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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quinta-feira, 15 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Shaun, o Carneiro A Fazenda Contra Ataca'

Sinopse: Um alienígena com poderes estranhos cai perto de Mossy Bottom Farm, e Shaun rapidamente faz um novo amigo. Juntos, eles devem fugir de uma organização perigosa que deseja capturar o visitante intergaláctico. 

Aardman Animations é um estúdio que se difere dos grandes conhecidos como no caso da Pixar e Disney. Logicamente, todos falam que a Pixar, por exemplo, cria tramas que consegue atrair o público infantil e adulto ao mesmo tempo e isso é inegável. Porém, Aardman Animations consegue combinar uma trama inocente com elementos do cinema clássico, onde a simplicidade de uma trama pode também atrair até um olhar mais exigente da própria crítica.

Se consagrando após o grande sucesso de "Fuga das Galinhas" (2000), o estúdio sempre esteve por perto em meio aos grandes, sendo que até mesmo surpreendeu em diversas premiações ao longo dos anos. "Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais" (2005), por exemplo, superou as expectativas, abocanhando o Oscar de melhor Longa de Animação e superando o favoritismo da época que era a animação "A Noiva Cadáver" (2005). "Shaun, o Carneiro A Fazenda Contra Ataca" (2020) vem agora para fortalecer novamente o estúdio, atraindo o olhar da crítica e conquistando cinéfilos de todas as idades.

Dirigido por Will Becher e  Richard Phelan, o filme é uma continuação do longa anterior de 2015, onde acompanhamos a jornada do carneiro Shaun, que se junta a um simpático alienígena para ajudá-lo a voltar para o seu planeta. O problema é que uma força super secreta do governo possui outros planos para o visitante.

O principal atrativo dessa animação é que ela não possui quase nenhuma fala, sendo que a história é muito bem compreendida pelas ações dos seus personagens, gestos e fazendo a gente se lembrar dos bons tempos do cinema mudo. Ao mesmo tempo, o filme é um mosaico cheio de detalhes, onde se percebe que foram trabalhados minuciosamente e nos surpreendendo ainda mais pelo fato de ter sido feito em stop motion. Em tempos em que a animação gráfica domina o mercado é sempre interessante ver um estúdio optar pelos velhos recursos.

A trama em si não é nada demais, sendo que ela nos soa familiar em vários momentos, mas isso não tira o brilho do mesmo como um todo. Além disso, o filme é recheado de homenagens aos grandes clássicos do cinema do gênero ficção, cuja as regências vão desde "2001 - Uma Odisseia no Espaço" (1968) para "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" (1977) e "ET" (1982). Se por um lado os pequenos talvez não venham a entender as referências, do outro, os adultos irão degustar destes grandes atrativos.

Logicamente, sempre há aquelas lições de moral sobre amizade, união e sobre as ações de um determinado personagem. Curiosamente, esse mesmo personagem poderia ser tachado facilmente como vilão, mas logo compreendemos as suas motivações através de um flashback e fazendo com que tenhamos noção que de ele não é de todo mal. Um bom exemplo para os pimpolhos e que poderia ser usado com mais frequência para filmes que são vistos por toda a família.

Indicado ao Oscar de melhor Longa de Animação de 2021, "Shaun, o Carneiro A Fazenda Contra Ataca" é o fortalecimento de diversão e criatividade do estúdio  Aardman Animations.  

Onde Assistir: Netflix. 

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quarta-feira, 14 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Wolfwalkers'

Sinopse: Robyn, uma jovem caçadora, vai à Irlanda com seu pai para tentar acabar com o último bando de lobos. Os animais são vistos como demoníacos, verdadeiras encarnações do mal. Logo, os algozes terão outra perspectiva das alcateias.  

Em tempos em que a Pixar/Disney dominam o mercado de animação há sempre aqueles pequenos estúdios que surpreendem pela sua criatividade e pelo bom uso do desenho tradicional. O estúdio Irlandês de animação Cartoon Saloon, por exemplo, tem surpreendido o público e a crítica através de obras como "Uma Viagem ao Mundo das Fábulas" (2009) e A Canção do Oceano (2014). Pois então, a mesma retorna agora com "Wolfwalkers" (2020) uma animação de encher os olhos e com altas doses de lição de moral e companheirismo.

