Sinopse: Baseado na peça
homônima escrita por Nelson Rodrigues. Ao presenciar um atropelamento, Arandir,
um bancário recém-casado, tenta socorrer a vítima, mas o homem, quase morto, só
tem tempo de realizar um último pedido: um beijo. Arandir beija o homem, mas
seu ato é flagrado por seu sogro Aprígio e fotografado por Amado Ribeiro, um
repórter policial sensacionalista.
Algumas peças de teatro, ou
obras cinematográficas, possuem tanto uma linguagem da qual sintetiza a sua época, como também tendo o sério risco de ficar preso a ela. O Beijo no Asfalto de Bruno
Barreto de 1981, não só era fiel a peça de Nelson Rodrigues, como também
caminhava de mãos dadas com as mudanças e conservadorismo daqueles tempos já longínquos.
Eis que esse novo O Beijo no Asfalto, não somente é fiel a sua fonte original,
como também consegue, de forma sublime, transitar entre o teatro, cinema e
comprovar que pensamentos conservadores de ontem ainda persistem nos dias de hoje.
Dirigido pelo estreante
Murilo Benício, o filme retrata os atos e consequências de um atropelamento
ocorrido numa avenida de São Paulo. Arandir (Lazaro Ramos) presencia um
atropelamento e tenta socorrer a vitima. Inesperadamente Arandir beija a vitima
antes desse último vir a morrer e despertando a curiosidade de seu sogro Aprígio
(Stenio Garcia), dos jornalistas e da própria policia que presenciaram o acontecimento.
Confesso que eu assisti
somente uma vez a versão da década de 80 na extinta rede manchete e, ao
assistir a essa nova versão, foi como recobrar memórias esquecidas. Porém,
enxergo uma identidade própria nessa revisita do conto, já que ela flui
tranquilamente entre o universo do teatro, cinema e os ensaios em que os atores
moldam os seus respectivos personagens. É nessas sequências, aliás, que
testemunhamos tanto a força do texto de Nelson Rodrigues, como também o grande
desempenho de cada um dos atores.
Otávio Muller, por exemplo,
surpreende na transição de momentos de humor, sarcasmo, para situações que faz com que a gente começe a sentir desprezo pelo próprio. E se Fernanda Montenegro, como sempre,
mostra a sua força, mesmo quando ela somente aparece nos ensaios, Débora
Falabella se sobressai ao descascar a sua personagem e se revelar um ser
distante do que no principio havia sido apresentado. Já Lázaro Ramos nos brinda com um desempenho completo, ao apresentar um personagem que transita entre
a razão do seu ser e ambiguidade da qual não consegue esconder.
Com uma fotografia em preto e
branco “assumidamente” crua de Walter Carvalho, o filme carrega em si um
clima de opressão dos tempos de chumbo e cuja essa sensação era também sentida, tanto na peça, como também na sua versão cinematografica dos anos 80. Curiosamente, o texto não
envelhece ao ser revisto nos dias de hoje, já que o mesmo olhar conservador
hipócrita da época (em sequências muito bem defendidas pelo talento de Stenio
Garcia) ressurge em tempos em que o Brasil é tomado por assalto por
aqueles que se dizem “cidadãos de bem”. Assim como foi dito no passado, a
própria Fernanda Montenegro diz em cena que “iremos sobreviver”, mesmo quando o
futuro nos mostra o quão iremos ter que lutar.
O novo O Beijo no Asfalto
comprova que a obra de Nelson Rodrigues sobreviveu ao teste do tempo e que,
novamente, revela um Brasil consumido pelo conservadorismo.
Onde assistir: Cinebancarios: Rua General Câmara, nº 424, centro de Porto Alegre. Horários: 15h e 19h15min.
Siga o Clube de Cinema de Porto Alegre através das redes sociais:
Facebook: www.facebook.com/ccpa1948
twitter: @ccpa1948
Instagram: @ccpa1948
Nenhum comentário:
Postar um comentário