MOSTRA
APRESENTA A OBRA DE THOM ANDERSEN NA CINEMATECA CAPITÓLIO PETROBRAS
Hollywood e além: O
cinema obstinado de Thom Andersen
Thom Andersen
(nascido em 1943) leciona na Escola de Cinema e Vídeo no California Institute
of the Arts (CalArts), em sua cidade nativa de Los Angeles, desde 1987. Seu
trabalho consiste em estudos sobre as origens do cinema moderno, políticas da
indústria cinematográfica americana, construções do imaginário urbano de
Hollywood e singelos espaços urbanos. Sua obra é política por natureza e se
expressa através pequenos gestos. Como o próprio artista escreveu, “Precisamos
de imagens verdadeiras e válidas, nas quais podemos reconhecer o mundo e sua beleza;
imagens que nos ensinem sobre nós mesmos e nosso mundo”.
A programação conta
com 13 filmes de Andersen. Entre eles, o seu longa-metragem mais recente Os
pensamentos que outrora tivemos (2015), um estudo pessoal sobre a obra teórica
cinematográfica do filósofo Gilles Deleuze; e sua obra mais conhecida, Los
Angeles por ela mesma (2003, remasterizado em 2013), uma análise da complexa
relação entre a cidade de Los Angeles e a indústria cinematográfica
hollywoodiana.
A mostra conta ainda
com mais cinco filmes recentes de artistas americanos contemporâneos – Andrew
Kim, Adam R. Levine e Billy Woodberry – que trabalharam com Andersen e cujos
próprios filmes compartilham muitos dos mesmos temas do cineasta, em especial,
o uso do cinema como forma de resgatar o passado. Os dois filmes de Kim, (I)
Frame (2016, co-dirigido com Karissa Hahn) e O pavão (2015), são estreias
nacionais.
A realização da
mostra em Porto Alegre segue o lançamento, em inglês, do livro Slow Writing:
Thom Andersen on Cinema (editado por Mark Webber)
(http://thevisiblepress.com/slow-writing/), que reúne textos de Andersen
escritos entre 1966 e 2017. O livro conta com ensaios que tratam de filmes e
temas discutidos em suas próprias obras, junto com uma filmografia anotada.
Alguns dos textos podem ser lidos em português no link:
http://mutualfilms.com/HollywoodeAlem.pdf
A tradução da introdução do livro pode ser lida em
http://www.capitolio.org.br/novidades/1167/slow-writing-thom-andersen/
GRADE DE HORÁRIOS
18 a 24 de janeiro de
2018
18 de Janeiro
(quinta)
14h - A Bela da Tarde
16h – Alma em
Suplício
18h – Eles Vivem
20h – Sessão especial
de Pela Janela
19 de Janeiro (sexta)
14h – A Primeira
Noite de um Homem
16h – Zabriskie Point
18h – Crepúsculo dos
Deuses
20h - Os pensamentos
que outrora tivemos (Mostra Thom Andersen)
20 de Janeiro
(sábado)
14h – Os Iniciados
(sessão de pré-estreia)
16h – Olivia’s
Place/Reconversão (Mostra Thom Andersen)
18h – Los Angeles por
Ela Mesma (Mostra Thom Andersen)
21 de Janeiro
(domingo)
14h - A Primeira
Noite de um Homem
16h – California Sun/
A trilogia de Tony Longo/ Get out of the car/ Um trem chega à estação (Mostra
Thom Andersen)
18h - (I) FRAME/Eadweard Muybridge, zoopraxógrafo (Mostra Thom Andersen)
20h - Marseille Après
La Guerre/E quando eu morrer, não ficarei morto... (Mostra Thom Andersen)
23 de Janeiro (terça)
14h - A Bela da Tarde
16h – Chinatown
18h30 – -- - -- -- --
- (Um filme de rock ‘n’ roll)/O pavão (The Peacock)/ Juke – Passagens dos
filmes de Spencer Williams/ California here I come (Mostra Thom Andersen)
20h – Koh + Hollywood
Vermelha (Mostra Thom Andersen)
24 de Janeiro
(quarta)
14h – A Primeira
Noite de um Homem
16h - A Morte num
Beijo
18h – Alma Torturada
20h – Eles Vivem
Sinopses dos filmes: Hollywood e além: O
cinema obstinado de Thom Andersen
-- ------- (Um filme de rock ‘n’ roll)
--- ------- (The Rock ‘n’ Roll Movie)
11 minutos, 1966/67,
EUA
Direção: Thom
Andersen e Malcolm Brodwick
No catálogo do
VIENNALE de 2008, na ocasião da mostra curada por Andersen, Los Angeles: A City
on Film, ele descreveu seu filme: “Em --- -------, nós tentamos reconciliar o
cinema formalista com o cinema documental, fazendo um documentário sobre o
rock&roll, no qual as partes se relacionariam formalmente em vez de
tematicamente. Nós começamos com uma forma dialética simples. Os planos e
segmentos de som tornam-se progressiva e gradualmente longos a cada duas
unidades. Dentro de cada unidade, a primeira parte possui metade da duração da
segunda. Nós começamos a chamar as unidades de ‘iambos’, baseando-nos na
seguinte definição: ‘um pé em métrica poética consiste em uma sílaba curta
seguida por uma longa…’. O título é um símbolo não verbal para um iambo.
