras atrocidades cometidas em nome do combate ao que chamavam de “perigo comunista”, da qual se tornou uma desculpa esfarrapada criada pelas democracias das Américas do Norte e do Sul durante os tempos de chumbo. Tecnicamente, os cineastas assumem uma ousadia ao colocar na tela fatos explícitos e transforma-lo em um filme-denuncia. Eles adquiriram inúmeros depoimentos para a câmera, material de arquivo, conversas das famílias das vítimas com advogados, narrativas explicativas em off, letreiros com datas e informações históricas, músicas comoventes, apropriação de obras de arte e dentre outras coisas.
O resultado acaba se tornando um verdadeiro soco no estômago, tendo o ponto positivo de se tornar, como já dito acima, em um verdadeiro filme-denúncia. "O Silêncio dos Outros" dita uma regra bastante simples de jamais ser imparcial, para assim ouvir os dois lados do conflito e fazendo com que o cinéfilo tire as suas próprias conclusões. Porém, uma vez que testemunhamos as vítimas sendo encontradas em covas após várias décadas, fica muito mais fácil escolhermos um lado da história.
"O Silêncio dos Outros", não é somente um filme denúncia sobre tempos nebulosos acontecidos na Espanha, como também um retrato universal de tempos ditatoriais e dos quais não se devem retornar, mas sim extinguir.
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