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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Cine Especial: Clube de Cinema de Porto Alegre: 'A Última Sessão de Cinema'

Nota: O filme será exibido para os associados neste sábado (19/02/22) na Cinemateca Capitólio as 10h15min. 

Sinopse: Depois da II Guerra Mundial, os amigos Sonny e Duane cursam o último ano da escola numa cidadezinha decadente do Texas. Duane tem planos de ser militar e namora a bela Jacy, enquanto Sonny descobre o sexo pelas mãos da esposa do seu treinador. 

Por muito tempo Hollywood vivia dentro de uma bolha, mais precisamente entre o final dos anos 30 até meados dos anos 50. Embora conhecido como tempos dourados do cinema norte americano é preciso reconhecer que esse período não retratava com exatidão os problemas, dilemas e a realidade pura que se encontrava fora da sala escura. Coube, portanto, o cinema estrangeiro dar uma cutucada na onça.

A Nouvelle vague, por exemplo, foi um movimento contestador do cinema francês, do qual o mesmo foi fundado por ex críticos que decidiram pegar a suas câmeras e filmarem uma Paris ainda nunca vista na grande tela. O movimento serviu de inspiração para outros países, mas ao mesmo tempo serviu para alertar a Hollywood que a mesma ficaria para trás caso não saísse de sua bolha nenhum pouco inspiradora. Foi então que, a partir de 1967,  que um grupo de jovens cineastas, incluindo Martin Scorsese, Brian De Palma, Steven Spielberg e tantos outros deram um novo sangue aos filmes norte americanos e iniciando aquele que é conhecido como o melhor período que acabou sendo posteriormente conhecido como a "Nova Hollywood".

Indo de carona com a contracultura da época, muitos filmes balançaram os alicerces do conservadorismo norte-americano e provando que o conto de fadas plástico que tanto vendiam não poderia continuar mais prosseguindo. Com a crise financeira, escândalo de Nixon e mais o estouro da Guerra do Vietnã, essa nova fase cinematográfica provou que se poderia sim ser lançados filmes que poderiam sintetizar o estado de espirito do norte americano que se encontrava cada vez mais abalado. Com um grande elenco, "A Última Sessão de Cinema (1971) de Peter Bogdanovich é um dos mais relevantes desse período, ao retratar uma geração que antes era vista no cinema com luz e cores, quando na verdade muitos se encontravam perdidos em suas estradas sem rumo.

Entre a 2ª Guerra Mundial e a Guerra da Coréia, dois jovens, Duane Jackson (Jeff Bridges) e Sonny Crawford (Timothy Bottoms), vivem em Anarene, uma pequena cidade no Texas. Eles se parecem fisicamente, mas mentalmente e emocionalmente são opostos. Passam boa parte do tempo no cinema ou no salão de sinuca. Enquanto Duane tenta se firmar frequentando festas de embalo, Sonny é iniciado no sexo por Ruth Popper (Cloris Leachman), a frustrada esposa do seu treinador. Mas os dois compartilham um desejo: Jacy (Cybill Shepherd).

Sem nenhum pingo de glamour do que era retratado nos filmes de bangue e bangue de antigamente, a cidade de Anarene do Texas mais parece uma cidade fantasma, das quais ainda contém inúmeras pessoas, mas que se encontram perdidas em suas vidas. Em uma época em que Hollywood ainda se encontrava tímida quando assunto era Vietnã, Peter Bogdanovich coloca em seu filme duas gerações distintas com relação ao assunto sobre a a guerra. Enquanto o personagem Sam (Ben Johnson) é um sobrevivente da 2ª Guerra que tenta pôr ordem e juízo nesta nova geração, esses por sua vez se encontram com as vidas desocupadas, cuja as aulas estão acabando e sendo seduzidos com a possibilidade de irem para a guerra da Coréia.

Em alguns momentos, por exemplo, a sensação que dá que os personagens convivem em um beco sem saída, onde a cidade em si não traz nenhuma boa expectativa, porém, a estrada empoeirada logo ali não atrai aqueles que buscam a sorte de forma imediata. Com uma belíssima fotografia em preto e branco, Peter Bogdanovich dirige o seu elenco de forma sem igual, sendo que todos ali começam um jogo do começo ao fim através de olhares que tem muito mais a dizer do que meras palavras jogadas ao vento. Esse duelo de olhar e pensamento faz com que muitos temem pela consequência dos seus atos, ao ponto que o sexo, por mais que seja um desejo da maioria dos jovens que ali se encontram, faz com que eles se tornem frios e que dificilmente conseguem obter o pouco de prazer que a cidade tem a oferecer.

Novamente, Sam acaba sendo a voz da razão daquele lugar, sendo que o seu cinema acaba sendo uma espécie de refúgio de uma realidade que aquela sociedade tenta esquecer por alguns momentos dentro de uma sala cheia de magia. Porém, quando Sam sai de cena muitos personagens perdem o controle da meada, ao ponto que os impulsos imprevisíveis da personagem interpretada pela então jovem Cybill Shepherd transbordam em larga escala. Contudo, a estrada parece fechada e fazendo, tanto ela como os demais personagens, sendo obrigados a retornar, ou adentrar em uma guerra que eles não queriam participar.

No ato final, vemos dois velhos amigos arrependidos pelos seus atritos, mas cada um decidindo caminhar em rumos separados. Enquanto um se vai para Guerra da Coreia, outro tenta sair da cidade que cada vez se torna mais desolada. Porém, se um jovem amigo deles sucumbe de forma tão infeliz antes mesmo de pedir socorro, ao menos um deles consegue estender a mão para alguém que grita em desespero em meio aquele cenário e isso é muito bem representado pela atuação extraordinária da atriz Cloris Leachman. Ao final, cada um se vê preso dentro de sua bolha, mas ao menos tendo algum pingo de esperança mesmo de uma forma tão pálida.

"A Última Sessão de Cinema" é um retrato nu e cru de uma geração que era sempre retratada no cinema com um sorriso falso pelo lado de fora, mas que se encontrava em destroços em suas entranhas. 



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