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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Cine Dica: Em Cartaz: 'Um Casal Inseparável'

Sinopse: Apesar de não ter um relacionamento como meta, Manuela se encanta por Léo. Eles então iniciam um romance que tempos depois acaba. Em meio a conversas e reflexões, a dupla tenta chegar a um denominador comum. 

Não será hoje e nem amanhã que as comédias românticas ganharão uma revitalizada para voltar a ser o que era antes em tempos mais dourados, pois esse gênero foi tão revisitado ao longo das décadas que simplesmente se esgotou em ideias mais criativas. O que sobra é a boa vontade dos interpretes que fazem o que podem para manter a nossa atenção do começo ao final da projeção. "Um Casal Inseparável" ´ (2021) é um desses casos em que a trama romântica a gente já sabe como termina, mas que ficamos um tanto que apegados com os personagens carismáticos.

Dirigido por Sérgio Goldenberg, o filme conta a história de Manuela (Nathalia Dill), que é uma determinada professora e musa de vôlei de praia que sempre está pronta para defender seus ideais. Ela nunca pautou sua felicidade a um relacionamento e nunca planejou se casar. Porém, um dia, inesperadamente conhece o romântico Léo (Marcos Veras), um pediatra bem-sucedido, e se apaixona, mas circunstâncias da vida os separam. Em meio a brigas e saudades, e com a ajuda da manipuladora Esther (Totia Meireles), mãe de Manuela, os dois vão descobrir se são mesmo inseparáveis.

As comédias brasileiras recentes dificilmente sobrevivem ao teste do tempo e isso graças a falta de vontade de seus realizadores, pois eles sempre acabam optando em abraçar o convencional ao invés de se arriscar por algo mais original. "Um Casal Inseparável" sofre pelo fato de que já no primeiro ato da trama temos uma ideia de como tudo irá começar e de como irá terminar e olha que isso nem é muita culpa de seus protagonistas. Nathalia Dill surpreende ao interpretar uma protagonista independente, que defende com unhas e dentes pelo que acredita e fazendo a gente até duvidar que ela um dia poderia se apaixonar pelo protagonista certinho e interpretado com certa eficácia pelo ator Marcos Vera.

O problema que as fórmulas usadas e desgastadas das comédias românticas estão todas lá: o casal se conhece; o casal se apaixona; o casal briga e, por fim, o casal se casa. O que se salva é umas piadas ali e aqui e as situações bastante hilárias que o casal central passa nas mãos dos pais de Manuela, interpretados pelos ótimos Totia Meirelles e Stepan Nercessian.

Resumidamente, é um filme bem água com açúcar e que irá agradar mais para aqueles que ainda acreditam em contos de fadas, mesmo que no fundo todo mundo sabe que as absurdas fórmulas das comédias românticas somente funcionam na ficção e não no mundo real. Em tempos de hoje cinzentos, o filme serve mais para se curtir mesmo. "Um Casal Inseparável" é mais para aqueles casais que a recém se ajuntaram e que ainda estão na fase de acreditar em “até que a morte os separe”.


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quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Cine Dicas: Estreias do Final de Semana (02/09/21)

 Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis

Sinopse: Em Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, acompanhamos a história de Shang-Chi (Simu Liu), um jovem chinês que foi criado por seu pai em reclusão para que pudesse focar totalmente em ser um mestre de artes marciais. Entretanto, quando ele tem a chance de entrar em contato com o resto do mundo pela primeira vez, logo percebe que seu pai não é o humanitário que dizia ser, vendo-se obrigado a se rebelar e traçar o seu próprio caminho.


Uma Noite de Crime: a Fronteira

Sinopse: Dela e seu marido Juan vivem no Texas, onde Juan trabalha como ajudante de fazenda para a rica família Tucker. Juan impressiona o patriarca de Tucker, Caleb, mas isso alimenta a raiva e o ciúmes do filho de Caleb, Dylan. Na manhã seguinte ao expurgo, uma gangue mascarada de assassinos ataca a família Tucker, incluindo a esposa de Dylan e sua irmã, forçando as duas famílias a se unirem e lutarem enquanto o país se transforma em caos e os Estados Unidos começam a se desintegrar em torno deles.