Dirigido por Tomm Moore e Ross Stewart, o filme se passa em uma época de superstição e magia, quando os lobos são vistos como demoníacos e a natureza um mal a ser domado.  Robyn, uma jovem caçadora aprendiz, vai para a Irlanda com seu pai na tentativa de eliminar um último bando. Quando a jovem salva uma garota nativa selvagem, sua amizade a leva a descobrir o mundo dos Wolfwalkers, transformando-a na mesma coisa que seu pai tem a tarefa de destruir.

Antes de tudo, é preciso destacar o primor que é essa animação. Feita de forma tradicional, os desenhos parecem que foram criados para pertencerem as paredes de tempos remotos e cuja as mesmas contam diversas histórias. Com imagens sobrepostas uma na outra, cria-se algo quase tridimensional, ou melhor dizendo, uma sensação de que os desenhos estão saindo da tela, onde cada forma se alinha uma com a outra e criando assim uma simetria fantástica.

Essa perfeição também se casa de forma perfeita com o seu elenco de personagens, onde cada um possui uma personalidade distinta e que servem como peças importantes para trama. Robyn é a verdadeira pequena heroína da trama, da qual transita entre os deveres de obedecer ao seu pai, como também de alimentar com a curiosidade com relação ao mundo lá fora. Dessa curiosidade ela conhece Mebh, menina selvagem que irá fazer com que Robyn conheça o lado que os Supersticiosos tentam destruir a todo custo.

Neste último caso, isso é muito bem representado pelo vilão Lorde Protetor Oliver Cromwell, cuja as suas atitudes lembram e muito o vilão de "O Corcunda de Notre Dame" (1996) da Disney. Na trama, a fé cega em nome de Deus contra o folclore visto na tela são temas que repercutem até os dias de hoje e que somente fazem com que os povos cada vez mais se separem. É a partir do amor e da amizade das duas pequenas protagonistas é que haverá um caminho de paz, mas até lá haverá diversos sacrifícios a serem tomados.

Assim como o recente "Soul" (2020), "Wolfwalkers" consegue tocar em assuntos espinhosos, que vai desde a vida e a morte, mas tudo de uma forma fluida e que não assusta os jovens que forem assisti-la. Acima de tudo, é um filme de aventura com coração, com vários bons ensinamentos e que se tornam valiosos nestes tempos nebulosos. Indicado ao Oscar de melhor Longa de Animação, "Wolfwalkers" é uma das mais belas animações do ano, feita com carinho e para aqueles que apreciam bons ensinamentos sobre coragem e ajuda ao próximo.  

Onde Assistir: Apple TV+

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terça-feira, 13 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'White Eye'

Sinopse: Nas ruas de Israel, um homem encontra sua bicicleta que havia sido roubada, descobrindo que agora ela pertence a um imigrante. 

O clássico "Ladrões de Bicicletas" (1948) retratava um homem e seu filho em busca de sua bicicleta roubada e sendo que o veículo era o único meio de trabalho que sustentava a sua família. O filme é um retrato de uma Itália ainda abatida após a Segunda Guerra Mundial e que sintetiza o desespero de um povo em busca de sobrevivência através do pouco que tinha em mãos. Assim como o clássico Italiano, o curta israelense “White Eye”(2021) gira também em torno de uma bicicleta, mas cujo os desdobramentos da trama fazem a gente repensar o quanto estamos perdendo a nossa própria humanidade nos dias de hoje.

Com direção assinada por Tomer Shushan, “White Eye” foi um dos vencedores da seção de curtas no último SXSW. A premissa é simples: um homem perde sua bicicleta e a descobre em posse de outra pessoa, o que a leva a acreditar que o veículo foi roubado. Porém, reaver a bicicleta irá desencadear eventos irreversíveis.

