A Coordenação de Cinema, Vídeo e
Fotografia da SMC promove durante a 54ª Semana de Porto Alegre uma
retrospectiva do célebre diretor lituano Jonas Mekas, que até hoje nunca teve
qualquer de seus filmes exibidos na capital gaúcha. A mostra acontece na Sala
P. F. Gastal (Usina do Gasômetro, 3º andar) entre os dias 19 e 24 de março, e
chega a Porto Alegre depois de ter passado pelo Centro Cultural Banco do Brasil
de São Paulo e do Rio de Janeiro. A programação tem entrada franca.
Nascido na Lituânia em 1922, Jonas
Mekas radicou-se em Nova
York em 1949, onde comprou sua primeira câmera de 16mm. Um
dos principais nomes do cinema de vanguarda estadunidense da segunda metade do
século XX, o cineasta colaborou com diferentes nomes da arte contemporânea, de
John Lennon e Yoko Ono a Salvador Dalí e Andy Warhol. Além do seu trabalho
autoral – que inclui filmes de ficção, documentários, diários e, mais
recentemente, obras de videoinstalação –, Mekas criou e mantém o Anthology Film
Archives, um dos mais importante arquivos de cinema de vanguarda do mundo, e a
revista Film Culture, considerada a principal publicação de crítica
cinematográfica dos Estados Unidos.
Sem dúvida, esta programação é desde
logo um dos grandes destaques da história da Sala P. F. Gastal e também da
cinefilia local, pois será a primeira vez que Mekas - um daqueles gênios do
cinema cuja obra permanece inexplicavelmente desconhecida aqui - terá seus
filmes exibidos em
Porto Alegre. Entre os destaques da programação, títulos como
os que Mekas realizou com Andy Warhol (Cenas da Vida de Andy Warhol: Amizades e
Interseções), com as irmãs Jackie Kennedy e Lee Radizwill (Esse Lado do Paraíso
– Fragmentos de uma Biografia Inacabada), alguns dos seus célebres diários
filmados (incluindo o gigantesco Ao Caminhar Entrevi Lampejos de Beleza, que
será exibido em três partes) e o filme sobre o grupo teatral Living Theater (A
Prisão).
PROGRAMAÇÃO
Ao Caminhar Entrevi Lampejos de
Beleza (As I Was Moving Ahead, Occasionally I Saw Brief Glimpses of Beauty).
Estados Unidos, 1970-1999 /2000, 288minutos.
“Meus diários em filme de 1970 a 1999. O filme cobre
meu casamento, o nascimento dos meus filhos. Nós os vemos crescer. Imagens da
vida cotidiana, fragmentos de felicidade e de beleza. A passagem das estações em Nova York , a vida em
casa, a natureza. Nada de extraordinário, nada de especial, coisas que todos
nós vivemos ao longo de nossas vidas. Este filme é também meu poema de amor
dedicado a Nova York, seus verões, seus invernos, suas ruas, seus parques.”
As Armas das Árvores (Guns of the
Trees). Estados Unidos, 1962, 87 minutos.
Dois casais – um de negros e um de
brancos – vivem em Nova York ,
onde paira, em 1960, o espectro da bomba atômica. Com interlúdios escritos e
recitados por Allen Ginsberg, este filme é a única obra de ficção de Jonas
Mekas.
Cenas
da Vida de Andy Warhol: Amizades e Interseções (Scenes from the Life of Andy
Warhol: Friendship and Intersections). Estados Unidos, 1965-82/1990, 35minutos.
Colagem das filmagens que Mekas fez
de Warhol durante o período em que conviveram. O filme alterna sequências
mostrando a dimensão pública de Warhol – vê-se sua retrospectiva no Whitney
Museum, o primeiro concerto do Velvet Underground –, com outras retratando
momentos cotidianos e íntimos: na praia, com amigos. Vemos Edie Sedgwick,
Gerard Malanga, George Maciunas, Yoko Ono, John Lennon, Caroline e John Kennedy
Jr., entre outros.
Esse Lado do Paraíso – Fragmentos de
uma Biografia Inacabada (This Side of Paradise: Fragments of an Unfinished
Biography). Estados Unidos, 1968-73/1999, 35 minutos.