After 3 - Depois do Desencontro

Sinopse: Baseado na série de livros “After”, da autora Anna Todd - que também assina o roteiro -, AFTER - DEPOIS DO DESENCONTRO, o terceiro filme da franquia, mostra Tessa (Josephine Langford) iniciando um novo e emocionante capítulo de sua vida. Mas enquanto ela se prepara para se mudar para Seattle para trabalhar no emprego dos seus sonhos, o ciúme e o comportamento imprevisível de Hardin (Hero Fiennes Tiffin) ameaçam o relacionamento dos dois. A situação fica mais complicada quando o pai de Tessa retorna, e revelações chocantes sobre a família de Hardin vêm à tona. No final das contas, Tessa e Hardin devem decidir se vale a pena lutar por seu amor ou se é hora de seguir caminhos separados.


O Matemático

Sinopse: Esta é a história do imigrante polonês e matemático Stan Ulam, que se mudou para os EUA na década de 1930. Stan lida com as difíceis perdas de familiares e amigos enquanto ajuda a criar a bomba de hidrogênio e o primeiro computador.


Nota: Confira também a programação completa da Cinemateca Capitólio clicando aqui.

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Cine Dica: PROGRAMAÇÃO DE 02 A 08 DE SETEMBRO DE 2021 na Cinemateca Paulo Amorim.

 SEGUNDAS-FEIRAS NÃO HÁ SESSÕES

KING KONG EM ASSUNCIÓN


SALA 1 / PAULO AMORIM


15h30 – EMA Assista o trailer aqui.

(Chile, 2021, 105min). Direção de Pablo Larraín, com Gael García Bernal e Mariana DiGirolamo. Imovision, 14 anos. Drama.

Sinopse: Ema e Gastón forma um belo casal, moderno e dedicado à dança. Mas, entre quatro paredes, sofrem por conta de uma adoção que não deu certo e também por causa do comportamento nada convencional de Ema. Entre números de danças e muitos questionamentos, a mulher embarca em uma odisseia de libertação, autoconhecimento e desejo – e faz tudo o que estiver ao seu alcance para ser mãe novamente.


17h30 – HAVA, MARYAM, AYESHA Assista o trailer aqui.

(Afeganistão, 2010, 90min). Direção de Sahraa Karimi, com Arezoo Ariapoor, Fereshta Afshar e Hasiba Ebrahimi. Imovision, 14 anos. Drama.

Sinopse: No momento em que o mundo assiste a retomada do Afeganistão pelos extremistas do Talibã, a situação das mulheres é uma das principais preocupações da comunidade internacional. Neste filme, que reflete sobre a condição feminina no país, as protagonistas são três mulheres grávidas que vivem em Cabul e são de diferentes origens sociais: Hava mora na casa dos sogros e é tratada com frieza pelo marido; Maryam é jornalista e estava prestes a se divorciar quando descobriu a gravidez; e Ayesha, que engravidou de um ex-namorado, agora precisa se casar com um primo. O longa foi indicado pelo Afeganistão ao Oscar de filme internacional.


* Na terça, dia 07, às 17h30min, exibição do filme “Amor aos Vinte Anos” (1962), de vários diretores, dentro do ciclo “Clássicos na Cinemateca – 35 anos”.


SALA 2 / EDUARDO HIRTZ


14h30 – HOMEM ONÇA Assista o trailer aqui.

(Brasil, 2021, 90min). Direção de Vinicius Reis, com Chico Diaz, Emilio de Mello, Bianca Byington. Pandora Filmes, 14 anos. Drama.

Sinopse: O roteiro acompanha dois momentos da vida de Pedro. No primeiro, em 1997, ele vive com a família no Rio de Janeiro e trabalha na Gás do Brasil, uma empresa que está passando por um duro processo de reestruturação, com demissões e aposentadorias antecipadas. No segundo momento, em 1999, Pedro vive aposentado em Barbosa, sua cidade natal, na companhia da namorada e das memórias de infância. O filme foi selecionado para a mostra competitiva do Festival de Gramado 2021, ficando com o Kikito de atriz coadjuvante para Bianca Byington.


