Sinopse: Uno se comunica com carros desde criança. Quando uma lei coloca a empresa da família do pai em perigo, Uno busca o seu melhor amigo de infância: um carro.
David Cronenberg tem um interesse interessante sobre a ligação da carne do ser humano com o metal e o seu clássico "Crash - Estranhos Prazeres" (1996) retratava um grupo de pessoas tendo o prazer pelo sexo após sofrerem acidentes de carro. Já o francês recente "Titane" (2021) mostrava a protagonista somente tendo o prazer através de veículos e adquirindo novos rumos inesperados em sua vida. "Carro Rei" (2021) segue uma linha parecida, ao nos apresentar uma curiosa ficção cientifica brasileira que mistura esses elementos dos filmes citados, mas falando um pouco sobre o que está acontecendo no Brasil neste momento.
Dirigido por Renata Pinheiro, do filme "Açúcar" (2017), o filme conta a história de Uno, um jovem menino que tem a estranha habilidade de conversar com carros desde sua infância. Um dia, as autoridades políticas de sua cidade passam uma lei que pode fazer com que a empresa de seu pai venha a falir. Com a proibição da circulação de carros antigos nas ruas da cidade, Uno recorre ao seu melhor amigo de infância: um carro. Junto com seu tio, Uno transformará um simples automóvel no Carro Rei - um carro que pode falar, ouvir e ter sentimentos.
Nos últimos tempos o cinema brasileiro tem nos brindado com filmes que falam sobre um determinado futuro próximo, mas cuja a premissa nos soa familiar e que facilmente conseguimos fazer um paralelo com o nosso mundo real. Títulos como "Branco Sai, Preto Fica" (2014), "Bacurau" (2019) e o recente "Medida Provisória" (2020) são exemplos genuínos dessa tendencia, pois eles sintetizam sobre o preconceito, divisão de classes e o fascismo que se encontra ontem e hoje em território brasileiro. No caso de "Carro Rei", o filme fala sobre o consumismo vs natureza, além de uma sociedade cada vez mais dependente da tecnologia e sempre desejando o próximo avanço da mesma.
Renata Pinheiro se sai muito bem na direção, pois é perceptível o orçamento apertado da produção, mas cujo o seu trabalho faz com que o filme tenha uma dimensão maior. Com uma fotografia de cores frias, a realizadora se concentra no enquadramento ao extrair ao máximo o desempenho dos atores, dos quais os mesmos transitam por interpretações quase teatrais e cujo o discurso de determinadas ideias quase fazem com que se quebre a quarta parede em alguns momentos da trama. Embora fantasioso em alguns momentos, é graças a falta de recursos técnicos que faz com que alguns momentos soem verossímeis, mesmo quando determinadas situações beiram ao quase surrealismo.
Do elenco principal, destaque novamente para o veterano Matheus Nachtergaele, que aqui cria para o seu personagem uns trejeitos de alguém completamente absorvido pelo universo dos carros e cuja a sua figura em si parece extraída dos filmes do já citado David Cronenberg. Já atriz Jules Elting arrisca em uma cena pouco inspiradora, já que ela é basicamente uma cópia escancarada do também já citado filme "Titane", muito embora as consequências sejam que diferentes. Um pequeno equivoco contornado pelo bom desempenho da atriz, além de uma ótima direção da cineasta.
"Carro Rei" é mais um interessante título dessa leva de filmes brasileiros que falam um pouco sobre o nosso futuro indefinido, mas que escancara o que já estamos vivenciando.
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2 comentários:
Olá, obrigado pela crítica. Só uma correção: filme CarroRei foi lançado no IFFR (Festival de Roterdã) em janeiro de 2021; o Titane foi lançado no Frstival de Cannes em maio de 2021.
Bom dia e obrigado pela informação. Será que a realizadora francesa então copiou o brasileiro? Interessante essa coincidência.
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