Malcolm editou a sequência de sons e eu construí a sequência de imagens; porém,
nós trabalhamos independentemente. A relação entre imagem e som em qualquer
ponto do filme é determinada pelo acaso.” Exibição em DCP.
A trilogia de Tony
Longo
The Tony Longo
Trilogy
14 minutos, 2014, EUA
Direção: Thom
Andersen
Andersen percebeu o
ator coadjuvante Tony Longo (1961-2015) no filme The Takeover (1995) durante o
processo de remasterização de Los Angeles por ela mesma. Ao pesquisar sua
carreira, descobriu que o ator havia participado com pequenos papéis em mais de
cem filmes de ação hollywoodianos. Focando em todas suas cenas em The Takeover,
Cidade dos sonhos (2001) e Vivendo em perigo (1997), Andersen cria uma trilogia
dramática na qual Longo, um doce brutamontes, é tragicamente traído pelas
circunstâncias, no curso da execução de seu trabalho. Exibição em DCP.
California Here I
Come
4min, 2017, EUA
Direção: Thom
Andersen e Andrew Kim
O filme mais recente
de Andersen é um vídeoclipe preto e branco, realizado a
partir de imagens de
arquivo de filmes de ficção que ilustram a música do título –
gravada originalmente
por Al Jolson em 1924 e interpretada, aqui, pela banda The
Farmingdale Sound
Machine. Sobre o filme, Andersen completa, “Eu comecei com um
plano, o primeiro
depois do prólogo. É um plano que eu gosto muito de Uma História de
Ervas Flutuantes
(1934), de Yasujiro Ozu. Eu quis fazer um filme em torno dele, e, claro,
deveria ser um filme
sobre viagem.” Exibição em DCP.
California Sun
4 minutos, 2015, EUA
Direção: Thom
Andersen
A música “California
Sun”, composta por Henry Glover e Morris Levy, em 1961, foi regravada pela
banda Farmingdale Sound Machine, que produziu um videoclipe utilizando cenas de
Los Angeles por ela mesma. Após assistir ao videoclipe, Andersen decidiu fazer
sua própria versão, que foi divulgada pela banda. Depois de uma cena
introdutória de A marca da maldade (1958), de Orson Welles, inicia a música,
acompanhada por cenas de filmes hollywoodianos que retratam com uma
literalidade graciosa os versos sobre o prazer de viajar para um novo lugar.
Exibição em DCP.
E quando eu morrer,
não ficarei morto...
And when I die, I won’t stay dead...
90 minutos, 2015,
EUA/Portugal
Direção: Billy
Woodberry
O primeiro filme de
Woodberry mais de três décadas após seu longa de estreia Bless Their Little
Hearts trata da vida do poeta norte-americano Bob Kaufman (1925-1986), que
participou e influenciou o meio artístico de São Francisco e Nova Iorque dos
poetas da geração Beat, como Amiri Baraka, Allen Ginsberg e Jack Hirschman. De
origem negra e judaica, Kaufman foi perseguido durante toda sua vida por
questões raciais e políticas, que datam de sua juventude, quando foi marinheiro
e sindicalista, e deteve um papel de liderança no Sindicato Nacional dos
Trabalhadores Marítimos dos Estados Unidos. Anos depois, após uma de suas
inúmeras prisões injustificáveis, internado em um sanatório onde passou por
tratamento de choque, Kaufman fez um voto de silêncio que durou mais de uma
década.
