Sinopse: As origens do comandante militar Napoleão e sua rápida ascensão. Uma visão através do prisma de seu relacionamento e muitas vezes volátil com sua esposa e por ser amor verdadeiro, Josephine.
Diz a lenda que o épico "Napoleão" que seria rodado por Stanley Kubrick é o maior filme de todos os tempos jamais filmado. O ano era 1969, o realizador estava no topo da indústria durante esse período; com sucessos históricos e amplamente aceitos por público e crítica como "2001- Uma Odisseia no Espaço" (1968), "Dr. Fantástico" (1964), "Spartacus" (1960) e "Lolita" (1962) ele havia conquistado um posto bem específico em Hollywood onde qualquer projeto vindo dele seria aceito por qualquer estúdio ou, no mínimo, avaliado com bastante atenção.
Com esse currículo bastante respeitado, Kubrick começou a elaborar um novo projeto com foco no antigo comandante e imperador francês. Sua justificativa sobre o seu próximo protagonista, conforme escrito por Nicholas Barber no artigo Was Napoleon the greatest film never made?, foi “um desses homens raros que movem a história e moldam o destino de seu tempo e das gerações futuras". Porém, na época havia sido lançado "Waterloo" (1970), do diretor Sergei Bondarchuk e cujo retrato de uma das maiores guerras Napoleônicas acabou se tornando um enorme fracasso.
Por conta disso, nenhum estúdio se interessou pelo projeto de Kubrick, já que orçamento seria astronômico e fazendo com que o sonho do cineasta ficasse somente em um livro escrito pelo mesmo. Claro que houve outras adaptações, seja para o cinema, tv e livros, mas nenhuma chegou ao patamar do que seria o projeto comandado pelo cineasta. Eis então que chega "Napoleão" (2023), épico comandado pelo cineasta Ridley Scott e que com certeza bebeu da fonte de ideias grandiosas de Kubrick.
O filme é um olhar pessoal sobre as origens de Napoleão Bonaparte (Joaquin Phoenix) e sua rápida e implacável ascensão a imperador, visto através do prisma de seu relacionamento visceral e muitas vezes volátil com sua esposa e verdadeiro amor, Josephine (Vanessa Kirby). Era no calor da batalha que a mente talentosa de Napoleão como estrategista militar brilhava mais e ao mesmo tempo ele travava uma outra guerra: uma cruzada romântica com sua esposa adúltera.
Nunca consegui enxergar uma visão autoral de Ridley Scott na realização de seus filmes, sendo que eles se diferem um do outro. Porém, é notório que há uma preocupação pelo perfeccionismo, pelo desejo da perfeição, ao ponto de ele sempre ter a obsessão em rodar a mesma cena diversas vezes para obter o que realmente quer. Quem sobreviveu as filmagens do clássico "Blade Runner" (1982) sabe muito bem do que eu estou falando.
Mas esse perfeccionismo não significa que dá de encontro com a verossimilhança com os verdadeiros fatos históricos com relação a Napoleão. Um historiador, por exemplo, que for assistir ao épico com certeza irá torcer o nariz devido as várias passagens da história e fazendo desprezá-lo como um todo. Contudo, para um cinéfilo que acompanha a carreira de Scott já um bom tempo sabe muito bem que ele nunca levou em consideração aos verdadeiros fatos, pois tempos o ótimo "Gladiador" (2000) como um belo exemplo.
Assim sendo, assistir a "Napoleão" requer desfrutá-lo com a mente aberta e aproveitar a sua grandiosidade na tela grande. E é exatamente isso que o filme é como um todo, já que as passagens das guerras a campal são desde já uma das melhores coisas do épico, principalmente pelo fato delas terem sido rodadas como era feito antigamente, sem muito uso do CGI e fazendo nos passar a sensação de maior peso em determinados momentos. Vale destacar a edição de arte e sua fotografia, onde cada cena nos passa a sensação de uma pintura em movimento e se tornando um colírio para os olhos.
Por outro lado, é notório que o realizador e seus roteiristas se empenharam em destacar a relação conflituosa entre Napoleão e Josephine e o que torna o calcanhar de Aquiles como um todo. Ao que me parece, dá entender que o desiquilíbrio do protagonista surge a partir dessa relação, o que torna a ideia um tanto limitada, já que Napoleão foi alguém formado através da guerra e cuja mesma com certeza o fez enxergar o lado distorcido da humanidade e na sua total plenitude. Por conta disso, as cenas do conflito entre os dois gera até mesmo momentos de humor, muito embora eles pareçam deslocadas perante a proposta principal do épico.
Ganhador do Oscar de melhor ator por "Coringa" (2019) Joaquin Phoenix não trabalhava com Scott desde "Gladiador" e ao que parece a parceria novamente funcionou. O ator constroi para si um Napoleão contido em um primeiro momento, cuja falta de lucidez começa a nascer aos poucos e revelando um homem à beira do desiquilíbrio. Ao mesmo tempo é preciso dar crédito a Vanessa Kirby, pois a sua Josephine sofre com os percalços construídos através de uma realidade em que as mulheres somente serviam para procriar em tempos patriarcados.
O filme como um todo não esconde o jogo político daqueles tempos, sendo algo não muito diferente o que acontece hoje em dia, principalmente em países que se dizem democráticos, mas que se encontram cada vez mais seduzidos pelo extrema direita. Embora com mais de 2h40min de projeção, infelizmente o filme me deu aquela sensação de que faltou algumas coisas em determinadas passagens e dando a entender que somente será visto no seu corte de quatro horas que será posteriormente lançado. Pelo visto, Ridley Scott talvez não tenha tido total liberdade no lançamento do seu épico como alguns imaginavam.
"Napoleão" é tanto um grande épico cinematográfico, como também um filme problemático e que irá dividir a opinião da crítica e do grande público ao longo do tempo.
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