16h30 – BAGDÁ VIVE EM MIM *ESTREIA* Assista o trailer aqui.

(Baghdad in My Shadow – Suíça/Alemanha/Reino Unido, 2019, 105min). Direção de Samir, com Haytham Abdulrazaq, Zahraa Ghandour, Waseem Abbas. Arteplex Filmes, Drama. 14 anos.

Sinopse: O café Abu Nawas é um ponto de encontro popular entre os iraquianos que vivem em Londres. É por lá que se cruzam histórias de vida como a de Taufiq, um escritor fracassado; de Amal, uma arquiteta que se esconde do marido violento; e do jovem gay Muhannad, especialista em tecnologia. Mas Taufiq acompanha com preocupação a trajetória de seu sobrinho Nasseer, que acaba de aderir ao islamismo radical.


18h30 – KING KONG EM ASSUNCIÓN *ESTREIA* Assista o trailer aqui.

(Brasil, 2020, 90min). Direção de Camilo Cavalcante, com Andrade Junior, Ana Ivanova. ArtHouse Filmes, 14 anos. Drama.

Sinopse: Um velho matador de aluguel está escondido no interior da Bolívia, na região desértica do Salar de Uyuni. Ele acaba de cumprir sua última missão e tem um sonho: ir ao Paraguai para encontrar sua única filha, que ele não conhece. Nesta longa jornada em busca do paradeiro dela, que já é uma mulher de 38 anos, ele reflete sobre a sua vida e o que restou após passar tantos anos se escondendo e matando gente. O filme foi o vencedor do Festival de Cinema de Gramado em 2020, levando os Kikitos de melhor filme e ator para Andrade Júnior (1945 – 2019).


* Na quarta, dia 08, às 18h30min, sessão do filme "Raia 4" dentro do ciclo “O que é o Cinema Gaúcho?”.


PREÇOS DOS INGRESSOS:

TERÇAS, QUARTAS e QUINTAS-FEIRAS: R$ 12,00 (R$ 6,00 – ESTUDANTES E MAIORES DE 60 ANOS). SEXTAS, SÁBADOS, DOMINGOS, FERIADOS: R$ 14,00 (R$ 7,00 - ESTUDANTES E MAIORES DE 60 ANOS). CLIENTES DO BANRISUL: 50% DE DESCONTO EM TODAS AS SESSÕES. 

Professores tem direito a meia-entrada mediante apresentação de identificação profissional. Estudantes devem apresentar carteira de identidade estudantil. Outros casos: conforme Lei Federal nº 12.933/2013. Brigadianos e Policiais Civis Estaduais tem direito a entrada franca mediante apresentação de carteirinha de identificação profissional.

*Quantidades estão limitadas à disponibilidade de vagas na sala.

A meia-entrada não é válida em festivais, mostras e projetos que tenham ingresso promocional. Os descontos não são cumulativos. Tenha vantagens nos preços dos ingressos ao se tornar sócio da Cinemateca Paulo Amorim. Entre em contato por este e-mail ou pelos telefones: (51) 3136-5233, (51) 3226-5787.


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quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Cine Dica: Em Cartaz: 'Caminhos da Memória'

Sinopse: Nick Bannister (Jackman), um investigador particular da mente, navega o mundo sombrio do passado ajudando seus clientes a acessar memórias perdidas. Vivendo nas margens do litoral da Miami submersa, sua vida muda para sempre quando ele aceita uma nova cliente, Mae (Ferguson). 

Atualmente, as grandes produções da Hollywood se limitam a somente a franquias milionárias, sejam elas pelo universo bem sucedido do MCU, ou pelos filmes de ação como "Velozes e Furiosos", sendo que neste último caso eu não entendo como ainda hoje faz sucesso. Porém, há casos dos grandes estúdios como a Warner em querer arriscar em alguns momentos, mesmo quando o resultado corra o sério risco de não ser satisfatório. "Caminhos da Memória" (2021) é um raro caso da Hollywood atual em querer se arriscar, ao usar elementos que fizeram sucesso no passado e criando assim algo, no mínimo, curioso.