O poeta marginal
reagiu à repressão de sua época ao explorar as dimensões místicas da vida,
situadas muitas vezes nas celas de prisões, em crônicas épicas que fundem prosa
e poema e detêm um humor ácido das ruas. O filme de Woodberry mergulha na vida
de Kaufman através de leituras de seus poemas gravadas na época, fotografias,
registros policiais e entrevistas com amigos, parentes, editores e teóricos. O
cineasta, assim como alguns dos entrevistados no filme, resgata a história de
um artista que foi propositalmente esquecido em grande parte pela dificuldade
de enquadrá-lo. Exibição em DCP.
Eadweard Muybridge,
zoopraxógrafo
Eadweard Muybridge,
Zoopraxographer
59 minutos, 1975, EUA
Direção: Thom
Andersen
Primeiro
longa-metragem de Andersen, realizado durante seu curso de mestrado na
Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), o filme faz uma análise dos
estudos sobre o movimento, principal projeto do fotógrafo Eadweard Muybridge
(1830-1904). Nascido na Inglaterra, Muybridge migrou para os Estados Unidos em
1850, onde viveu até uma década antes de sua morte. Em 1880, recebeu amplo
apoio da Universidade da Pensilvânia para desenvolver esses estudos, compostos
por mais de 100.000 imagens fotográficas de animais e humanos executando
diferentes atividades esportivas e cotidianas.
Andersen mostra a
abrangente variedade de tipos físicos fotografados por Muybridge, e animados no
filme, como homens e mulheres atléticos, gordos, deficientes físicos e mentais,
em ações simples e corriqueiras, descrevendo o olhar objetivo e não hierárquico
do fotógrafo. O filme expõe o papel inovador de Muybridge tanto sob o aspecto
tecnológico como sociológico, mostrando o caráter progressista de suas imagens
que expunham homens e mulheres despidos em cenas de afeto em um período ainda
muito conservador, no qual a deformidade física era chocante e a nudez era
considerada obscena.
Eadweard Muybridge,
zoopraxógrafo foi restaurado em 2013 por Ross Lipman no UCLA Film &
Television Archive. Exibição em DCP.
Get Out of the Car
34 minutos, 2010, EUA
Direção: Thom
Andersen
Get Out of the Car é
um contraponto cinematográfico de Los Angeles por ela mesma. O filme, homônimo
de uma música de Richard Berry, é um registro de uma cidade em transformação.
Outdoors desgastados, monumentos invisíveis, letreiros de comércios populares e
grafites religiosos indicam a variedade cultural de Los Angeles. As imagens são
acompanhadas por músicas radiofônicas que refletem os locais e por comentários
entre Andersen e os passantes sobre o futuro dos objetos retratados, da cidade,
do filme e do próprio cineasta. Exibição em DCP.
Hollywood Vermelha
Red Hollywood
114 minutos,
1996/2013, EUA
Direção: Thom
Andersen e Noël Burch
O filme nasceu de um
artigo controverso escrito por Andersen em 1985, onde ele defende que os
artistas incluídos na Lista Negra hollywoodiana, surgida na década de 1940,
eram relevantes e dignos de pesquisa. Em 1994, em parceria com o cineasta e
teorista Noël Burch, publicou um livro de língua francesa chamado Les
Communistes de Hollywood: Autre chose que des martyrs, e logo depois lançou
Hollywood Vermelha. O filme utiliza cenas instigantes de filmes da época para
retratar como muitos dos artistas foram condenados por defender opiniões
socialmente progressistas.
Entre as obras
destacadas estão Mulher marcada (1937), de Lloyd Bacon e Michael Curtiz, A força
do mal (1948), de Abraham Polonsky, Justiça injusta (1950), de Cy Endfield,
Johnny Guitar (1954), de Nicholas Ray e O sal da Terra (1954), de Herbert J.
Biberman, as quais são intercaladas por entrevistas com os quatro roteiristas e
diretores remanescentes da época: Polonsky, Paul Jarrico, Ring Lardner Jr. e
Alfred Levitt. Ao discutir a Lista Negra, o filme também aborda a postura
isolacionista dos Estados Unidos na Guerra Civil Espanhola, na Segunda Guerra
Mundial, na Guerra Fria, entre outras.
Em 2013, Andersen fez
uma versão remasterizada do filme para substituir as cenas tiradas de fitas VHS
por DVD e Blu-ray. Algumas cenas foram reeditadas e o filme reduzido em quatro
minutos, sem alterar o roteiro. Exibição em DCP.
