Nos dias 03 e 04 de
Julho, eu estarei participando do curso Tim Burton: O Poeta das Sombras, criado
pelo Cena Um e ministrado pelo Crítico de cinema Robledo Milani. Enquanto o
curso não chega, por aqui estarei fazendo uma retrospectiva das melhores momentos
da carreira desse cineasta, que se mantém fiel ao seu cinema autoral e sombrio.
Alice No País das
Maravilhas
Sou admirador
incondicional de Tim Burton, sempre o admirei sua fidelidade pelo filmes com
visual sombrio, onírico e personagens
estranhos, como os vistos em Fantasmas
se Divertem, Edward mãos de tesoura e Peixe Grande. Contudo, Burton sabe a
palavra que move a indústria do cinema: “bilheteria" e para isso nada
melhor do que encher os cofres dos engravatados com superproduções e Burton
arriscou em filmes como Batman, Planeta dos Macacos e Fantástica Fabrica
chocolate. São filmes no qual ele injetou sua visão própria, mas não teve uma
total liberdade criativa. No filme Alice no País das Maravilhas se
encaixa bem nesse segundo grupo. Voltando a fazer um filme para Disney depois
de vários anos afastado, Burton faz um filme para a família toda como ninguém,
mas não espere mais do que isso. A trama em si tem começo, meio e fim, previsível,
algo um tanto que frustrante para aqueles que são fãs de carteirinha da obra de
Lewis Carroll. Contudo, é de se tirar o chapéu pelo desafio cumprido pelo
diretor em conseguir tal feito em fazer um filme baseado em um livro com tantos
símbolos, significados e charadas no escuro que ainda hoje deixam inúmeros
leitores intrigados.
Mas diferente do que muitos imaginam, essa historia é uma espécie de continuação mostrando acontecimentos após Alice ter ido para o mundo das maravilhas quando pequena, agora com 17 anos, Alice busca compreender o que esta acontecendo em sua volta, se é um sonho, fruto de uma possível loucura sua ou pura realidade. Ao mesmo tempo em que essa nova aventura irá lhe servir como uma espécie de lição de como saber lidar com o mundo normal onde vive. E por ser um mundo mágico cheio de cores, Burton quis usar ao máximo a ferramenta do momento que é o 3D, e pelo visto fez a lição de casa, pois nunca um mundo mágico se tornou tão vivo como esse. Assim como Avatar, nos sentimos dentro da floresta onde flores e lagartas falam com maior naturalidade. E o que dizer do elenco? Tenho pouco a dizer sobre Mia Wasikowska como Alice, pois sua interpretação como a personagem não ajuda, mas também não atrapalha e talvez fosse exigir demais dela em seu primeiro papel de destaque. Já não posso dizer a mesma coisa sobre a dupla que o diretor gosta tanto de trabalhar: Depp e Carter. Enquanto o primeiro interpreta um chapeleiro maluco que por vezes é insano e por vezes controlado e com boas motivações, Helena Bonham Carter da um show de excentricidade com sua Rainha de copas e seu cabeção descomunal. Suas aparições em cena são os melhores momentos do filme (a parte do porco que é usado de uma maneira inusitada é digna de nota). Já Anne Hathaway faz uma curiosa Rainha Branca que a primeira vista parece uma verdadeira princesa saída dos contos de fadas, mas possui uma pequena dose de excentricidade, principalmente em fazer determinados chás. Com isso, Anne prende a atenção do espectador numa personagem menos conhecida da obra de Lewis Carroll.
Mesmo com as velhas lições de moral sobre escolhas e o bem vence o mal impregnado no decorrer do ato final, o filme com certeza irá agradar o publico jovem pouco exigente e que busca somente duas horas de boa diversão, mesmo que para alguns seja um tanto que frustrante depois de tamanha expectativa, mas que esta muito longe de ser um filme ruim. Talvez seja o melhor filme de Burton em termos de superprodução e se não foi agora que ele teve total liberdade criativa, com certeza terá, devido ao sucesso desse filme. Burton é mais que um diretor, é um autor que fala por si, mas com uma determinada sintonia da forma que as coisas funcionam, principalmente no mundo do cinema: "agrade os grandes primeiro e domine depois", talvez esse seja seu lema. Talvez não tenha sempre uma total liberdade com suas obras, mas quanto mais contem, melhor será o recheio quando for liberado e esperamos ansiosos Sr Burton.