Embora com meros vinte minutos o diretor Tomer Shushan surpreende pela sua segurança com uso da câmera, já que a trama é toda construída sem nenhum corte, ou seja, em plano-sequência bem criativo e que não deve em nada a longas recentes como no caso de "1917" (2020). É curioso, por exemplo, alguns detalhes que são vistos ao fundo do cenário principal, desde um grupo de amigos conversando, como também uma prostituta da qual achamos por um momento que irá participar da história. São elementos que nos chama atenção, mas que não interferem na trama principal, pois esses personagens secundários podem ser unicamente uma representação do mundo seguindo em frente enquanto os eventos que giram em torno da bicicleta acontecem.

A trama, diga-se de passagem, é uma síntese do mundo contemporâneo atual, cada vez mais preso ao sistema cheio de regras com relação aos imigrantes e revelando o lado desumano de cada um dos seus países. O protagonista, por sua vez, percebe logo em seguida que está perdendo a sua dignidade unicamente por querer reaver a sua bicicleta, mas é através do possível infrator que ele irá descobrir um outro mundo que estava por detrás das cortinas. Ao final, a bicicleta se torna um mero objeto obsoleto, enquanto vidas tentam sobreviver a todo custo, mesmo que na surdina e distante dos olhares da justiça hipócrita, burocrática e corrupta.

Indicado ao prêmio de melhor Curta Metragem no próximo Oscar, "White Eye" fala sobre egoísmo e a falta de amparo pelo próximo em tempos nebulosos.  


Nota: Curta visto online na 30ª edição do Festival Curta Cinema, em março de 2021. 

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Cine Especial: Oscar 2021: 'Burrow'

Sinopse: O filme gira em torno de um jovem coelho que tenta construir a toca de seus sonhos. 

O estúdio Pixar é conhecido pela sua criatividade na realização dos seus longas metragens. Porém, os estúdios nos surpreendem ainda mais na questão de curtas metragens e que beiram a ser ainda mais originais e criativos do que as suas grandes produções. "Burrow" (2020) é mais um exemplo dessa leva de genialidade do estúdio.

Feito em animação tradicional, o filme conta a história de um pequeno coelho que decide criar a sua toca embaixo da terra. Porém, há vizinhos dos mais diversos tipos pelo caminho e ele não quer se misturar com eles. Contudo, ele terá que aprender que a união faz a força quando ele se mete em uma grande encrenca.

Embora com meros seis minutos de duração, o curta é divertido em sua imagem cheia de detalhes e que remete aos velhos contos de fadas que os nossos pais contavam quando a gente era criança. Com traços simples, o curta é complexo em sua mensagem, ao nos dizer em jamais criar muros contra aqueles que são diferentes, pois pode uma hora precisarmos deles. O ápice do curta é quando o pequeno protagonista começa a ter medo de algo que não vê, quando na verdade a figura misteriosa se torna a sua verdadeira salvação e que o ligará para uma união para salvar a toca.

Indicado ao prêmio de Melhor Curta Metragem de Animação no Oscar, "Burrow" é divertido, mas que também passa uma mensagem positiva para essa nova geração e da qual eles tanto precisam.  

Onde Assistir: Disney +

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segunda-feira, 12 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'The Letter Room'

Sinopse: Um sensível guarda prisional (Oscar Isaac) é transferido para sala onde ficam guardadas as cartas escritas para os presidiários. 

Filmes em que a trama se passa em prisões é um subgênero forte dentro do cinema, seja pelo fato dos protagonistas tentarem escapar, como no caso de a trama explorar os seus dramas em situações irreversíveis. Porém, há casos que a simplicidade se torna fator pulsante para a qualidade da trama e que faz com que o cinéfilo se veja preso nela. O curta "The Letter Room" (2021) une a simplicidade com sensibilidade para moldar uma história comum, porém, contagiante.  

Dirigido pela cineasta Elvira Lind, o filme conta a história de um guarda prisional (Oscar Isaac), que é transferido para sala onde ficam guardadas as cartas escritas para os presidiários. Lá ele acaba tendo acesso as cartas enviadas para um preso esperando a sentença de morte e desenvolve um laço de empatia pela história do homem. Não demora muito para que o seu lado profissional fique de lado e despertando o seu lado mais humano.  

