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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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terça-feira, 7 de novembro de 2023

Cine Especial: Próximo Cine Debate - 'O Preço do Amanhã'

Sinopse: Acusado de assassinato, um homem deve descobrir como derrubar um sistema onde tempo é dinheiro e que permite que os ricos vivam para sempre, enquanto os pobres devem implorar por cada minuto de suas vidas. 


É engraçado que alguns filmes passam batido na época de sua estreia, mas que aos poucos ganha o seu reconhecimento na medida que o tempo passa. O clássico "Blade Runner" é um exemplo genuíno, pois o filme foi um fracasso na época do seu lançamento, mas se tornou rapidamente cultuado através das Cinematecas e VHS. O que o público não viu na época foi o fato da obra ser uma metáfora sobre o sistema capitalista cada vez mais afogando a sociedade e como a mesma deixa a sua vida passar e sem aproveitá-la ao máximo.

O tempo talvez seja um dos temas mais recorrentes da ficção cientifica, pois no nosso mundo real corremos contra ele, como se não tivéssemos tempo e cada vez mais presos ao relógio. Pode-se dizer que a situação piorou cada vez mais com o advento das tecnologias, principalmente com relação ao celular, onde se pode fazer tudo, mas privando a sociedade de aproveitar outras coisas e fazendo a mesma se esquecer de olhar para o céu ao longo da vida. A série "Black Mirror", por exemplo, é mais ou menos sobre isso, onde as pessoas cada vez mais se afogam e se tornam prisioneiras pelas tecnologias avançadas, mas que não são muito diferentes do que se vê hoje em dia.

O diretor, produtor e roteirista Andrew Niccol talvez seja um especialista ao possuir um olhar que consegue observar situações a frente do nosso tempo, mas que acabam realmente acontecendo, mesmo de forma parcial para se dizer o mínimo. Como diretor ele elaborou o surpreendente "Gattaca - Experiência Genética" (1997), onde o indivíduo somente seria bem-sucedido se possuísse um código genético perfeito. Já como roteirista ele criou "O Show de Thurman" (1998) e do qual profetizou uma sociedade cada vez mais obcecada pelos reality shows e ocupando as suas vidas ao assistir as vidas das outras.

Em seus filmes, seja como diretor ou roteirista, ele explora a questão de uma sociedade presa ao sistema e do qual a questão do tempo se encontra nas entrelinhas. Eis que então chegamos ao "O Preço do Amanhã" (2011), filme mal avaliado pela crítica e público na época do seu lançamento, mas foi crescendo a cada nova revisão. Pode-se dizer que hoje o filme se casa muito bem com a situação atual da sociedade, cada vez mais presas em seus celulares e não aproveitando o tempo que passa diante de suas vidas.

Em um futuro próximo, o envelhecimento passou a ser controlado para evitar a superpopulação, tornando o tempo a principal moeda de troca para sobreviver e também obter luxos. Assim, os ricos vivem mais que os pobres, que precisam negociar sua existência, normalmente limitada aos 25 anos de vida. Quando Will Salas (Justin Timberlake) recebe uma misteriosa doação, passa a ser perseguido pelos guardiões do tempo por um crime que não cometeu, mas ele sequestra Sylvia (Amanda Seyfried), filha de um magnata, e do novo relacionamento entre vítima e algoz surge uma poderosa arma com o sistema e organização que comanda o futuro das pessoas.

Nota-se no início da projeção que Andrew Niccol faz uma homenagem ao clássico literário "1984", pois embora exista uma tecnologia avançada, por outro lado, a sociedade ainda precisa trabalhar arduamente para obter tempo e ao mesmo tempo sendo vigiada como um todo. Visualmente o filme remete ao já clássico e citado "Gattaca" e ao mesmo tempo revelando uma população cada vez mais dividida entre os necessitados e os afortunados. Não deixa de ser peculiar ao assistirmos as pessoas lutarem para obter tempo de vida, sendo que o dinheiro acabou se tornando inexistente e cada minuto acaba valendo ouro.

Salas procura aproveitar a vida ao máximo, mesmo quando ela somente vale uma hora ou duas no decorrer do tempo. Quando obtém diversos anos de vida ele vê a chance de ajudar pessoas próximas a ela, mas o sistema se torna implacável e acaba não ocorrendo conforme o esperado. A cena em questão é a mais dolorida como um todo, pois bastava alguns segundos a mais para que tudo fosse resolvido.

Uma vez que não tem nada a perder ele decide gastar o seu tempo ao máximo em território dos poderosos e cujo tempo de dois mil anos não é nada para aqueles que vivem na mordomia. Neste cenário conhecemos então Sylvia, sempre protegida pelo seu pai, mas jamais sabendo como viver e mesmo tendo tempo de sobra. Com Salas ela experimenta sensações até então inéditas e valoriza o seu tempo mesmo quando ele começa a se tornar curto.

Embora hoje não vivemos presos pela moeda do tempo para continuarmos existindo, infelizmente constato que o filme era um retrato sobre o nosso futuro, onde não desfrutamos mais do tempo, onde ficamos presos por essas tecnologias que cabem na palma da mão, mas fazendo das nossas vidas cada vez mais alienadas e nos privando de apreciar as horas e dias que passam em um piscar de olhos, pois estamos sempre em movimento constante para se dizer o mínimo. Será preciso chegarmos ao ponto de que o tempo se tornará valioso para então finalmente acordamos?

O filme toca também em assuntos espinhosos que vai desde ao fato de que será preciso conter a superpopulação, mas aqui impondo um limite de tempo para todos nós e fazendo com que a maioria perca a sua humanidade pelo seu próximo. Portanto o filme, por mais que o estúdio tenha vendido como entretenimento em sua época de lançamento, ele nos faz pensar e fazendo com que até mesmo sintamos uma morbidez após o seu encerramento. E olha que eu estou falando de um filme cujo final até acaba sendo reconfortante, mas que não perde o seu peso que nos deixa ao fazer a gente refletir sobre o assunto sobre o nosso papel perante um mundo real cada vez mais implacável.

Com grande elenco que inclui pesos como Cillian Murphy, "Preço do Manhã" é um filme que foi melhorando a cada nova revisão, ao saber dialogar com o nosso mundo real em que obtivemos grandes tecnologias, porém, a mesma fez com que a gente perdesse o nosso precioso tempo. 

Onde Assistir: Netflix

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