(I) FRAME
11 minutos, 2016, EUA
Direção: Andrew Kim e
Karissa Hahn
Inspirados pelo filme
de Andersen sobre Eadweard Muybridge, Kim e Hahn (ambos ex-estudantes de
Andersen no CalArts) trabalharam juntos nesse estudo sobre imagens de robôs em
movimento, gravadas na DARPA Robotics Challenge na Califórnia em 2015. Sobre o
filme, os realizadores escreveram: “Um vídeo é um fluxo de informações cuja
imagem em movimento se baseia na relação entre imagens fixas que são
determinadas algoritmicamente. (I) frames, na linguagem de compressão de vídeo,
se refere aos pontos entre os quais o movimento é interpolado. A interferência
no posicionamento ou exclusão desses (I) frames resulta em falhas chamadas
datamosh... o fluxo de nformação romp do, d sorgan zado ... nterromp do ...
perd do.... o () frame remov do, reje tado... PORÉM, recuperado, o (I) frame,
os parafusos eletrificados da máquina, são de uma única vez, reafirmados nessa
dança macabra... (I) FRAME é um balé mecânico acionado no ritmo original que
caracteriza o movimento na tela de 24 (I) frames por segundo...” Estreia
brasileira. Exibição em arquivo de alta resolução.
Juke – Passagens dos
filmes de Spencer Williams
Juke – Passages from the Films of Spencer Williams
30 minutos, 2015, EUA
Direção: Thom
Andersen
Comissionado pelo
Departamento de Cinema do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) para
acompanhar a mostra de filmes sobre a grande migração negra americana durante a
primeira metade do século XX, Andersen explorou um tema que há muito tempo lhe
interessava - a obra do cineasta e ator negro americano Spencer Williams
(1893-1969). Entre 1941 e 1947 Williams realizou nove filmes (atuando em oito
deles) dos quais seis sobreviveram. Eram classificados como “filmes de raça” -
feitos por e para negros - e foram criticados durante anos pela aparência
amadorística. Andersen compila cenas desses seis filmes - entre seus mais
conhecidos O sangue de Jesus (1941) e Desce, Morte! (1944) – mostrando a
habilidade do cineasta em retratar a comunidade negra, sua religiosidade e
moral, em registros tocantes sobre a cultura e época de um país. Exibição em
DCP.
Koh
2 minutos, 2010,
EUA/Tailândia
Direção: Adam R.
Levine
Levine filmou em
preto e branco, em uma ilha no golfo da Tailândia e posteriormente processou o
filme a mão. Sucinto como um haicai, Koh mostra o amanhecer, o mar e pescadores
em um pequeno barco. O próprio Levine gerou uma versão digital em alta
resolução do filme para esta mostra. Exibição em DCP.
Los Angeles por ela
mesma
Los Angeles Plays
Itself
170 minutos,
2003/2013, EUA
Direção: Thom Andersen
Os excluídos de
Hollywood persistem como tema diagonal de Andersen, que desta vez investiga a
construção mitológica do cinema hollywoodiano sobre a cidade de Los Angeles. O
mito e a cidade são contrapostos por cenas de filmes hollywoodianos e imagens
filmadas por Andersen em 16 mm para ilustrar o impacto local da indústria
cinematográfica e seu desprezo sobre a cidade que a abriga. Com uma narração de
tom amargo e pessoal, o filme se estrutura a partir de temas que descrevem a
construção do mito. A arquitetura modernista odiada por Hollywood serve de
residência para variados tipos de malfeitores, como a Lovell House, de Richard
Neutra, que abriga o cafetão de Los Angeles – Cidade Proibida (1997) e a Garcia
House, de John Lautner, sede de uma facção criminosa, que Mel Gibson demole
como se estivesse guinchando um carro em Máquina mortífera 2 (1989). O
planejamento urbano que privilegiou indiscriminadamente a indústria
automobilística e praticamente inviabilizou o transporte público é abordado com
certa nostalgia em Uma cilada para Roger Rabbit (1988) e de forma visionária em
Juventude transviada (1955).
Protagonistas que
representam autoridades impotentes frente à decadência e criminalidade
epidêmica delineiam os residentes da cidade do pecado, como Jake Gittes (Jack
Nicholson), em Chinatown (1974) e Rick Deckard (Harrison Ford), em Blade Runner
- o caçador de andróides (1982). Em contraponto ao mito, Andersen também
apresenta filmes daqueles que retrataram as reais dificuldades da cidade e de
seus moradores mais desprezados, por um sistema social que muitas vezes se
confunde com a indústria. Entre eles, Uma mulher sob influência (1974), L.A.