Mas diferente do que muitos imaginam, essa historia é uma espécie de continuação mostrando acontecimentos após Alice ter ido para o mundo das maravilhas quando pequena, agora com 17 anos, Alice busca compreender o que esta acontecendo em sua volta, se é um sonho, fruto de uma possível loucura sua ou pura realidade. Ao mesmo tempo em que essa nova aventura irá lhe servir como uma espécie de lição de como saber lidar com o mundo normal onde vive. E por ser um mundo mágico cheio de cores, Burton quis usar ao máximo a ferramenta do momento que é o 3D, e pelo visto fez a lição de casa, pois nunca um mundo mágico se tornou tão vivo como esse. Assim como Avatar, nos sentimos dentro da floresta onde flores e lagartas falam com maior naturalidade. E o que dizer do elenco? Tenho pouco a dizer sobre Mia Wasikowska como Alice, pois sua interpretação como a personagem não ajuda, mas também não atrapalha e talvez fosse exigir demais dela em seu primeiro papel de destaque. Já não posso dizer a mesma coisa sobre a dupla que o diretor gosta tanto de trabalhar: Depp e Carter. Enquanto o primeiro interpreta um chapeleiro maluco que por vezes é insano e por vezes controlado e com boas motivações, Helena Bonham Carter da um show de excentricidade com sua Rainha de copas e seu cabeção descomunal. Suas aparições em cena são os melhores momentos do filme (a parte do porco que é usado de uma maneira inusitada é digna de nota). Já Anne Hathaway faz uma curiosa Rainha Branca que a primeira vista parece uma verdadeira princesa saída dos contos de fadas, mas possui uma pequena dose de excentricidade, principalmente em fazer determinados chás. Com isso, Anne prende a atenção do espectador numa personagem menos conhecida da obra de Lewis Carroll.
Mesmo com as velhas lições de moral sobre escolhas e o bem vence o mal impregnado no decorrer do ato final, o filme com certeza irá agradar o publico jovem pouco exigente e que busca somente duas horas de boa diversão, mesmo que para alguns seja um tanto que frustrante depois de tamanha expectativa, mas que esta muito longe de ser um filme ruim. Talvez seja o melhor filme de Burton em termos de superprodução e se não foi agora que ele teve total liberdade criativa, com certeza terá, devido ao sucesso desse filme. Burton é mais que um diretor, é um autor que fala por si, mas com uma determinada sintonia da forma que as coisas funcionam, principalmente no mundo do cinema: "agrade os grandes primeiro e domine depois", talvez esse seja seu lema. Talvez não tenha sempre uma total liberdade com suas obras, mas quanto mais contem, melhor será o recheio quando for liberado e esperamos ansiosos Sr Burton.
SOMBRAS DA NOITE
Na maioria dos casos, personagens
incompreendidos e que sempre sofrem perante a sociedade comum, são sempre os
verdadeiros protagonistas dos filmes de Tim Burton e em Sombras da Noite o
quadro não é nenhum pouco diferente. Baseado fielmente de uma novela exibida na
tevê americana nos anos 60, a produção (como toda obra autoral do cineasta),
carrega inúmeras cenas góticas, que remetem o melhor da era do expressionismo
alemão. Com isso, não é de se surpreender, que inúmeras cenas remetem aqueles
clássicos, principalmente Nosferatu, contudo, o filme enlaça esse visual com o
colorido dos anos 70, onde o protagonista acorda, depois de vários anos embaixo
da terra. As cenas em que ele se levanta e se depara com o novo mundo é
hilário, com o direito de ele chamar o tão conhecido símbolo de Mcdonald de
Mefistófoles!
