Nascemos sozinhos e morreremos
sozinhos. Viver então sozinho não deveria ser um desafio, mas um mero detalhe.
Sinopse: A Dra. Ryan Stone
médica e engenheira espacial está em sua primeira missão fora da Terra ao lado
do astronauta Matt Kowalsky na última missão de sua carreira. Durante uma
caminhada em torno de seu ônibus espacial eles são atacados por uma chuva de
meteoros que os deixa sem contato com a base na Terra e à deriva no espaço.
Eles precisam agora trabalhar juntos para tentar sobreviver.
Ao longo da minha vida
sempre conheci pessoas que não gostam da solidão, por simplesmente temerem ou
não suportarem ela, tanto que a idéia de dormirem sozinhos em uma casa no escuro
acaba se tornando um verdadeiro filme de terror. Necessitamos do próximo, mas
acredito que até certo ponto, pois ele está ali para lhe dar conforto, mas
quando surge a necessidade de darmos conta do recado, tudo que ele pode fazer é
nos dar apenas um empurrão e o resto é por nossa conta. Isso tudo me veio à
mente ao assistir o impressionante Gravidade, em que o cineasta mexicano Alfonso
Cuarón, em apenas uma hora e meia de filme, cria uma metáfora sobre nós perante
o medo da solidão e nada mais terrível do que estar sozinho no espaço infinito.
Quando se esta lá em cima,
você é apenas um fragmento, ou uma mera célula perante o espaço, mesmo estando
perto da mãe terra, mas testemunhando o quão somos frágeis perto do nosso
maravilhoso azul. Sabendo disso, Cuarón já no inicio do filme, nos presenteia
com uma das mais deslumbrantes imagens da terra jamais vistas no cinema, nos
fazendo ter a mesma sensação que os astronautas (Sandra Bullock e George
Clooney) estão tendo, quando precisam fora da espaçonave concertar certo
aparelho. O teste de fogo perante a maravilha do desconhecido acontece quando fragmentos
de outra espaçonave os atingem em cheio e fazendo que ambos se percam no nada.
Isso tudo acontece nos
primeiros vinte minutos de projeção, que para o nosso espanto, não há cortes em
nenhum momento nesse meio tempo. Para aqueles que já assistiram ao ultimo filme
do diretor (Filhos da Esperança), já esperavam por algo parecido, mas ninguém imaginava
o quão longe ele chegaria, fazendo junto com sua câmera algo mágico e poucas
vezes testemunhado na tela grande. Como se já não bastasse, por vezes a câmera
de Cuarón se torna os olhos da personagem de Bullock, captando o que ela está
vendo e nos fazendo ter a sensação de verdadeira montanha russa do que ela esta
passando no espaço.
A intenção do cineasta, ao
lado do seu filho roteirista Jonas esta mais do que clara: fazer com que o espectador
sinta as mesmas sensações que a personagem está sentido durante a projeção.
Para que isso aconteça, acontece aqui, o que talvez seja o melhor casamento da técnica
cinematográfica com o bom desempenho dos atores que é algo que não se via a um
bom tempo. Fora a mágica que o diretor cria com a câmera já citada,
testemunhamos aqui o bom uso do 3D, que para o espanto de todos é o famigerado
convertido, mas que não deve nada ao formato de um filme que foi criado dessa
forma do começo ao fim. O segredo dessa façanha está no fato de Cuarón ter
pensando em cada cena que estava filmando, em como ela ser comportaria em 3D e nos
apresentando então, uma verdadeira aula de como se faz com bom uso dessa
ferramenta e ensinando para aqueles cineastas que converteram os seus filmes,
mas falharam erroneamente.
Se a técnica não falha, o
mesmo pode-se dizer também pelo ótimo desempenho de Sandra Bullock, ao
interpretar uma cientista que guarda uma dor vinda do seu passado e que se
sente fora do seu mundo, ao adentrar e se perder no espaço infinito. É fácil nos
identificarmos com ela, mesmo ela passando por algo que poucos de nos passou um
dia, mas o medo de morrer sozinha em meio ao nada é algo que com certeza a maioria
de nos ninguém quer passar e, portanto torcemos por ela a cada momento, mesmo
quando da à impressão que ela esta pronta para desistir de tudo. O seu passado
pessoal o assombra, fazendo com que ela se sentisse perdida e sozinha muito
antes do acidente espacial.
Com isso, o personagem Matt
Kowalsky (George Clooney) se torna o seu empurrão para continuar em frente, uma
espécie de corrente na qual Ryan não pode se desprender e mesmo ele desaparecendo
no decorrer do filme, o seu personagem acaba se tornando uma força matriz para
ela. A partir disso, vemos o amadurecimento da personagem perante aos obstáculos,
seja com os objetos espaciais que a atingem, seja devido a uma nave que não quer
funcionar quando deveria. Testemunhamos então, o nascimento gradual de uma nova
Ryan, diferente que nos foi apresentada no inicio da trama, pois se aquela não
deixasse de existir, tudo seria então bem pior.
Se fossemos resumir então o
filme como um todo, seria algo como “conhece-te
a ti mesmo”, em que o cenário, que é o espaço infinito, nos remete
imediatamente a 2001: Uma Odisséia no Espaço. Ambos os filmes compartilham
sobre autodescobrimento, seja ele interno ou externo, muito embora ainda não fosse
dessa vez que a obra máxima de Kubrick sobre o espaço foi superada, mas bem que
chegou perto. Falando em referencias, o filme possui inúmeras delas, sendo que
o cinéfilo mais atento percebera homenagens ao já citado 2001 e que vai de Alien
e até mesmo Wall-e.
Gravidade
é, portanto, um filme que merece ser visto e revisto na tela grande, de preferência
no Imax 3D, que lhe dará um espetáculo de som imagem que valerá o seu
investimento na ida do cinema. Um filme que nos remete aos bons tempos em que o
cinema americano fazia grandes espetáculos, mas aliados a um ótimo roteiro e
com emoção humana genuína. Num ano que parecia que seria lembrado como um período
de inúmeros fracassos cinematográficos, Gravidade veio para provar que ainda há
esperança para aqueles que buscam assistir o cinema espetáculo de verdade.
Me Sigam no Facebook e Twitter:
Me Sigam no Facebook e Twitter:
Nenhum comentário:
Postar um comentário