Sinopse: Ao voltar a
trabalhar em um hospital psiquiátrico no subúrbio do Rio de Janeiro, após sair
da prisão, a doutora Nise da Silveira (Gloria Pires) propõe uma nova forma de
tratamento aos pacientes que sofrem da esquizofrenia, eliminando o eletrochoque
e lobotomia. Seus colegas de trabalho discordam do seu meio de tratamento e a
isolam, restando a ela assumir o abandonado Setor de Terapia Ocupacional, onde
dá início a uma nova forma de lidar com os pacientes, através do amor e da
arte.
O filme Julio Sumiu foi
apenas um passo em falso na carreira de Roberto Berliner, sendo que ele já
havia criado bons trabalhos na área de documentários como A Pessoa É para o que
Nasce, Herbert de Perto e A Farra do Circo. Ao dirigir Nise: O coração da
loucura, ele trás um pouco do ar de documentário, através de uma câmera meio
tremula na mão, para se criar uma sensação de maior veracidade sobre a saga da
Dra. Nise da Silveira, psiquiatra que teve a ousadia e coragem para tratar os
pacientes (clientes na visão pessoal dela) que viviam jogados num hospício na década
de 40 e resolve então tratá-los de uma forma digna. Embora seja um drama não
espere por algo piegas, pois embora melodramático, o filme é cheio de inúmeros momentos,
dos quais a pessoa não desprende em nenhum momento da cadeira e fica até mesmo
corroendo as unhas de aflição sobre o que pode acontecer a seguir.
Roberto Berliner
demonstra total sensibilidade ao dirigir os atores, principalmente para eles se
sentirem a vontade e nos apresentar gradualmente cada um desses personagens
que, na maioria deles, eram desconhecidos para o público em geral. O filme é
uma bela oportunidade de conhecer Nise da Silveira (1905 – 1999) mulher a frente
do seu tempo e que não se intimidou com o machismo ou com a medicina atrasada
da época. Demonstrando ser tolerante, mas ao mesmo tempo criativa com os seus clientes,
ela teve a proeza de encaminhar as pinturas deles, que foram criadas durante as
sessões de terapia, em museus para que as pessoas apreciassem as obras.
Devido a sua forma
incomum de cuidar dessas pessoas, ela chegou a trocar cartas com Carl Jung, numa
época em que o eletrochoques e outros métodos, dos quais são proibidos atualmente,
eram considerados erroneamente como técnicas revolucionarias para as doentes
mentais.
Um trabalho como esse
ser transportado para as telas não é dos mais fáceis, principalmente pelo fato que
requer verossimilhança, ao passar uma realidade dura e crua, mas ao mesmo tempo
com uma chama de esperança no final do túnel. Tendo se entregado ao papel
literalmente, Gloria Pires nos brinda com o melhor papel cinematográfico dela
dos últimos tempos, sendo algo que não se via desde quando ela atuou em É
Proibido Fumar. Em cena, Gloria transmite toda a virtude, boa vontade e coragem
que a verdadeira Nise tinha e por alguns momentos se esquecemos que estamos assistindo,
não uma atriz, mas sim a personagem histórica.
Como eu disse acima,
o filme faz com que a gente fique com tensão em alguns momentos. Em um desses
momentos, por exemplo, a Dra. Nise se apresenta aos seus clientes e pede para que
eles se sentem para começar a conversa. É nesse momento em que a câmera rodopia
e faz com que pareça que o local saiu do controle, mas que gradualmente as
coisas vão sendo controladas, graças à paciência da médica.
A direção de arte da
obra é algo que também merece atenção, mesmo sendo ela discreta em alguns
momentos. De um ambiente desolador e opressivo, o lugar vai ganhando cores cada
vez mais quentes, isso graças aos raios de sol, que gradualmente vão invadindo
o cenário e dando mais vida para aquele lugar antes semi morto. Isso causa
mudanças, até mesmo para um dos enfermeiros, que de intolerante, passa agir de
uma forma mais meiga com os clientes.
Curiosamente, quando
o filme foi exibido no Festival do Rio no ano passado, Nise: O Coração da
Loucura teve em sua platéia ex-pacientes da verdadeira Nise, que se
emocionaram com suas representações na tela. O filme acabou sendo aplaudido e obtendo
o prêmio do público do festival. A trama de Nise
também nos permite fazer uma reflexão sobre os tipos de tratamento que os
pacientes eram submetidos naquele tempo e fazendo uma comparação com os
tratamentos de hoje.
Embora tenhamos evoluído com relação aos avanços da medicina,
é triste constatar que hoje em dia essas pessoas que sofrem com problemas mentais
ainda sofram com preconceito, sendo que, o melhor remédio, seja prestar atenção
neles e ouvi-los o que eles têm a dizer. Em tempos de crise política, onde a
intolerância e a falta de informação sobre diversos assuntos se encontram em
pauta, Nise: O Coração da Loucura faz com que o cinéfilo saia do cinema com a fé
renovada e com esperança de um futuro melhor.
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