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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Cine Dica: Em Cartaz: Sem Amor

Sinopse: Boris (Alexey Rozin) e Zhenya (Maryana Spivak) estão se divorciando. Depois de anos juntos, os dois se preparam para suas novas vidas: ele com sua nova namorada, que está grávida, e ela com seu parceiro rico. Com tantas preocupações eles acabam não dando atenção ao filho Alyosha (Matvey Novikov), que acaba desaparecendo misteriosamente.

 
O cinema atual russo anda em sintonia com o que acontece em sua política, onde cada vez merece um olhar mais crítico, pois toda a política que se preze cria consequências que o povo vai ao longo do tempo sentindo. Andrey Zvyagintsev talvez seja o cineasta que mais tenha chamado atenção nesses últimos anos, pois em pouco tempo ele faz um retrato, em duras penas, sobre o fim do socialismo russo e fazendo uma severa crítica contra o capitalismo desenfreado. Se em seu filme anterior, Leviatã (2014), a destruição gradual do lar de uma família pelas mãos gananciosas vindas do poder sintetiza o que acontece com o país, Sem Amor eleva esse pensamento ao retratar uma família fria e sucumbida a maquina do capitalismo e do qual se cria uma alienação sem precedentes. 
Zhenya (Maryana Spivak) e Boris (Alexey Rozin) estão se divorciando, pois a relação entre os dois não há mais nenhum amor a ser consumado. Ambos já possuem novas relações e não dão a devida atenção ao filho Alyosha (Matvey Novikov) que cada vez se sente mais sozinho e isolado. Certo dia ele desaparece, sem que ao menos os pais se deem conta disso, mas quando eles percebem o ocorrido pode então ser tarde demais. 
Andrey Zvyagintsev não nos poupa em nenhum momento, pois já nos primeiros minutos temos uma ideia de como são realmente esse casal com sonhos partidos e que só pensam e se livrar dos problemas vindos do divórcio. O ápice desse atrito é quando ambos discutem se eles devem ou não deixar o filho deles numa instituição e começar a vida do zero. O cineasta então nos dá um soco no estômago quando foca na criança ouvindo atrás da porta e fazendo a gente compreender a sua dor quando ele encara uma realidade crua e tão pouco acolhedora.
O ambiente, aliás, não é dos mais acolhedores, já que Andrey Zvyagintsev retrata no filme uma cidade coberta por um clima nublado, onde a luz do sol se torna cada vez mais rara e não dando nenhum pouco de esperança para os personagens em cena. Os protagonistas principais, assim como personagens secundários em volta, vivem sempre distraídos com os seus celulares e tão pouco ligando com a realidade que os rodeia. O mesmo acontece com o ambiente de trabalho de Boris, onde todos parecem sucumbidos às engrenagens do trabalho, onde nem mesmo a iniciativa de um deles em fazer uma piada para descontrair acaba tendo então nenhum êxito.
Portanto o desaparecimento da criança acaba se tornando uma situação inevitável, pois o cenário já estava sendo mais do que montado para a criação desse calvário. Uma vez que ele desaparece, Zvyagintsev dá até certa esperança para o cinéfilo, principalmente quando surge em cena pessoas voluntárias que tem grande iniciativa pela busca do garoto. Porém, tanto a união forçada do casal na procura do filho, como também apresentação de uma avó tão fria quanto à mãe do garoto, potencializam a ideia de que nada disso acabara bem.
O ato final que Andrey Zvyagintsev nos apresenta serve apenas para dar continuidade a sua proposta em relação ao seu  pensamento sobre o governo atual russo. Se nos minutos finais de Leviatã testemunhamos uma casa sendo destruída para dar lugar ao progresso desenfreado do capitalismo, o simples desmonte de um quarto visto agora nesse filme serve apenas como alerta de que nada mudou e tende a piorar cada vez mais essa situação. Ao vermos os destinos finais do casal central, nos damos conta que, infelizmente, os erros terão continuidade, sejam eles repetitivos, ou então num grau mais elevado. 
Sem Amor não é somente um filme sobre a situação de um país cada vez mais sugada pelo capitalismo desenfreado, como também um retrato de uma sociedade cada vez mais se tornando ovelhas alienadas e que somente comem no pasto.          


 
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