Plays Itself (1972) e o movimento neorrealista americano do qual fizeram parte
filmes independentes, como Bless Their Little Hearts (1983), Os exilados (1961)
e O matador de ovelhas (1977). O filme de Andersen foi remasterizado em 2013.
Exibição em DCP.
Marseille Après La
Guerre
11 minutos, 2015,
EUA/Portugal
Direção: Billy
Woodberry
O filme mais recente
de Woodberry nasceu durante uma pesquisa sobre o Sindicato Nacional dos
Trabalhadores Marítimos dos Estados Unidos, ao encontrar nos arquivos do
sindicato uma caixa com fotografias tiradas entre 1940-50, das docas de
Marseille. As fotos remeteram Woodberry à vida do escritor e cineasta senegalês
Ousmane Sembène (1923-2007), cujo trabalho como estivador e metalúrgico na
França e sua participação nos movimentos sindicalistas da época inspiraram seu
primeiro romance, Le docker noir (1956). A lembrança do livro, que descreve o
preconceito racial vivido por africanos na França, contagia a fotomontagem do
filme, cujas imagens mostram solidariedade entre trabalhadores de origens
diferentes. Exibição em DCP.
O pavão
The Peacock
13 minutos, 2015, EUA
Direção: Andrew Kim
O movimento e a luz
são objetos de estudo na obra de Kim, cujos filmes auto-reflexivos remetem ao
próprio material. O pavão explora a virtude química de película ao descrever a
luz e sua gama de cores, através de imagens de uma taxidermista (Alis Markham)
trabalhando em uma nova recriação. Kim descreve O pavão como “uma meditação
sobre nossa fantástica condição de impermanência e mortalidade…‘A pintura do
pavão na janela jamais irá dançar e falar. Apenas o pavão que morava na floresta
podia falar, dançar e andar de maneira adorável.’” Estreia brasileira. Exibição
em DCP.
Olivia’s Place
6 minutos, 1966/74,
EUA
Direção: Thom
Andersen
Filmado em 1966 e
editado oito anos depois, Olivia’s Place tornou-se um manifesto. Andersen e seu
cinegrafista John Moore comentam: “Em 1970 ou 1971, Bill Norton filmou ali uma
cena de Cisco Pike (1972). O restaurante Olivia’s Place também inspirou a
música Soul Kitchen do The Doors. Foi demolido em 1972 ou 1973 como parte de um
projeto de revitalização urbana que transformou o centro de Santa Mônica em um
boulevard de lojas e restaurantes caros, incluindo os restaurantes de Wolfgang
Puck e Arnold Schwarzenegger.” Exibição em DCP.
Os pensamentos que outrora tivemos
The Thoughts That Once We Had
105 minutos, 2015,
EUA
Direção: Thom
Andersen
Inspirado nas aulas
que ministrava na CalArts sobre a relação do filósofo francês Gilles Deleuze
com o cinema, Andersen conta “uma história pessoal do cinema” - como diz o
próprio intertítulo de abertura - a partir de filmes que Deleuze aborda nos
livros A Imagem-Movimento (1983) e A Imagem-Tempo (1985), e de outros filmes
que ilustram os conceitos neles descritos. Os pensamentos que outrora tivemos é
conduzido por intertextos que aparecem entre cenas dos filmes, compostos por
três vozes distintas: citações dos livros de Deleuze, citações de outros
artistas e teóricos como Walter Benjamin e Jack Smith, e comentários do próprio
cineasta.
O filme começa com a
descoberta da dramaticidade da expressão facial por D.W. Griffith,
caracterizada por Deleuze como a “imagem-afecção”, conceito que Andersen
estende para incluir os cineastas Jean-Luc Godard, John Cassavetes e Pedro
Costa, e suas respectivas musas Anna Karina, Gena Rowlands e Vanda Duarte. E
segue mostrando ciclos de destruição e restauração que espelham a história
recente da humanidade. Registros de guerras com diferentes níveis de
distanciamento, como Korea: The Unknown War (1988), Hiroshima meu amor (1959) e
The 17th Parallel (1968), passam a ideia de um mundo em transformação. “Uma
pequena diferença na ação leva a uma grande diferença entre duas situações” é
uma afirmação de Deleuze ilustrada pelo documentário Twist (1992), que conta
como a música de Hank Ballard foi roubada pelo produtor Dick Clark e
reproduzida como uma cópia fiel, lançada na voz de Chubby Checker. Flor seca
(1964), O testamento do Dr. Mabuse (1933) e Guerrilla: The Taking of Patty
Hearst (2004) representam um império do crime, enquanto a reconciliação dá-se
através do ato de ouvir a música blues em O porto (2011) e Ghost World –
Aprendendo a viver (2001). Exibição em DCP.
