Sinopse: Rosália é uma
operária de 65 anos que dedicou a vida ao trabalho em um fábrica de reatores da
periferia de São Paulo. Ela é demitida e, deprimida, é consolada pelo irmão
José, que resolve levá-la a Buenos Aires em uma viagem de carro.
Ao ficarmos presos ao
sistema, como se fôssemos uma engrenagem sempre no mesmo lugar, acabamos nos
tornando então dependentes de uma rotina ou de um sonho interminável e do qual não
conseguimos acordar. Porém, uma vez que acordamos dessa situação, nos sentimos
impotentes perante uma realidade crua, cujo seu futuro acaba se tornando
opressor e cada vez mais indefinido. Em tempos sombrios e inquietantes dos
quais o Brasil vive atualmente, é impressionante como o filme Pela Janela, mesmo com
toda sua simplicidade, tenha se tornado uma representação sobre esses tempos
temerosos, mas nos dizendo que sempre há ali um fio de esperança para ser então
abraçado.
Dirigido e roteirizado pela estreante
Caroline Leone, acompanhamos a história de Rosália (Magali Biff), veterana operária
de uma fábrica de reatores da periferia de São Paulo. Embora seja a melhor no
que faz, Rosália acaba sendo despedida e caindo numa temível depressão. Porém,
o seu irmão José (Caca Amaral), precisa viajar até Bueno Aires para trabalho,
mas vendo Rosália da forma como ela se encontra, decide então levá-la e
iniciando uma viagem de inúmeras descobertas.
Embora o velho subgênero
roadie movie seja o pano de fundo que mova a história, é nas cenas
perfeccionistas da cineasta Caroline Leone que faz com que o filme tenha vida
própria. Minuciosamente conhecemos Rosália pela forma como ela se organiza,
tanto no trabalho como em casa, onde a câmera da cineasta foca cada detalhe da maneira
como ela administra essa sua rotina. Contudo, a partir do momento em que a
protagonista perde o emprego, a câmera da cineasta tenta extrair todo o negativismo
da situação, cujo teor sombrio da fotografia que imunda a tela, acaba então que
se tornando uma representação de um olhar embaçado da protagonista que não consegue mais enxergar
vida em sua volta.
Embora tudo isso aconteça em
poucos minutos no início da trama, é impressionante como então sentimos o peso
da situação. Aliás, muito disso se deve não somente pelo belo trabalho da cineasta
Caroline Leone, como também do trabalho feito de corpo e alma da atriz Magali Biff.
Saída do teatro, mas vista em filmes como O Jogo das Decapitações, Biff deixa
se levar pela situação de sua personagem, ao ponto de conseguir passar a partir seu
olhar toda a dor, a falta de perspectiva da qual a sua personagem carrega e nos
brindando com uma das grandes atuações que eu testemunhei nesse início de ano.
Porém, o melhor está por vir
quando a dupla de irmãos pega o pé na estrada e se encaminhando por territórios
que os fazem enxergar uma realidade até então desconhecida. É aí que a câmera de
Caroline Leone se torna uma espécie de terceira pessoa, onde ela sempre se
encontra atrás dos protagonistas, como se ficasse numa posição de expectativa
com relação ao que irá acontecer a seguir. É nesse ponto, aliás, que entra em
cena o cenário das Cataratas do Iguaçu.
Dentro da trama, o cenário é
visto num primeiro momento pintado num quadro dentro de um hotel, onde a
protagonista tem um pequeno vislumbre daquele cenário, mas desejando que aquilo
se tornasse então uma janela e da qual ela pudesse atravessá-la. A partir da boa
vontade de seu irmão, a dupla se encaminha para o cenário do qual Rosália tem
uma espécie de purificação, a partir de momento que encara as gigantescas
paredes de água descendo a poucos metros de sua direção. Sem nenhum uso de
efeito digital, ou tão pouco de 3D, Caroline Leone cria desde já um dos mais
impressionantes momentos do cinema brasileiro dos últimos tempos e, sinceramente,
não estou nenhum pouco exagerando, pois basta testemunhar aquilo para concordar
com o que estou dizendo.
Após essa passagem deslumbrante,
o filme se encaminha num cenário familiar, porém, com características das quais
só se encontram na Argentina. Em meio a costumes e velhas tradições, é curioso
observar algumas figuras presas em suas rotinas, seja num trabalho insípido, ou
simplesmente presos aos seus aparelhos celulares. Porém, após o batismo das
cachoeiras, Rosália se torna um ar de frescor para aquele cenário e do qual se
desperta gradualmente devido a sua presença: a cena em que seu irmão toca um
violão e ela começa a cantar sintetiza esses momentos como um todo.
Como todo bom roadie movie
que se preze, o ato final se encaminha para um cenário em que os dois
protagonistas já tem uma ideia dos seus caminhos a trilhar, mas resta saber em
qual direção eles terão que escolher. Cheio de simbolismo no decorrer do filme,
um quadro é visto como uma janela, cuja então a janela se torna uma opção
de fuga para uma nova vida. Não há palavras, ou tão pouco se vê as escolhas de
ambos, mas desejamos que a cruzada desses protagonistas continuasse
posteriormente em nossas memórias.
Desde já, Pela Janela
é um dos melhores filmes do nosso cinema recente, pois nos encoraja a despistar
dos percalços da vida e abraçar uma possível redenção da qual se encontra muito
além do que a gente enxerga no nosso dia a dia.
NOTA: O filme teve
uma sessão especial ontem (18/01/18) na Cinemateca Capitólio de Porto Alegre e
irá estrear oficialmente dia 01 de fevereiro no Cinebancários as 17horas na
mostra Vitrine Petrobras.
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