Dirigido e roteirizado por Lisa Joy, cocriadora da série "Westworld" (2016), a trama se passa em um futuro distópico no qual Miami sofreu severas consequências com o aquecimento global e tornou-se praticamente submersa, um investigador particular de Miami é uma das maiores referências quando se trata de recapturar memórias perdidas ou distantes e devolvê-las a seus contratantes. Mas quando ele percebe um conflito pessoal com uma de suas clientes, a situação torna-se complicada.

Lisa Joy foi o cérebro responsável pelo lado criativo da série "Westworld", onde o passado, presente e futuro se entrelaçam em vários momentos do programa e fazendo a gente se perguntar quando determinadas situações eram reais ou uma verdadeira mentira. A realizadora, portanto, usa essa ideia sobre memórias e cria um mosaico cheio de possibilidades em uma trama que mistura ficção, subgênero noir e moldando para nascer assim um scifi noir e bem ao estilo do clássico "Blade Runner" (1982).

Visualmente o filme é extraordinário, onde o realismo nos espanta ao nos apresentar uma Miami submersa bem ao estilo Veneza e se alinhando com uma tecnologia retro bem ao estilo do já citado filme de Ridley Scott. Cortesia do brilhante trabalho do designer de produção Howard Cummings, realizador que já havia criado visualmente possíveis futuros pessimistas, como no caso do profético "Contágio" (2011). Resta saber se um dia a sua visão com relação a esse futuro irá se concretizar ou não.

Quanta a trama em si ela possui elementos familiares que são rapidamente fisgados por qualquer cinéfilo que se preze. Temos a dama fatal misteriosa (Rebecca Ferguson), onde o detetive (Jackman) aceita o seu caso e logo se apaixona por ela. É neste ponto que o filme ganha ares do subgênero Noir, sendo que só faltava a fotografia em preto e branco como cereja do bolo. Porém, as referências não param por aí.

O filme toca em assuntos espinhosos de hoje em dia, principalmente com relação ao assunto que é com relação a nostalgia. Em tempos atuais cada vez mais complexos parece que temos um desejo cada vez maior de revisitar o passado e o filme explora muito bem isso. Ao apresentar uma tecnologia que coloca a pessoa relembrando e se colocando em algum ponto do passado, Lisa Joy fala sobre uma sociedade cada vez mais dependente, não somente com relação a lembranças mais felizes, como também ao fato de depender de uma tecnologia que cria uma realidade artificial e que nos joga para fora do mundo real.

Hugh Jackman se sai bem como protagonista, ao trazer elementos bem ao estilo Humphrey Bogart do clássico "Relíquia Macabra" (1941). Sua interação com Rebecca Ferguson pode até não ser das mais convincentes, porém, essa última carrega bem o fardo de representar as damas fatais dos filmes policiais de antigamente. Porém, Thandiwe Newton, uma das grandes protagonistas de "Westworld", rouba a cena em momentos surpreendentes e não devendo em nada para outras atrizes que se submetem as cenas de ação.

Neste último caso, as cenas de ação existem, mas jamais soam gratuitas e correspondem com a proposta principal da obra. Thandiwe Newton, por exemplo, se torna a protagonista de uma cena de ação em câmera lenta e sendo algo que eu via desde os bons tempos de filmes de ação de verdade realizados pelo cineasta Chines John Woo. Já o duelo entre Nick Bannister (Hugh Jackman) e Cyrus Boothe (Cliff Curtis) que ocorre em uma sala de música abandonada às pressas, com instrumentos jogados por todo lado e um pesado piano prestes a fazer o chão arruinado pela água ceder, se torna o ápice do filme como um todo.

O filme também não esconde a sua crítica acida sobre a divisão de classes desse curioso futuro, onde os bem afortunados ficam em suas mansões longe das águas enquanto as demais classes sobrevivem com o que tem em meio as enchentes. Tudo se alinhando com elementos que cada vez mais são discutidos atualmente e que fazem dessa visão futurística não muito distante da nossa. O final, por mais incrível que pareça, é bem anti-hollywoodiano e que merece ser aplaudido.

