Sinopse: Bárbara Paz faz um registro sobre os últimos dias de Hector Babenco e fazendo assim uma homenagem ao seu cinema como um todo.
Eu conheci Bárbara Paz assistindo ao reality Show "Casa dos Artistas" em 2001, em que durante o percurso do programa ela colocava para fora o seu passado difícil, desde a uma infância pobre, como também pelo fato de ter perdido muito cedo o seu pai. Já na adolescência conviveu com as doenças de sua mãe, onde Bárbara ficou ao lado dela até o amargo fim e sentindo na pele o lado vulnerável do ser humano como um todo. Após isso tentou a carreira artística, mas um acidente de carro interrompeu temporariamente os seus sonhos e lhe provocando sérias cicatrizes em seu rosto.
Curiosamente, eu nunca enxerguei essas cicatrizes em seu rosto, mas sim as cicatrizes em seu olhar, onde ela carregava as passagens de uma vida em que lhe exigiu força, tanto psicológica, como também física. Com essa bagagem da qual carregou sozinha ao longo de sua vida, ela estava portanto mais do que preparada para encarar os tempos de enfermo que o seu até então marido Hector Babenco passou até em seus últimos momentos. "Babenco - Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou" (2020) não é somente uma declaração de amor que Bárbara fez ao seu marido, como também uma forma de exorcizar as suas dores internas do seu passado e de prestar uma bela homenagem a sétima arte como um todo.
Hector Babenco foi um cineasta que viveu e morreu (devido a um câncer) realizando o que fazia sua vida ter algum sentido: A sétima arte. Em relatos marcantes sobre as memórias, amores, reflexões, intelectualidade e a frágil condição de saúde do artista, o documentário revela o quanto seu amor pelo cinema o manteve vivo por tantos anos. Por conta disso, há diversos momentos em que seus clássicos invadem a tela, que vai desde a "Pixote" (1980), "O Beijo da Mulher Aranha" (1985) e "Carandiru" (2003).
Assim como o documentário "Cinema Novo" (2016), de Eryk Rocha, a diretora Bárbara Paz cria um mosaico de imagens com relação aos filmes citados acima e que transita entre as imagens de Hector Babenco, tanto nos dias em que ele vivia no hospital, como também nos seus anos de trabalho por detrás das câmeras. Com uma bela fotografia em preto e branco, a cineasta não coloca nenhum filtro e tão pouco esconde a imagem de um Babenco abatido devido a sua doença, mas que transmitia a sua força de vontade através da criação de seu cinema. O filme também faz um paralelo com a última obra do cineasta, "Meu Amigo Hindu" (2015), onde Willem Dafoe interpreta o cineasta e Bárbara interpreta si mesma.
Curiosamente, embora não possua o mesmo brilho dos seus clássicos, "Meu Amigo Hindu", ao menos, serviu para nos brindar com uma cena que foi introduzida neste documentário: a cena em que Bárbara Paz dança na chuva com a música referente ao clássico "Cantando Na Chuva" (1952). Se naquele filme essa cena não passou despercebida, aqui ela se torna ainda mais relevante, ao sintetizar o amor que o cineasta tinha pela sétima arte e Barbara criou, portanto, uma passagem que nos transmite a essência primordial que o cineasta tinha em seu interior.
Acima de tudo, é um filme que não só nos passa como foram os últimos momentos de vida do cineasta, como também nos transmite como Bárbara Paz soube lidar com o fim da vida de um ser humano. Cumprindo o desejo do seu marido, a cineasta cria um dos finais mais simbólicos do cinema brasileiro deste ano, do qual pode ser interpretado de inúmeras maneiras, principalmente devido a um ano tão complexo e exaustivo em que vivemos. Um sopro de vida para o nosso cinema e que nos dá esperança para o que virá em seguida.
"Babenco - Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou" não é somente uma declaração de amor a um cineasta, como também um exemplo na forma de melhor lidar com as adversidades que não nos mata e nos torna mais fortes na reta final da vida.
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