No mais novo filme dessa “nova onda do cinema
Pernambucano”, ele se apresenta como uma forma alegórica de falar sobre as
mudanças estruturais e sociais pelas quais passa o Recife, questões estas
impregnantes dos mais diversos trabalhos daquele Estado, desde o histerismo de
Um Lugar ao Sol (Gabriel Mascaro) à percepção irônica de conjunto de O Som ao
Redor (Kleber Mendonça Filho). É uma geração de realizadores abertamente
reflexiva dos rumos da cidade e que tenta, dentro de suas específicas opções de
dramaturgia e encenação, dar conta dos acontecimentos que fazem parte da
realidade por onde circulam. Amor, Plástico e Barulho se impregna de dois
elementos essenciais: essa percepção das modificações estruturais do espaço e o
imaginário do tecnobrega nas ações íntimas e pessoais de um grupo de
personagens afetados pelo impacto dos novos tempos.Eis que a trajetórias
dissonantes de Jaqueline e Shelly refletem os dois aspectos, fazendo delas os
receptáculos afetivos de um mundo em constante modificação. Amor, Plástico e
Barulho leva para a encenação o tecnobrega como elemento estético, fazendo de
determinados momentos do filme autênticos mergulhos delirantes num universo
regido por música, dança e letras românticas pop, num procedimento apenas visto
anteriormente no cinema brasileiro com tamanho vigor em Falsa Loura (2007), de
Carlos Reichenbach.
O que havia, porém, de organicidade na apresentação da
trajetória de Silmara no filme de Reichenbach (o que reforçava o impacto
atordoante de seus segundos finais) está ausente do filme de Renata Pinheiro,
no que ele se difere devido à escolha formal por narrar os (des)caminhos de
Jaqueline e Shelly em blocos de situações nem sempre coesos o suficiente para
nos aproximar o suficiente dos sentimentos em questão. Trata-se de evidente
postura estética: como uma música (brega) de vários tons, Amor, Plástico e
Barulho navega numa montanha-russa de possibilidades que ora têm muita força
(Jaqueline chorosa e solitária cantando no palco, os interstícios amorosos de
Shelly, a dança final no ônibus), ora murcham por uma aparente indefinição de
como manter atraente a escolha formal dos blocos.
O filme se equilibra e se
desequilibra em igual proporção, no que, de alguma maneira hipnótica, mantém um
encanto sempre presente, devido especialmente às presenças magnéticas das duas
atrizes - cujos corpos e olhares (abrindo mão das palavras) são, de fato, os
verdadeiros propulsores narrativos e emocionais do filme - e à impregnação, triste
ou esperançosa, dos pensamentos das personagens (em especial de Shelly). Um
filme sobre pessoas numa cidade em (re)construção e também sobre a reconstrução
de pessoas nessa cidade que, sob certo aspecto, está sendo destruída nas suas
origens. Amor, Plástico e Barulho, tropeçando com categoria num ponto ou outro,
compreende o quanto de cruel existe nesse processo aparentemente sem retorno. A
alegria do sucesso (efêmero por natureza) explode numa dança cafona imaginária
para, logo em seguida, precisar ser colocada à prova no grito resignado exigido
pelo mundo real.
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