Entre o final dos anos 1960 e o
início dos anos 1970, Mekas passou os verões com Jackie Kennedy, sua irmã, Lee
Radziwill, e seus filhos. O período ainda era muito próximo da morte trágica de
Kennedy e o convívio com o cinema foi uma das maneiras que Jackie encontrou
para ajudar os filhos no luto. Mais tarde, Mekas pensou em fazer uma biografia
de John Kennedy, os fragmentos inacabados dessa biografia ele reuniu neste
filme.
Lost Lost Lost. Estados Unidos,
1949-63/1976, 180 minutos.
“O período que descrevo nesses seis
rolos de filme foi um período de desesperança, de tentativas de me enraizar
nesta terra nova, de criar novas memórias. Nesses seis dolorosos rolos, tentei
descrever os sentimentos de um exilado, meus sentimentos durante aqueles anos.
(…). O sexto rolo é uma transição, ele mostra quando começamos a relaxar,
quando comecei a encontrar momentos de felicidade”.
Notas para Jerome (Notes for
Jerome). Estados Unidos, 1966-74/1978, 45 minutos.
Essa homenagem ao artista e cineasta
Jerome Hill é a primeira de uma série de retratos e elegias que Mekas irá
dedicar aos amigos falecidos. O Anthology Film Archives e a coleção Essential
Cinema existiram graças ao apoio financeiro de Jerome Hill.
A Prisão (The Brig). Estados Unidos,
1964, 68 minutos.
Em 1964 Jonas Mekas assistiu à
última apresentação da peça The Brig pela lendária companhia teatral The Living
Theatre, antes que o grupo tivesse de desocupar o teatro no qual estava
ensaiando e se apresentando. Impactado, ele convence o grupo a invadir o teatro
e a reencenar o espetáculo uma última vez, na noite seguinte.
Reminiscências de uma Viagem para a
Lituânia (Reminiscences of a Journey to Lithuania). Estados Unidos, 1971/1972,
82 minutos.
“Este filme se divide em três
partes. A primeira é composta de filmes que fiz com minha primeira Bolex quando
chegamos na América, sobretudo entre os anos 1950 e 1953. São imagens da minha
e da vida de Adolfas [ irmão do diretor], daquilo com que parecíamos na época.
A segunda parte foi filmada em 1971 na Lituânia. Quase tudo em Seminiskiai, meu
vilarejo natal. Vemos minha antiga casa, minha mãe (nascida em 1887), todos os
meus irmãos celebrando nossa volta. A terceira começa com um parêntese em
Elmshorn, onde passamos um ano num campo de trabalhos forçados durante a
guerra. Após fechar o parêntese, nos encontramos em Viena com alguns dos meus
melhores amigos.”
Restos da Vida de um Homem Feliz
(Out Takes from the Life of a Happy Man). Estados Unidos, 2012, 68 minutos.
“Em minha sala de montagem há uma
estante cheia de latas de filmes que remontam aos anos 1950. É um material
relacionado ao meu trabalho, de 1950 até hoje, mas que não encontrou seu lugar
nos meus filmes. E todas elas estão se apagando, lentamente. Algumas já
desapareceram. Quando da minha exposição na Serpentine [galeria londrina],
decidi que era o momento de reunir todo esse material neste que será meu último
filme em película.”
Walden (Diários, Notas e Esboços)
(Walden [Diaries, Notes & Sketches]). Estados Unidos, 1964-68/1968-69, 180
minutos.
“Desde 1950 mantenho um diário em filme. Tenho andado
por aí com minha Bolex e reagido à realidade imediata. Certos dias filmo 10
fotogramas, noutros 10 segundos, noutros ainda 10 minutos. Ou não filmo nada…
Walden contém materiais dos anos 1965-69, montados em ordem cronológica.”
Zéfiro Torna ou Cenas da Vida de
George Maciunas (Zefiro Torna or Scenes from the Life of George Maciunas).
Estados Unidos, 1952-78/1992, 34 minutos.
Homenagem
ao amigo de longa data George Maciunas, lituano, como o diretor, e com quem
partilhava o entusiasmo, a liberdade e o espírito anárquico que marcaram a arte
dos anos 1960. O filme traz os mais belos registros das performances do Fluxus,
grupo para o qual Maciunas foi determinante.
Informações
e horários das sessões, vocês conferem na pagina da sala clicando aqui.
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