Alguns filmes ficam marcados por tragédias
durante ou após a produção. Um dos casos
mais conhecidos, por exemplo, foi quando Brandon Lee morreu acidentalmente no
filme que o consagraria em O Corvo. No caso de Demon a tragédia foi ainda mais
explicita, pois o cineasta polonês
Marcin Wrona estreara seu filme no Festival de Toronto de 2015 e estava no
Gdynia Film Festival, onde se preparava para a première polonesa de sua obra,
quando cometeu o suicídio por enforcamento.
Wrona tinha apenas 42 anos e já era considerado
um dos melhores representantes da nova geração do cinema polonês. Seu filme
anterior, O Batismo (2010) possuía uma história de máfia com estilo autoral,
com um suspense psicológico e violência. Em Demon, ele se aproxima do terror,
e devido a sua precoce morte, o filme possui uma aura sombria, onde mais parece
uma carta de despedida, onde se explora a lenda do Dybbuk, a crença judaica no
espírito que se apossa do corpo dos vivos.
No filme,
os noivos Piotr (Itay Tiran) e Zaneta (Agnieszka zulewska)
recebem de presente de casamento uma casa antiga da família dela, mas que a
mesma exige umas melhorias. Durante uma escavação do solo no terreno do jardim,
o noivo descobre ossos humanos. Estranhas manifestações começam a perturbar
Piotr, que tem visões de uma mulher com roupas antigas. O noivo estando possuído
começa a transformar a festa de casamento em inúmeras situações inesperadas,
onde o cineasta consegue a proeza de unir momentos de humor e suspense na
medida certa.
A bela fotografia em tons pastel e a trilha
sonora de Krzysztof Penderecki, sendo ninguém menos do que o responsável pelas trilhas
dos clássicos O Exorcista (1973) e O Iluminado (1980), criam então
uma belíssima união onde gera um clima
de mistérios, onde o principal
foco é o doloroso passado dos judeus
poloneses. Quem for assistir ao filme esperando o mais puro terror
sanguinolento não se assuste, pois o próprio cineasta já havia deixado claro em
outras ocasiões que suas intenções para esse filme não era para as pessoas
pularem das cadeiras, mesmo que alguns momentos chaves da trama possuam situações
que possam gerar tais feitos.
“O Dybbuk
é uma alma que retorna não para assustar, mas sim para nos lembrar do respeito
pela tradição”, afirmou. “Eu não queria de forma alguma que o filme fosse
sobre o Holocausto. Queria tocar o aspecto místico da vida judaica-polonesa.”
Com isso, o filme é uma declaração de amor para
um passado que não volta mais, e que cada vez é mais esquecido, unicamente pelo
fato das novas gerações destruírem gradualmente o seu rico passado. Essa Crítica
justa que o cineasta faz me fez lembrar o filme russo Leviatã, de Andrey
Zvyagintsev, cuja sua proposta coincide com esse filme e até mesmo os minutos
finais de ambos os filmes possuem algo de muito semelhante. O final pessimista da
obra deixa mais perguntas do que respostas e fazendo com que a gente se pergunte
até mesmo sobre a real origem sobre aquela imprevisível festa de casamento.
Demon é um exemplo de filme de terror de qualidade, do qual não é preciso haver litros de sangue para ser bom, mas sim possuir uma ótima proposta nas entrelinhas e sair da sessão com debate na língua.
Demon é um exemplo de filme de terror de qualidade, do qual não é preciso haver litros de sangue para ser bom, mas sim possuir uma ótima proposta nas entrelinhas e sair da sessão com debate na língua.
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