NOTA: Filme exibido para os membros do Clube de Cinema de Porto Alegre no último sábado (20/01/18)
Sinopse:
Aos 26 anos, Karl Marx embarca para o exílio junto com sua esposa, Jenny. Na
Paris de 1844, ele conhece Friedrich Engels, filho de um industrialista que
investigou o nascimento da classe trabalhadora britânica. Dândi, Engels oferece
ao jovem Marx a peça que faltava para completar a sua nova visão de mundo.
Entre a censura e a repressão, os tumultos e as repressões políticas, eles
lideram o movimento operário em meio à era moderna.
Em tempos de hoje “pós-golpe”, existe sempre um grupo ou outro (como
MBL), querendo demonizar certos movimentos, mas que, em prática, não entendem
nada do assunto. Em 2016, por exemplo, em uma manifestação da qual se exigia o
retorno da Ditadura (?), uma estudante chamada Rosângela Muller apontou no Painel
do Congresso uma bandeira que, segundo ela, era comunista, quando na realidade
era do Japão. Em tempos em que temos uma mídia parcial, uma tolerância zero,
além da falta cada vez maior de diálogo entre as classes, é sempre bom vermos
filmes como O Jovem Karl Marx em que nos explica as raízes de um dos principais
movimentos socialistas a serviço da união dos povos.
Dirigido por Raoul Peck (Eu não sou o seu negro), a trama se inicia no
ano de 1844, onde o jovem escritor Karl Marx (August Diehl, de Os Falsários), impedido
de escrever em defesa dos trabalhadores, embarca no exílio junto com a sua
esposa. Porém, na cidade de Paris, ele veio a conhecer Friedrich Engels (Stefan
Konarske, do recente Valerian), filho de um industrialista, mas não tendo a
mesma visão gananciosa do seu pai e tendo como objetivo conhecer um pouco melhor a
vida de cada trabalhador braçal. Embora de mundos diferentes, ambos possuem o mesmo
pensamento com relação aos trabalhadores, dos quais sofrem nas mãos de
poderosos e decidem então unirem forças para tentar mudar esse quadro.
O primeiro ato da trama é basicamente dividido em duas linhas
narrativas, onde vemos Marx sofrendo perante a perseguição e censura vinda do
próprio governo. Enquanto isso, nós presenciamos Engels testemunhar horrorizado o lado cru da
vida árdua dos trabalhadores, cujo sangue que escorre de cada membro perdido
deles, acaba por então enriquecendo mais o seu pai. Vidas diferentes, com até
mesmo pensamentos distintos, mas cujas situações da época, que vai desde a
corrida pelo progresso, como também o aumento discriminatório das classes
operárias, faz com que ambos os lados concordassem que era preciso haver
mudanças, para então elaborar o nascimento da união entre os trabalhadores e
que se criasse então um dos primeiros movimentos fortes do comunismo contra a
opressão.
Embora sejam épocas passadas é incrível, por exemplo, como os discursos
de ambos os protagonistas soa mais atualizado do que nunca. Ao mesmo tempo, a
dupla é consciente de que é preciso fazer alianças em meio aos grandes movimentos
já estabelecidos daquele tempo, principalmente com relação à igreja, da qual
sempre possui uma palavra forte e que influência os pensamentos do povo. É um
caso que ressoa até hoje e que, para o bem ou para a mal, influência até mesmo na decisão de escolha de vários lideres pelo mundo.
Com uma boa reconstituição de época, o filme desliza um pouco ao usa as
velhas fórmulas de sucesso cinematográfico sobre o bem contra o mal, para fazer com que o cinéfilo
desinformado embarque nessa história facilmente. Na abertura, por
exemplo, vemos trabalhadores famintos pegando lenha na floresta, para que logo
em seguida sofrerem nas mãos de soldados sombrios a serviço do governo. A sequência é moldada propositalmente para nos emocionar, mas sendo mais do que o suficiente para nos
convencer e embarcar na proposta principal da obra.
O filme tem como objetivo se aproximar perante cinéfilo leigo sobre o
socialismo de ontem e hoje, mesmo quando a obra não se aprofunda ao extremo em
algumas passagens no decorrer do percurso. Contudo, as bases dos pensamentos da
dupla central são muito bem exploradas, principalmente quando surge o embate
deles perante aos outros teóricos de esquerda da época e em situações muito bem
esclarecidas. O filme obtém o mérito de fazer com que se debata sobre as
teorias políticas diversas, ou até mesmo na necessidade de prestarmos mais
atenção nos pensamentos de escritores de ontem e hoje e que conseguem passar
suas mensagens para um grande público, assim como aconteceu com o desenvolvimento
do Manifesto Comunista e que sobrevive até hoje em meio represarias e censura
vindas da extrema direita.
O Jovem Karl Marx não é nenhuma obra prima, mas que serve como uma
pequena fonte de conhecimento para entendermos as origens de certos movimentos
socialistas e, quem sabe, impedir um pouco o avanço de jovens de hoje que são cada vez mais
desinformados com relação à palavra comunista.
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