Reconversão
69 minutos, 2012,
Portugal/EUA
Direção: Thom
Andersen
Comissionado pelo
festival Curtas Vila do Conde, onde Get Out of the Car ganhou o prêmio de
Melhor Documentário em 2011. O filme explora 17 projetos do renomado arquiteto
português Eduardo Souto de Moura, nascido na cidade de Porto, em 1952. Logo no
início do filme o narrador cita o arquiteto: “a ruína deixa de ser arquitetura
e passa a ser natureza”, enquanto observamos seu primeiro e inacabado projeto
chamado “Reconversão de uma Ruína.” Souto de Moura especializou-se na conversão
de ruínas em edifícios modernistas habitáveis, utilizando o próprio material do
local.
Entre os projetos
apresentados estão uma casa residencial em Porto Manso, Baião, os centros
culturais Casa das Artes em Porto e Mercado Cultural do Carandá em Braga, um
projeto para viaduto em Lisboa, o Estádio Municipal de Braga e a rede
metroviária de Porto. Andersen ilustra as ideias do arquiteto através de
sequências fotográficas em time-lapse das construções, criando um movimento
intermitente que reflete o contraste entre o antigo e o novo. As imagens são
acompanhadas por um sutil som ambiente e por uma narração que reúne frases
extraídas de textos de Souto de Moura e comentários de Andersen, criando um
diálogo entre dois artistas. Exibição em DCP.
Um trem chega à
estação
A Train Arrives at
the Station
16 minutos, 2016, EUA
Direção: Thom
Andersen
Andersen escreveu
sobre seu filme mais recente: “Ele surgiu do trabalho de Os pensamentos que
outrora tivemos. Havia uma cena em particular que tivemos que cortar, cuja
perda eu lamentei. Era uma cena de um trem chegando na estação de Tóquio de O
filho único (1936), de Yasujiro Ozu. Decidi fazer um filme em torno dela, uma
antologia de chegadas de trem. Ele contém 26 planos e cenas de filmes entre
1904 e 2015. Ele possui uma estrutura serial simples: cada sequência em preto e
branco na primeira metade rima com uma sequência colorida na segunda metade. Desta
forma, o primeiro e último planos mostram trens chegando em estações no Japão
vistos de baixo para cima. No primeiro plano (O filho único), o trem se desloca
para a direita; no último plano ele se desloca para a esquerda. Um trem bala
substituiu a locomotiva a vapor. Depois de todos estes anos, eu fiz outro filme
estrutural, apesar desta não ser minha intenção original.” Exibição em DCP.
Biografias dos
curadores da mostra:
Aaron Cutler:
Crítico e programador
de cinema, vive e trabalha em São Paulo. Mestre em Escrita Criativa pela
Columbia University (Nova Iorque, E.U.A). Realizou a curadoria das mostras Cine
sin limites: Claudio Caldini, Jorge Honik e Narcisa Hirsch, em maio de 2017 no
Centro Cultural São Paulo; Hollywood e além: O cinema investigativo de Thom
Andersen em 2016 e Arquitetura como autobiografia: Filmes de Heinz Emigholz em
2015, ambas no Centro Cultural São Paulo e Instituto Moreira Salles - Rio de
Janeiro. Participou do corpo curatorial do festival Olhar de Cinema (2017),
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (2012-2014). Seus textos críticos
já foram publicados nas revistas internacionais Cineaste, Cinema Scope, Film
Comment, Sight & Sound, The Village Voice, entre outras.
Mariana Shellard:
Artista plástica, vive e
trabalha em São Paulo. Mestre em Poéticas Visuais pela Universidade de Campinas
com bolsa FAPESP. Realizou a curadoria e produção da mostra Cine sin limites:
Claudio Caldini, Jorge Honik e Narcisa Hirsch, em maio de 2017 no Centro
Cultural São Paulo; curadoria e produção executiva da mostra Hollywood e além:
O cinema investigativo de Thom Andersen em 2016 e curadoria da mostra
Arquitetura como autobiografia: Filmes de Heinz Emigholz em 2015, ambas no
Centro Cultural São Paulo e Instituto Moreira Salles - RJ.
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