Com um bom ritmo, o filme gira tudo em torno do personagem Isaac, onde testemunhamos a sua mudança de comportamento na medida em que ele tem acesso as cartas que as pessoas de fora vão enviando para os seus parentes que estão presos no presídio. Se em um primeiro momento o protagonista tenta se esquivar, do outro, logo ele percebe que o lado profissional somente funciona até certo ponto e que é preciso o lado mais humano aflorar em situações ruim que podem sim serem evitados.  

Embora sendo somente um curta metragem, Oscar Isaac nos brinda com uma ótima atuação, cuja a sua mudança física para interpretar esse personagem acaba sendo um verdadeiro contraste se formos compará-lo ao personagem heróico que ele atuou na nova trilogia de "Star Wars". Isaac nos passa através do olhar do seu personagem uma doçura do qual representa a sua preocupação por pessoas que ele mal conhece, mas que acaba se tornando facilmente ligados a eles. Um grande desempenho para um pequeno projeto.  

Indicado ao prêmio de melhor Curta Metragem no próximo Oscar, "The Letter Room" é um sensível curta metragem que merece ser descoberto e analisado mais de perto. 

NOTA: Ainda inédito nos cinemas ou no Streaming.

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Cine Especial: Oscar 2021: 'O Presente'

Sinopse: Pai e filha saem de casa para comprar um presente para a esposa, mas terão adversidades ao longo da jornada.  

Pelo fato de estarmos enfrentando uma grande pandemia, infelizmente, alguns governos se mostraram ineficazes no combate contra a doença e principalmente ao não conseguir disfarçar que há sim uma divisão de classes e credo entre as pessoas. Porém, essa divisão já existe a muito tempo, independente de qual região do globo, mas que basta um pequeno gesto para se fazer a diferença ao longo do percurso. "O Presente" (2021) mostra que a inocência ainda é principal força contra a insanidade da intolerância.

Dirigido por Farah Nabulsi, o filme conta a história do palestino Yusef e sua filha Yasmine enquanto eles tentam comprar um presente de aniversário de casamento para a esposa Noor. O curta explora de maneira sútil o efeito que a intervenção militar israelense tem na população da Palestina. Por um pequeno gesto, porém, se faz a diferença.

O filme já começa retratando a divisão que a Palestina e Israel criou para a sociedade, onde vemos diversas pessoas divididas entre muros e filas e fazendo da vida de lá muito mais complexa. Em meio a isso, ao vermos a pequena família de Yusef, constatamos que não importa qual caminho que um governo decide contra ou a favor do povo, pois a própria pode ainda viver em harmonia mesmo que o mundo possa vir a cair aos pedaços. Porém, um simples passeio para se fazer uma compra desencadeia um processo onde sintetiza a intolerância e desigualdade vinda do próprio ser humano.

Na divisa entre Palestina e Israel, a diretora Farah Nabulsi cria um cenário de pura tensão, já que Yusef tenta se controlar para não prejudicar a filha, mas não esconde a sua raiva perante soldados incapazes de praticar o que é certo e errado e culminando em momento que poderia facilmente ser evitado. Por outro lado, o filme mostra que ainda há esperança naquele cenário, seja pelo gesto do vendedor da geladeira, ou até mesmo da pequena Yasmine que se torna o coração do curta.

Nos minutos cruciais da trama, uma simples decisão poderia custar a vida dos protagonistas. Porém, um gesto simples desencadeia um outro cenário e culminando em um final surpreendente. Indicado ao prêmio de melhor Curta Metragem no Oscar 2021, "O Presente" fala em pequenas façanhas perante a intolerância que existe hoje em dia.  

Onde Assistir: Netflix 

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sexta-feira, 9 de abril de 2021

Cine Especial: Cine Debate: 'O Caso do Homem Errado'

Nota: O texto a seguir eu publiquei em 09 de Agosto de 2018.  

Sinopse: O CASO DO HOMEM ERRADO conta a história do jovem operário negro Júlio César de Melo Pinto, que foi executado pela Brigada Militar, em 1987, em Porto Alegre/RS. O crime ganhou notoriedade após a imprensa divulgar fotos de Júlio sendo colocado com vida na viatura e chegar, 37 minutos depois, morto a tiros no hospital.

