Sinopse: José Renato
(Irandhir Santos) tem 35 anos, é geólogo e foi enviado para realizar uma
pesquisa, onde terá que atravessar todo o sertão nordestino. Sua missão é
avaliar o possível percurso de um canal que será feito, desviando as águas do
único rio caudaloso da região. À medida que a viagem ocorre ele percebe que
possui muitas coisas em comum com os lugares por onde passa. Desde o vazio à
sensação de abandono, até o isolamento, o que torna a viagem cada vez mais
difícil.
Nas mãos de Karim
Ainouz e Marcelo Gomes, o conhecido gênero road movie, que dele nasceram obras
como Sem Destino, é reinventado por um
protagonista nunca visto, mas que fica narrando sempre a sua cruzada de auto
descobrimento. O filme levou uma década para ser finalizado, sendo que as
imagens começaram a ser criadas antes mesmo da criação dos filmes de cada um dos
cineastas (de Karim e Marcelo). Reunidas numa caixa cheia de imagens captadas,
elas foram montadas e remontadas inúmeras vezes, mas que aos poucos foi
nascendo algo completamente diferente do que se previa anteriormente.
Numa verdadeira experiência
de montagem e roteiro, Karen Harley fez um trabalho de gênio na montagem,
reunindo na época registros em super-8, 16 mm e digital numa concisão narrativa
que emociona embalada pela trilha sonora de Chambaril e a voz do personagem
principal que, apesar de nunca ser visto, está presente o tempo todo. Ao final
da trama, o objetivo da viagem é sobrepujado pela força da travessia. Travessia
apresentada em exuberantes e delicadas imagens captadas em diferentes suportes,
sendo que um deles imprimindo defeitos nas paisagens, que foram
propositadamente mantidas assim na montagem e que fazem um percurso que vai dos
feixes de rocha do semi-árido nordestino até o ser humano que habita essa
geografia.
Se fossemos resumir a
obra, seria uma espécie de retrato da reação do homem perante a rejeição de um
amor. A vontade de botar o pé na estrada, viajar sem rumo certo, a mentira pra
si mesmo de que tudo está bem, a aceitação do "pé na bunda", o sexo
que não pode parar na figura de diferentes parceiras, a bebida, a música de
amor. Tudo isso sem excluir a lágrima, ou, como diria o poeta, "os sócios
vis do amor: rancor, dor, ódio, solidão" (Antonio Cícero).
O homem sai pelas
estradas do Ceará. Sua voz narra à situação em que vive, sem que sua imagem
apareça. Antes, ela se reflete no cenário vazio, árido e sofrido do sertão
brasileiro: seca, fome e abandono. O filme se inicia com supostas cartas
escritas à amante, como se dele ela ainda fosse. Mente então em uma delas, com
a frase que dá título ao filme.Termina concluindo:
"Viajo porque preciso,
não volto porque ainda te amo."
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