"Caminhos da Memória" é aquele típico filme que no início será mal compreendido pelo público e a crítica, mas que com o tempo poderá se tornar em uma pequena joia a ser cultuada. 


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terça-feira, 31 de agosto de 2021

Cine Dica: Em Cartaz: 'Doutor Gama'

Sinopse: Confira a biografia de Luiz Gama, homem negro que usou leis e tribunais para libertar mais de 500 escravos. Um abolicionista e republicano que inspirou o país. 

O fim da escravidão no Brasil ocorreu em 13 de maio de 1888, porém, sendo um dos últimos países do mundo a decretar o fim dessa vergonha dentro de nossa história da humanidade. Porém, em tempos atuais em que o fascismo impera no Palácio do Planalto, parece que surgiu de uns tempos para cá homens brancos que se acham no direito de calar a voz de pessoas negras e tendo o desejo de colocar as mesmas novamente nas senzalas. "Doutor Gama" (2021) vem para nos dizer que essa luta pela liberdade já existia muito antes do fim da escravatura e que essas vozes não foram caladas ontem e tão pouco serão caladas hoje.

Dirigido por Jeferson De, Doutor Gama é um filme biográfico sobre a vida do escritor, advogado, jornalista e abolicionista Luiz Gama, uma das figuras mais relevantes da história brasileira. Ele utilizou todo seu conhecimento sobre as leis e os tribunais para libertar mais de 500 escravos durante sua vida. Nascido de ventre livre, Gama foi vendido como escravo aos 10 anos para pagar dívidas de jogo de seu pai, um homem branco. Mesmo escravizado, ele conseguiu se alfabetizar, assim conquistou sua liberdade, se tornando um dos mais respeitados advogados de sua época.

Infelizmente é preciso eu dar um puxão de orelha com relação a essa produção de Jeferson De, pois o primeiro ato não retrata exatamente passo a passo sobre a origem do protagonista. Embora testemunhemos Gama ainda como criança sendo vendido de forma ilegal como escravo, por outro lado, o realizador agilizou por demais as passagens da história, onde não demora muito para vermos Gama já adulto e defendendo os homens livres sendo vendidos como escravos ilegalmente. Em tempos em que a nossa história é sempre jogada de forma mastigada por essa geração presa as redes sociais e Fake News, não seria por demais passar com mais detalhes as raízes desse personagem histórico que nós tivemos.

Porém, embora com poucos recursos, os realizadores criaram uma ótima reconstituição de época, cuja a fotografia de cores quentes sintetiza um Brasil em transição com relação as mudanças, mesmo quando ali ainda havia homens brancos, ricos e conservadores que não queriam em Hipótese alguma as ondas da mudança: a cena em que vemos um escravocrata sorrindo ao vermos o conhecimento em chamas sintetiza muito bem isso.

Cesar Mello se sai bem ao interpretar Luís Gama, cuja a sua caracterização se assemelha e muito ao personagem histórico. Porém, é em seus discursos que o interprete sai de cena, dando lugar ao Luís Gama e fazendo nos lembrar que nem todas as leis criadas por um país que se diz livre são realmente válidas para todas as pessoas. Isso é ainda aumentado em potência máxima em um julgamento que pode decretar a morte de um escravo por ter matado um escravocrata estuprador.

Em tempos em que policiais fascistas praticam asfixia contra pessoas negras que foram unicamente para o mercado comprar comida, o filme vem no momento certo, mesmo ele não sendo perfeito em alguns pontos como eu citei acima. O importante é a mensagem que nos passa e o esforço para que ela seja ouvida, seja para todas classes, origens e credo. E caso a mensagem não seja passada e praticada aí sim estaremos todos perdidos.

"Doutor Gama" é uma produção simples, mas de suma importância para ser ouvida e discutida em tempos de declínio e retrocessos. 

NOTA: O filme também se encontra no GloboPlay. 