Feito essa sequência, vemos Barnabas se ajustar a essa realidade, ao lado da nova geração de sua família, liderada por Elizabeth (Michele Pfeiffer, ainda no auge da beleza), mas além de ter que se acostumar a esse novo mundo, ele precisara se confrontar com seu algoz do passado, que é uma bruxa totalmente obcecada por ele, interpretada de uma forma bem à vontade pela atriz Eva Green, que desde que surgiu no reboot de 007, não tinha um papel tão significativo como esse. Mas como é de costume, Johnny Depp é que sempre da um show de interpretação, mesmo quando o seu desempenho, carrega algumas características de seus personagens anteriores, mas que sempre é ajustado de acordo com o universo que o cineasta cria para ele.
Embora oscile de um cinema autoral para um comercial (principalmente em seu ato final), Sombras da Noite agradara em cheio os fãs de longa data do diretor. Muito embora ainda estejam na espera por uma historia 100% original, que já faz um bom tempo que o cineasta esta devendo.
Feito essa sequência, vemos Barnabas se ajustar a essa realidade, ao lado da nova geração de sua família, liderada por Elizabeth (Michele Pfeiffer, ainda no auge da beleza), mas além de ter que se acostumar a esse novo mundo, ele precisara se confrontar com seu algoz do passado, que é uma bruxa totalmente obcecada por ele, interpretada de uma forma bem à vontade pela atriz Eva Green, que desde que surgiu no reboot de 007, não tinha um papel tão significativo como esse. Mas como é de costume, Johnny Depp é que sempre da um show de interpretação, mesmo quando o seu desempenho, carrega algumas características de seus personagens anteriores, mas que sempre é ajustado de acordo com o universo que o cineasta cria para ele.
Embora oscile de um cinema autoral para um comercial (principalmente em seu ato final), Sombras da Noite agradara em cheio os fãs de longa data do diretor. Muito embora ainda estejam na espera por uma historia 100% original, que já faz um bom tempo que o cineasta esta devendo.
FRANKENWEENIE
Quando se vê um filme de Tim Burton, sempre
você vera características que ele usou em outros filmes, ou seja, uma obra
sombria, embalada com um toque de humor negro e protagonizada por personagens
excêntricos e sombrios. Os filmes dele, nada mais são do que uma forma do
cineasta se expressar sobre o que ele é e foi quando criança, que cresceu
assistindo a filmes clássicos de horror e ficção B. Tudo isso se viu antes e se
verá novamente neste Frankenweenie, refilmagem de um dos seus primeiros curtas
criado dentro do estúdio Disney, mas que havia sito vetado por ser considerado
sombrio demais para as crianças na época. Como o diretor encheu o bolso do
estúdio com Alice no País das Maravilhas, era mais do que natural dele ganhar
sinal verde e realizar, o que talvez seja a sua obra mais pessoal desde o Peixe
Grande.
Interessante observar, como por exemplo, que quando ele criou Edward: Mãos de Tesoura no inicio dos anos 90, ele quis passar um contraste entre o seu protagonista gótico, com os cidadãos comuns de uma cidade comum, que se vestiam e agiam da forma mais comum e chata possível. Os tempos são outros, onde ser diferente se tornou legal, e Burton sabendo disso, não se intimidou em criar cada personagem de Frankenweenie com um visual sinistro, que tanto lembram as suas obras anteriores, como também os clássicos de horror do expressionismo alemão e dos filmes de horror da Universal dos anos 30. Portanto, o cinéfilo atento, irá contar com inúmeras referencias, que vão desde o Gabinete do Dr. Gargali, há Drácula, Frankenstein (e a sua Noiva), Múmia e O Homem Invisível. Mas as homenagens não param por ai, porque fiel como ele é com os seus ídolos antigos, ele chega ao cumulo de criar um personagem importante para a trama, que nada mais é do que uma copia perfeita do jaz falecido mestre do horror Vincent Price e que caso ele ainda estivesse vivo com certeza ficaria orgulhoso.
