De William Faulkner a
Harold Pinter, Antonin Artaud a Ray Bradbury, Jorge Luis Borges a Aldous
Huxley: a aventura de grandes gênios da escrita na realização de roteiros é um
dos capítulos mais ricos da relação de amores e tormentas entre o cinema e a
literatura. Celebrando a 59ª Feira do Livro de Porto Alegre, a Sala P.F. Gastal
da Usina do Gasômetro (3º andar) apresenta entre os dias 5 e 17 de novembro a
mostra Escritores no Cinema, com uma seleção de quinze títulos que trazem
roteiros assinados por nomes essenciais da literatura.
Entre os dias 5 e 10
de novembro, o elogiado musical brasileiro Filme Jardim Atlântico, dirigido por
Jura Capela, com participações de Céu, Ava Rocha e Mariana de Moraes, segue em
cartaz com uma sessão diária às 17h.
Escritores no Cinema
Entre obras-primas
consagradas e pequenos segredos, a contribuição de escritores marcou
profundamente o período clássico de Hollywood.
Foram muitos os homens das letras – interessados em novas possibilidades
de criação e também nos altos cachês pagos pelos grandes estúdios – que
encontraram no cinema uma alternativa de trabalho. Um exemplo célebre é o de
William Faulkner, cuja parceria com Howard Hawks rendeu alguns clássicos como
Uma Aventura na Martinica (1944), adaptação do “pior romance de Ernest
Hemingway”, na definição do próprio autor, tendo Humphrey Bogart e Lauren
Bacall nos papéis principais.
A invasão de grandes escritores em Hollywood
teve seu ápice entre as décadas de 1930 e 1950. Aos poucos, o descompasso entre
a liberdade criativa e as regras rígidas da indústria diminuiu a presença dos
autores. Aldous Huxley, por exemplo, teve seu argumento para Alice no País das
Maravilhas recusado por Walt Disney, com a justificativa de que aquilo era
incompreensível. Antes da experiência negativa, entretanto, o autor de
Admirável Mundo Novo deixou alguns roteiros emblemáticos como Jane Eyre (1943),
adaptação do romance de Charlote Brontë dirigido por Robert Stevenson.
Ainda na Hollywood clássica, a mostra exibe
filmes roteirizados por nomes modernistas como John Dos Passos (A Mulher
Satânica, de Josef von Sternberg) e Tennessee Williams (De Repente, no Último
Verão, de Joseph L, Mankiewicz) e mestres da escrita de gênero como Raymond
Chandler (Pacto Sinistro, de Alfred Hitchcock) e Ray Bradbury (Moby Dick, de
John Huston).
Se a partir dos anos 1970, já num contexto
moderno, o cinema norte-americano não manteve a mesma intensidade em suas
parcerias com grandes escritores, ainda encontramos obras emblemáticas com
assinaturas famosas. Entre vários trabalhos, Richard Matheson escreveu o
roteiro de Encurralado (1971), primeiro longa-metragem de Steven Spielberg, enquanto
Charles Bukowski estendeu suas obsessões literárias às telas com o roteiro de
Barfly – Condenados pelo Vício (1987), produção da Zoetrope Studios dirigida
por Barbet Schroeder.
A renovação do cinema britânico nos anos 1960
também contou com a colaboração de escritores importantes: Truman Capote
roteirizou a adaptação de A Volta do Parafuso, de Henry James, ajudando a criar
um marco do horror, Os Inocentes, dirigido Jack Clayton (1961). Figura central
da literatura moderna francesa, Marguerite Duras assinou a adaptação do roteiro
nunca filmado de Jean Genet em Chamas de Verão (1966), dirigido por Tony
Richardson, com Jeanne Moreau no papel principal. Já o dramaturgo Harold Pinter
estabeleceu uma significativa parceria com Joseph Losey na fase inglesa do
diretor norte-americano, exilado em função do Macartismo, deixando-nos
obras-primas como O Criado (1963).
A mostra também exibe três momentos distintos
da vanguarda francesa em que o cinema e a literatura estiveram próximos. Um dos
pilares do cinema experimental dos anos 1920, A Concha e o Clérigo, dirigido
por Germaine Dulac, tem roteiro assinado pelo escritor, poeta e dramaturgo
Antonin Artaud. No pós-guerra, Robert Bresson surgia como o principal nome do
cinema francês tendo Jean Cocteau como dialoguista de seu segundo
longa-metragem, As Damas do Bois de Boulogne (1945). Quando a França já vivia a
ebulição da Nouvelle Vague, no início dos anos 1960, Alain Resnais aproximou-se
de Alain Robbe-Grillet e suas propostas inovadoras do Nouveau Roman para criar
O Ano Passado em Marienbad (1961), um dos divisores de água do cinema moderno.
Para completar a programação da mostra
Escritores no Cinema, no dia 15 de novembro, sexta-feira, às 20h, acontece uma
edição especial do Projeto Raros com a exibição do filme argentino Invasão
(1969), de Hugo Santiago, com roteiro de Jorge Luis Borges a partir de história
assinada por ele e Adolfo Bioy Casares.
A mostra Escritores
no Cinema será apresentada ao longo de duas semanas e tem o apoio da
distribuidora MPLC e da locadora E O Vídeo Levou.
Mais informações e
horários das sessões, vocês conferem na pagina da sala clicando aqui.
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