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segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Cine Dica: Em Cartaz: 'A Nuvem Rosa'

Sinopse: O mundo enfrenta um fenômeno assustador: uma nuvem rosa e mortal tomou conta do planeta, obrigando todos a ficarem em casa. Presa ao lado de Yago, Giovana luta para se adaptar à nova realidade. 

Não é de hoje que o cinema prevê diversos momentos que aconteceriam posteriormente em nossa história. No filme "Contágio" (2011), por exemplo, Steven Soderbergh havia criado de forma assombrosa um cenário muito semelhante com o nosso atualmente, em que o mundo é assolado por um vírus mortal e cujo o distanciamento e o isolamento seriam formas que usaríamos para nos defendermos do coronavírus. "A Nuvem Rosa" (2021) é um filme criado antes dos eventos do início da pandemia e nos surpreendendo por usar alguns elementos que antecipam o que seria o nosso dia a dia.

Dirigido por  Iuli Gerbase, o filme conta a história de Giovana (Renata de Lélis), que fica presa em um apartamento com Yago (Eduardo Mendonça), um cara que havia recém conhecido em uma festa, após a chegada de um gás tóxico. Enquanto esperam a situação passar, eles precisam viver como um casal. Ao longo dos anos, Yago vive sua própria utopia, enquanto Giovana sente-se cada vez mais aprisionada.

Rodado em Porto Alegre, Luli Gerbase cria um filme claustrofóbico, já que toda a trama se passa unicamente em um único apartamento, enquanto o mundo de fora a gente somente tem pequenos vislumbres através da tv ou das redes sociais. Aos poucos testemunhamos os dois protagonistas tentando se reinventarem e se organizarem para sobreviver perante a nova realidade, mesmo tendo a fé que logo tudo isso irá passar. Por conta disso temos um cenário similar ao nosso, desde a interação das pessoas através das lives como também da distribuição de alimentos através dos drones.

Com uma fotografia rosada da qual representa essa nova realidade, vemos o casal principal se conhecendo aos poucos, se apaixonarem, mas também tendo as típicas desavenças de um casal de hoje em dia. Porém, tudo gera uma certa tensão, pois nunca sabemos o que acontecerá posteriormente, já que ambos vivem uma situação que os impedem de praticarem o que faziam antes da nuvem. O ápice dessa relação está no fato de ambos acabarem tendo um filho e gerando assim maior responsabilidade e também a deterioração do casal aos poucos.

Renata de Lélis está ótima como Giovana, onde a sua personagem transita entre a razão e a loucura perante a possibilidade de nunca mais fazer o que fazia antes. Já Eduardo Mendonça cria para Yago uma personalidade ambígua, da qual deseja a realidade de volta, mas também abraçando a possibilidade de que essa nuvem opressora jamais passe. O filme, portanto, abre um grande leque em que é jogado no nosso colo diversos debates sobre o mesmo assunto e fazendo com que nos coloquemos no lugar dos protagonistas e fazendo a gente se perguntar como a gente agiria em uma situação como essa.

Acima de tudo, o filme fala sobre o que nos faz humanos atualmente, onde nos encontramos cada vez mais presos em redes sociais, lives jogos eletrônicos e diversos aplicativos que facilitam as nossas vidas. Porém, nada substitui a interação dos seres humanos uns com os outros, assim como também sentirmos areia da praia em nossas mãos e coisa que a realidade virtual de um óculo de última geração nunca irá nos dar. O epílogo, aliás, acaba sendo bastante corajoso, já que ele deixa em aberto sobre o destino daqueles personagens, assim como o nosso que não sabemos ao certo quando voltaremos a ter a realidade que tínhamos antes do coronavírus.

"A Nuvem Rosa" é sobre a humanidade sendo obrigada a se reinventar em uma realidade não muito diferente da nossa em tempos de pandemia e nos surpreendendo pela sua previsão assustadora. 


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sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Cine Dica: Streaming: 'Val'

Sinopse: Val é um documentário sobre o grande astro norte-americano Val Kilmer. O filme se aprofunda na carreira e vida pessoal do ator, apresentando ao público um lado pouco visto da estrela.