Claro que o marinheiro de primeira viagem, talvez não compreenda todas essas referencias saltando na tela a todo momento, mas esse problema logo é contornado, não só graças ao belíssimo visual gótico em preto branco que enche os nossos olhos, como também a delicada historia que nos conquista, sobre o menino solitário e seu cão amigo inseparável. A partir do momento em que ocorre a morte do animal, Burton é gênio de tratar esse assunto com delicadeza, pois mesmo hoje, com cada vez mais crianças maduras e aprendendo rápido sobre diversos assuntos, a morte ainda é tabu no qual elas não gostam de ouvir, mas que no final das contas, para o bem ou para o mal, é algo que é preciso ser explicado e compreendido. Talvez Burton tenha passado por algo parecido quando era pequeno e quis passar esse sentimento da sua maneira para nos, de que um dia todos nos temos que enfrentar essa dor, mas que devemos acreditar acima de tudo, que nossos entes queridos mesmo partindo, irão viver no nosso coração.
Interessante observar, como por exemplo, que quando ele criou Edward: Mãos de Tesoura no inicio dos anos 90, ele quis passar um contraste entre o seu protagonista gótico, com os cidadãos comuns de uma cidade comum, que se vestiam e agiam da forma mais comum e chata possível. Os tempos são outros, onde ser diferente se tornou legal, e Burton sabendo disso, não se intimidou em criar cada personagem de Frankenweenie com um visual sinistro, que tanto lembram as suas obras anteriores, como também os clássicos de horror do expressionismo alemão e dos filmes de horror da Universal dos anos 30. Portanto, o cinéfilo atento, irá contar com inúmeras referencias, que vão desde o Gabinete do Dr. Gargali, há Drácula, Frankenstein (e a sua Noiva), Múmia e O Homem Invisível. Mas as homenagens não param por ai, porque fiel como ele é com os seus ídolos antigos, ele chega ao cumulo de criar um personagem importante para a trama, que nada mais é do que uma copia perfeita do jaz falecido mestre do horror Vincent Price e que caso ele ainda estivesse vivo com certeza ficaria orgulhoso.
Claro que o marinheiro de primeira viagem, talvez não compreenda todas essas referencias saltando na tela a todo momento, mas esse problema logo é contornado, não só graças ao belíssimo visual gótico em preto branco que enche os nossos olhos, como também a delicada historia que nos conquista, sobre o menino solitário e seu cão amigo inseparável. A partir do momento em que ocorre a morte do animal, Burton é gênio de tratar esse assunto com delicadeza, pois mesmo hoje, com cada vez mais crianças maduras e aprendendo rápido sobre diversos assuntos, a morte ainda é tabu no qual elas não gostam de ouvir, mas que no final das contas, para o bem ou para o mal, é algo que é preciso ser explicado e compreendido. Talvez Burton tenha passado por algo parecido quando era pequeno e quis passar esse sentimento da sua maneira para nos, de que um dia todos nos temos que enfrentar essa dor, mas que devemos acreditar acima de tudo, que nossos entes queridos mesmo partindo, irão viver no nosso coração.
Com um final que nos reserva
várias outras homenagens, como referencias explicitas a Godzilla e Gremlins,
Frankenweenie é um filme que facilmente faz com que qualquer um solte lágrimas
dos olhos, mesmo quando a trama solte soluções fáceis para não tornar tudo tão
triste, mas é algo compreensível, porque é um filme para ser visto por todos,
mesmo aqueles não acostumados com o estilo de Burton, que aqui cria uma obra
particular e com amor acima de tudo.
Falando em animações,
não poderia me esquecer (na verdade me esqueci nas postagens anteriores) O
Estranho Mundo de Jack: com argumento e co-produção de Tim Burton, este é um
projeto pessoal do diretor que injeta sangue novo na arte da animação de
bonecos. Apesar de não inovar na técnica, a história com pitadas góticas,
trabalha com uma estética incomum e pode agradar tanto as crianças como os
adultos com sua trama simples e divertida.
Curiosidades: Tim Burton
declarou que teve a idéia do poema em que O Estranho Mundo de Jack é baseado ao
ver uma placa publicitária do Halloween sendo substituída, em uma loja, por uma
do Natal.O teaser de O Estranho Mundo de Jack o anunciava como sendo
distribuído pela Walt Disney Pictures, enquanto que seu trailer já dizia que a
distribuição era da Touchstone Pictures, uma divisão do grupo Disney. A mudança
ocorreu devido a Michael Eisner, CEO da Disney na época, que considerava o
filme "sombrio demais" para ser acoplado à marca Disney.
Leia também: Partes 1, 2 e 3.