Sinopse: Na China dos dias
contemporâneos, quatro pessoas de regiões e classes sociais muito distintas se
cruzam. A história, descrita como um "road movie com cenas de ação",
passa tanto pela barulhenta metrópole de Guangzhou quanto pela calma província
rural de Shanxi.
Um olhar cru de um
diretor chinês, que através de quatro histórias que ele cria, inspirada em
fatos verídicos, sobre como é a China atual, assusta pelo fato daqueles
acontecimentos não acontecerem somente lá, como também muito perto de nós. O sangue
já jorra de uma forma inesperada, numa situação que poderia acabar de uma forma
melhor, mas aqui é mostrada para retratar a reação do homem (ou mulher) perante
a violência que não aceita mais tão facilmente, desencadeando então um lado obscuro
da pessoa e que o leva ao caminho sem volta. Um retrato não somente da China
atual, como também da própria civilização do século 21 infelizmente.
Em pouco mais de duas
horas, Jia Zhang-ke (Em Busca da Vida) retrata o dia a dia de quatro pessoas
comuns, que embora se cruzem umas com as outras no decorrer da projeção, suas
tramas trabalham independentemente uma da outra, mesmo com o fato da violência
ser um assunto que tenham em comum. Assunto que este, vai da pessoa mais velha,
para o jovem a recém começando com a vida, mas que não consegue administrar o descontrole
de uma sociedade, que embora tenha a
faca e o queijo na mão para tudo ficar bem, não esconde o fato de não saber
lidar com o despertar da besta do interior de um ser humano. O despertar esse
que começa através das más ações de pessoas que acreditam que acham que podem
fazer o que bem entenderem, mas que no fim, querendo ou não, sofrem as conseqüências.
Acima de tudo, o
filme é sobre a perda dos valores de um ser humano, desmoronamento da família contemporânea,
o viver do dia a dia difícil, corrupção a torto e a direito, o lado cruel do
ser humano contra animais indefesos, o valor abusivo do dinheiro na vida das
pessoas que a transformam em seres como pedra e o nascimento do seu lado brutal. O filme se concentra em quatro historias, enlaçadas
através de inúmeros detalhes que exigem um pouco de nossa atenção. Bom exemplo
disso é o titulo do filme que é visto num papel de parede que avistamos na
terceira historia do longa.
Sublime é a forma de
apresentação dos personagens de cada historia que às vezes eles surgem rapidamente
dentro da historia de outro personagem. O protagonista da segunda trama surge
no inicio da trama do primeiro, que já desencadeia uma onda de violência sem precedentes
e já fazendo o cinéfilo se preparar para o que está por vir. Existem os encontros
em ônibus e trens e um dos personagens da terceira trama vai voltar ao cenário da
primeira história e fechando assim um circulo.
Talvez um dos mais trágicos
personagens do longa seja Dahai, da primeira história, um trabalhador de uma
mina que se revolta contra a corrupção local. Tenta debater, argumentar,
reclamar pelos direitos do povo aonde ele vive, mas tudo acaba de uma forma inútil.
O seu rifle enrolado em um tigre enfurecido que molda um pano, irá encher a
tela de sangue sem dó. A segunda leva a roubo e assassinato de um trabalhador
deslocado de sua região natal, que perde o contato da mulher, o filho e a
família. O terceiro caso traz à bela Zhao Tao, a mulher do diretor, que faz uma
moça que trabalha como recepcionista de uma sauna e não consegue que o homem
que ela está apaixonada deixe a sua esposa. Sem querer, ele deixa um canivete
com ela e o objeto se tornara uma arma para ela, num dos momentos mais
angustiantes do filme.
É triste a quarta historia
que envolve um jovem que tenta ajudar a família, mas que não consegue suportar
a pressão dela e o leva num caminho trágico e sem volta. Em frente aos restos
de um passado longínquo e mais dourado, a cantora de ópera chinesa pergunta
para uma platéia que se encontra quieta:
“Você entendeu o seu
pecado?”
Um toque universal apresentado
neste filme, vindo desse cineasta genial, que fala não somente sobre a China, como
também de todos os povos desse planeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário