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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Cine Especial: Clube de Cinema -'Johnny Guitar'

 Nota: Filme exibido para os associados no dia 21/10/2023. 

O gênero faroeste foi algo usado a exaustão dentro do cinema norte americano, ao ponto que ele acabou se esgotando ao longo do caminho. Antes disso, porém, o mesmo foi revitalizado em algumas ocasiões em que se via o fato que aquela velha trama de mocinho vs bandido não atraia mais as grandes plateias. O início dos anos cinquenta foi o período do cinema faroeste mais humano, psicológico, onde os protagonistas lutavam não somente contra o bandido, como também contra os seus próprios demônios.

Um desses primeiros casos de ventos da mudança dentro do gênero ocorreu em "Matar ou Morrer" (1952), onde o protagonista interpretado por Gary Cooper aguardava em tempo real o bandido da trama que viria no próximo trem, mas ao mesmo tempo demonstrava ter medo e buscava ajuda ao longo da trama. Já a obra prima de John Ford “Rastros do Ódio” (1956), vemos um John Wayne racista, disposto em acabar com os Índios que mataram a sua família, mas cuja cena final simboliza o fato que um tipo de personagem como ele já não teria o seu espaço nos anos que viriam.

Dois anos antes, porém, "Johnny Guitar" (1954) se destacou ao dar o protagonismo para uma atriz e sendo algo muito à frente do seu tempo naquela época. Dirigido por Nicholas Ray, do épico "O Rei dos Reis" (1961), o filme conta a história de Vienna (Joan Crawford), dona de um saloon próximo da ferrovia, tem planos ambiciosos para seu terreno. Emma Small (Mercedes McCambridge), filha de um rico fazendeiro da cidade vizinha, não pretende deixar que ela os realize. Emma é apaixonada por Dancin’ Kid (Scott Brady), que prefere Vienna. Tentando se livrar da inimiga, a herdeira manda seus capangas destruírem o saloon e inicia uma verdadeira guerra, na qual Vienna conta com o luxuoso auxílio de um importante figura de seu passado: Johnny Guitar (Sterling Hayden).

Embora o filme se chame "Johnny Guitar" ele poderia se chamar muito bem de "Vienna", já que a personagem interpretada pela veterana Joan Crawford é quem realmente rouba a cena em praticamente todo o filme. Dona de uma personalidade forte, tanto dentro como fora das telas, Crawford era dona dos direitos de adaptação do livro de Chanslor e vendeu a autorização ao estúdio sob a condição de estrelar o filme. Já em sua primeira cena logo percebemos que o filme está dentro do seu bolso, já que atriz possui uma presença forte, ao ponto de obscurecer por completo todos os personagens que se encontram em cena.

A trama em si é algo que sempre é revisitado pelo gênero, desde a conquista por terras e tudo girando em volta da possibilidade do crescimento das cidades daqueles tempos longínquos. Porém, a presença de uma protagonista era algo raro dentro do gênero, já que antes disso elas quase sempre eram donzelas em perigo enquanto o cavaleiro solitário sempre surgia em cena para salvar o dia. Neste último caso, aqui esse tipo de personagem é defendido por Sterling Hayden, que interpreta o próprio Johnny Guitar e cuja sua personalidade é de alguém que foge de um passado violento, o que não é muito diferente do que já havia sido visto um ano antes no clássico "Os Brutos Também Amam" (1953).

Vale destacar que Vienna não é a única personagem feminina forte da trama, já que a mesma possui o outro lado da moeda que é Emma, interpretada de forma selvagem pela atriz Mercedes Mccambridge. Ambas em cena possuem diálogos que demonstram que ambas as atrizes se entregaram de corpo e alma para personagens que se odeiam e não me surpreenderia se isso tenha ocorrido fora das telas. Crawford gostava de contracenar com atrizes que já possuía certas desavenças e se aqui essa fórmula deu certo o que dizer então do clássico "O que Teria Acontecido a Baby Jane?" (1962).

O filme também é lembrado como uma das primeiras participações do veterano Ernest Borgnine, mas que já havia chamado atenção no clássico "A Um Passo da Eternidade" (1953). Quanto ao filme em si ele explora sobre até que ponto o ser humano está disposto em colocar em prática justiça com as próprias mãos, sendo que uma vez que comete tal ato pode acabar mudando a vida da pessoa como um todo. Os personagens, portanto, fogem de um passado violento, mas ao mesmo tempo tendo que duelar com uma violência vinda do presente que poderia ser evitada, mas tudo provocado por interesses e inveja.

Na época do seu lançamento o filme foi mal-recebido pela crítica, pois não lidavam com o fato de uma mulher ser a protagonista de um faroeste. De acordo com Martin Scorsese em relação ao filme, o público estadunidense contemporâneo "não sabia o que fazer, então eles o ignoraram ou riram dele". O público europeu, por outro lado, não tendo os mesmos preconceitos do público estadunidense, viu o filme pelo que era: "uma produção intensa, não convencional, estilizada, cheia de ambiguidades e subtextos que a tornavam extremamente moderna". Hoje o filme faz parte no National Film Registry, seleção filmografia da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, como sendo "culturalmente, historicamente ou esteticamente significativo".

"Johnny Guitar" é um longa de faroeste a frente do seu tempo e um belo exemplo sobre o que se precisa para revitalizar um gênero que precisava já nos anos cinquenta ser fortalecido. 


Onde Assistir: Em DVD pela Classicline e no streaming pelo Prime Vídeo.


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