Embora alguns ainda neguem os fatos, estamos vivendo em tempos de retrocesso, onde pessoas que praticam um lado mais socialista acabam sendo calados por únicamente abraçar um bem maior em ajudar o próximo. O recente caso do assassinato da vereadora Marielle Franco, não é somente uma situação em que sintetiza o estado de calamidade em que o nosso país se encontra como também ele reflete uma realidade que perdura já em décadas. Por coincidência, chega ao cinema O Caso do Homem Errado, onde explora o lado racista e despreparado de uma polícia  que ainda carrega resquícios dos tempos da ditadura.

Dirigida por Camila Moraes, o documentário investiga passo a passo, através de depoimentos, sobre o caso do jovem operário negro Júlio César que, durante um confronto entre a brigada militar e bandidos no centro de Porto Alegre, acabou sendo levado pelos primeiros sem ao menos saber do por que. Pouco mais de meia hora depois, Júlio César chega morto ao hospital, sendo que ele nem estava armado e dando a entender que a brigada havia lhe executado. Através dos depoimentos, como de um jornalista da época, por exemplo, acabamos então encarando a trágica e real verdade sobre o corrido.

Diferente da maioria dos documentários, a diretora Camila Moraes não moldou a sua obra com imagens da época sobre o acontecido, mas que, através dos depoimentos de pessoas em cena, obtemos então uma construção de imagens surgindo em nossas mentes e se criando certa tensão de acordo com o andamento das entrevistas. O depoimento emocionado do fotógrafo Ronaldo Bernardi, que havia fotografado Júlio César jaz morto na maca do hospital, sintetiza bem esse clima mórbido e do qual não é preciso de uma representação ou de imagens a todo o momento sobre o que havia acontecido. Bastam então as palavras emocionadas para então termos a dimensão da trágica verdade.

O que indigna mais o caso do assassinato de Júlio César é que ele não estava somente no lugar errado ou na hora errada, mas somente pelo fato de ser negro, foi julgado em poucos minutos e sendo sentenciado à morte de uma forma tão sem sentido. O mais chocante, porém, é do fato dele ter caído nesse olho do tornado de uma forma tão estúpida, moldada pelas palavras de pessoas inconsequentes que se encontravam no local e que o julgaram somente pela sua cor de pele. Um acontecimento criado de uma forma errônea e catastrófica.

Embora Camila Moraes não deixe de uma forma mais explícita, ela foi hábil em nos colocar numa situação que ressoe o clima da época de nosso país. Ouvindo os depoimentos nos colocamos então em 1987, época em que a recém o povo havia reconquistado a democracia, tendo o desmonte final da ditadura, mas ao mesmo tempo, havia ainda aqueles resquícios de um tempo em que a brigada militar ainda se sentia com o direito de fazer o que bem entender contra a vida daqueles que eles acreditavam serem minorias. Rapidamente me veio então na mente o clássico curta metragem O Dia em que Dorival Encarou a Guarda, de Jorge Furtado, obra que havia sido lançada um ano antes da morte de Júlio César e que sintetizava a imagem falida de uma brigada militar dependente de métodos errôneos e tão pouco humanos.

A sensação que passa é que, entre o final dos anos 80, até os dias de hoje, tivemos um grande avanço, mas sendo então freado e nos colocando então na estaca zero. É como se os recursos dos dias de hoje como, por exemplo, as redes sociais da internet, cujo recurso poderia nos dar mais benefício, se tornam então um palco para o nascimento de depoimentos preconceituosos e de até mesmo de alguns manifestando o desejo pelo retorno dos tempos de chumbo. Em um país pós-golpe, onde há um desejo cada vez maior pelo controle do capitalismo, os direitos humanos acabam, infelizmente, se tornando algo secundário pelo olhar dos que se dizem poderosos.

O documentário O Caso do Homem Errado, felizmente, veio para nos dizer que as vozes de Júlio César, assim como a de Marielle Franco e de muitos inocentes jamais se calarão, mas sim soarão fortes e muito além da eternidade.


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