Sinopse: Ela conseguiu salvar do incêndio uma pilha de fotografias e um diário com frases escritas à mão. Estas palavras e rostos são os únicos rastros deixados pelo homem que ela um dia conheceu e amou. Cruzando montanhas e estradas, ela tenta refazer os passos dele. Os lugares que ela visita carregam pessoas, gestos, lembranças e histórias que, pouco a pouco, se tornam parte de sua vida.
Três anos depois de ser premiado no Festival de Brasília, finalmente chega na capital gaúcha o imprevisivel Exilados do vulcão, primeiro longa de Paula Gaitán, que no passado criava ensaios documentais Diário de Sintra (em torno dos últimos anos de Glauber Rocha), Vida (sobre a atriz Maria Gladys) e Agreste (sobre Marcélia Cartaxo).
Há algo de diferente no ar em Exilados do vulcão, uma qualidade cinematografica incomum se anuncia em suas primeiras imagens em cena: uma longa panorâmica das montanhas de Minas sob uma espessa névoa. É o foco principal de que será feita essa trama, de acordo como ficamos descobrindo pelas palavras em off, ou seja: memória ou mesmo antes da tentativa de renascer a memória.
O ponto de partida, é um incêndio em que se destruiu tudo o que constituía a identidade e a história de um fotógrafo (Vincenzo Amato). Sobraram um diário e uma inumeras fotos. É a partir desses poucos fragimentos que seu amor (Clara Choveaux) se embrenha em uma cruzada para montar a trajetória do desaparecido.
A mulher, se aproximará então de lembranças, lugares e imagens registradas em palavra ou do rosto da pessoa que amou. No longa, a busca faz com que o passado e o presente se fundem em inumeras cenas e criando um verdadeiro mosaico de som e imagem que soltam aos nossos olhos e fazendo com que montemos as inumeras possiblidades sobre o que realmente acontece na tela.
Nesse jogo de quebra cabeça, em que não por acaso são frequentes as referências à mineração, à prospecção, à escavação, a apresentação das cenas se dá de uma forma pessoal, como se todo o trabalho autoral que a cineasta fez no passado se juntasse aqui e formasse algo que pretende acima de tudo nos querer dizer algo. O mundo do qual a protagonista caminha, por vezes, parece um limbo, ou de um lugar que um dia já foi melhor, mas que não esconde a vida que ainda se encontra por lá. Há uma ligação forte da pele do ser humano com o barro, como o fato da possiblidade de termos nascido da terra e termos que então retornar as nossas raizes.
É um filme experimental, autoral, mas acima de tudo um cinema de arte, do qual dificilmente o que é visto na tela poderia ser visto em qualquer outro lugar, seja num teatro ou tão pouco na tv. Luzes e sombras formam um uníco mosaico, cuja a câmera, por vezes tremula propositalmente, remete um cinema amador, mas de qualidade e genialidade. Um belo exemplo é a cena em que a protagonista pega o homem que ela ama (ou assim como é em sua mente) com a sua amante numa sala de revelação de fotos em meio a uma forte luz vermelha.
Transtornada ela se afasta e se adentra em meio as sombras e diminuindo a sua luz até desaparecer por completo nas trevas. Desde já uma das melhores cenas do filme. ´Há em Exilados do Vulcão uma atmosfera poética, da qual poesias em off se casam com perfeição com as cenas e fazendo delas algo ainda mais precisoso para ser pensado e sentido.
Como em suas obras anteriores, a cineasta Paula Gaitán parece obsecada com relação ao tempo e espaço entre os obejtos e a imagem dos objetos em si. Sobre um horizonte recortado de montanhas, a mulher estende uma fotografia do mesmo local. Diante do pedaço de afresco (Piero della Francesca) numa parede em ruínas, um jovem casal reproduz com seus gestos a cena pintada.
Claro que o cinéfilo mais atento irá sentir e enxergar de cara que há referencias ao já clássico Arvore da Vida, mas Exilados do Vulcão possui uma identidade própia e uma forma de fazer com que saiamos do cinema e termos a absoluta certeza que assistimos um filme fora dos padrões normais do cinema convencional.
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