Sinopse: Christine McPherson está no último ano do colégio e o que mais deseja é ir fazer faculdade longe de Sacramento, Califórnia, ideia rejeitada por sua mãe. Lady Bird, como a garota de forte personalidade exige ser chamada, não se dá por vencida e leva o plano de ir embora adiante mesmo assim. Enquanto a hora não chega, ela se divide entre as obrigações estudantis no colégio católico, o primeiro namoro, típicos rituais de passagem para a vida adulta e inúmeros desentendimentos com a progenitora.
Greta
Gerwig tem um papel fundamental dentro do cinema independente americano. Tendo
sua fase de ouro nos anos 90, o cinema independente de lá ganhou novo fôlego com
talentos como Greta Gerwing e o nosso produtor brasileiro Rodrigo Teixeira (A
Bruxa), sendo que ambos trabalharam juntos como produtor e roteirista no
elogiado Frances Há, filme que fez com que a crítica internacional se voltasse
novamente para esses pequenos filmes. Com Lady Bird – A Hora de Voar, Greta
comprova novamente que os melhores perfumes se encontram nos menores frascos,
ao tratar na trama de temas comuns da juventude de uma forma criativa e gostosa
de se assistir.
No caso de Lady Bird,
nossa protagonista é Christine McPherson (Saoirse Ronan de BrooKlyn), uma
adolescente comum, igual a tantas outras de sua idade e que fará com que muitas
jovens se identifiquem facilmente. Ela mora com os pais na cidade de
Sacramento, na Califórnia, no início dos anos 2000. O relacionamento com a mãe
controladora é conturbado: com personalidades muito fortes, as duas
definitivamente não combinam, sendo que é pelo pai (um desempregado, em plena
crise que afetou a economia do país na época) que Christine mantém uma profunda
admiração.
Todos os planos de
Lady Bird (apelido do qual Christine criou para si) vão por água abaixo em situações
corriqueiras da vida: cursar uma universidade na costa leste é impossível
devido às suas notas baixas; sua “carreira” de atriz é deixada de lado no
colégio, já que ela nunca consegue papéis significativos; seu namoro se
encontra em declínio, uma vez que seu namorado possui sérios problemas de
identidade. Para completar, ela não é bem a garota mais popular em seu meio; na
realidade, Lady Bird é apenas mais uma de um imenso formigueiro.
Lady Bird é uma trama
sobre um passado mais dourado, onde as desventuras da protagonista são capazes
de fazer com que o cinéfilo reviva sua própria história ao longo do percurso. Percebe-se
que tudo o que é apresentado ao longo do filme é bem cronometrado, como um relógio
suíço, para que assim nós nos identifiquemos facilmente com a jovem,
principalmente no seu primeiro ato da trama. Contudo, o filme meio que pisa em
terreno perigoso ao criar soluções fáceis que soam familiares e, portanto se
vier em sua mente títulos como As Patricinhas de Beverlly Hills e Meninas
Malvadas não se surpreendem.
Porém, não se deve
desmerecer a obra, principalmente pelo fato da cineasta colocar muito de sua
pessoa na personagem e na trama. Em Frances Há, por exemplo, era praticamente
uma obra biográfica de sua vida, em períodos em que ela precisava tomar certas atitudes
para seguir em frente. Lady Bird pode ser interpretado então como uma espécie de
prequel sobre a vida da artista, onde as transições da fase adolescente para
fase adulta se tornam um terreno muito mais perigoso para tomar então um passo
em falso.
Se o filme tem os
seus defeitos, ao menos eles são esquecidos quando nos concentramos na atuação
impecável de Saoirse Ronan, já que ela é sem sombra de dúvida é a alma do
filme. Ronan consegue muito bem caminhar numa linha fina da qual se divide entre
o drama e o humor e percorrendo até o seu final de uma forma fácil, mas ao
mesmo tempo surpreendente. Já Lucas Hedges, reconhecido internacionalmente pelo
seu desempenho em Manchester no ano passado acaba se tornando uma verdadeira
decepção e o mesmo ocorre com Timothee Chalamet (indicado ao Oscar pelo Me
Chame pelo Seu Nome) que parece que está num piloto automático quando surge em
cena.
Porém o elenco secundário
só se salva com a presença da atriz de televisão Laurie Metcalf, que aqui interpreta
a mãe dominadora da protagonista. Metchalf consegue passar uma confusão interna
de sua personagem, principalmente por não conseguir acompanhar o lado imprevisível
de sua filha, mas fincando o pé no que ela acredita e no que acha que seria
melhor para ela. As cenas das duas juntas sempre rendem momentos inesquecíveis,
principalmente nos minutos iniciais do filme e que nos faz então pular da
cadeira.
Entre altos e baixos Lady
Bird – A Hora de Voar com certeza irá no decorrer do tempo ganhar admiradores do
público jovem, principalmente por aqueles que buscam em uma obra um espelho que
reflita os seus obstáculos que se encontram na entrada da fase adulta da vida.
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