Cinema é arte enquanto Hollywood é uma indústria e cujo o intuito é somente arrecadar milhões em bilheteria com as suas superproduções. Não que os grandes estúdios de lá não tenham criado grandes obras primas, pois basta estudar sobre história de cinema que irá conhecer, por exemplo, a "Nova Hollywood' e que para muitos é apontado como o melhor período do cinema norte americano. Hoje em dia, infelizmente, esse lado perfeccionista e autoral de diretores e interpretes anda se evaporando, sendo que é raro um profissional dessa área obter carta branca para adquirir qualquer projeto e fazer dele o que bem entender.

Por conta disso, ano após ano, sempre surgem cineastas ou interpretes que se tornam grandes promessas para a sétima arte, mas que acabam sendo mastigados e até em alguns casos cuspidos para a vala do esquecimento. Dentre os inúmeros casos está Val Kilmer, ator de grande talento, mas que viu os seus sonhos serem esmagados, seja pela indústria ou pelos próprios percalços que a vida nos dá. "Val" (2021) é um documentário revelador, onde mostra o lado humano de um grande astro e cujo o maior sonho era alcançar a liberdade para interpretar os mais diversos personagens do seu jeito.

Dirigido por Leo Scott e Ting Poo, o documentário é narrado pelo filho de Val Kilmer, enquanto esse último se revela o que ele é atualmente. Vítima de um câncer na garganta, o ator vive se recuperando aos poucos, usando um aparelho para poder falar enquanto viaja pelo país para divulgar os seus trabalhos do passado. Sem efeitos visuais, ou explosões, apenas um retrato de um homem comum, porém, de enorme talento que ainda quer nos brindar.

Antes de mais nada é preciso tirar o chapéu pelo farto material de vídeos caseiros que Val Kilmer havia guardado, pois as imagens revelam os primórdios de sua vida, de tempos que brincava de filmar diversas histórias ao lado do seu irmão que, infelizmente, acabou falecendo logo cedo. Embora sendo filho de pais bem sucedidos, Kilmer sempre procurou a sua independência, ao menos no ramo do cinema, mas para isso mal sabia o grande trabalho que teria ao longo desse percurso. Curiosamente, é impressionante ver ao lado do jovem Val Kilmer astros que mal sabiam que um dia ganhariam o estrelato, como no caso de Sean Penn e Kevin Bacon.

Começando como herói coadjuvante em filmes como "Willow - Na Terra da Magia" (1988) e Top Gun (1986) o ator obteria o papel que o consagraria em "The Doors" (1991), onde interpreta o vocalista Jim Morrison, dando um verdadeiro show de interpretação e encarnando o cantor com perfeição. Parecia que a partir desse papel o astro obteria qualquer papel quisesse, mas não escapando de certas armadilhas. Segundo o próprio ator, interpretar o Batman é realizar um sonho que tinha desde criança, mas mal sabendo que esse sonho viria a se tornar em um enorme pesadelo.

Em "Batman - Eternamente" (1995) o ator conheceu de perto o que é a verdadeira face da Hollywood, que ao menos naquele tempo enxergava os filmes baseados em HQ como um mero entretenimento para obter lucro, vender camisetas, refrigerantes e brinquedos. Por conta disso, os dotes de interpretação do astro ficaram de lado, se tornando um mero boneco emborrachado e se tornando uma marionete que somente se movia de um lado para o outro de acordo com as ordens do diretor. Embora tenha feito certo sucesso de bilheteria, não é à toa que Val Kilmer veio a desistir de uma continuação e embarcando em um filme que o desafiava que era "O Santo" (1997).

"Fogo Contra Fogo" (1995) e "A Sombra e a Escuridão" (1997) deram certo alivio para o ator, mas não escapando da bomba que foi "A Ilha do Dr. Moreau" (1996), filme que somente aceitou para obter a chance de estrelar ao lado de Marlon Branco, mas sendo que o último mal aparecia nos sets filmagens. Neste enredo, o documentário revela os altos e baixos da carreira do ator, do qual o mesmo não se intimida de se revelar como ele está atualmente diante das câmeras e revelando um pouco do seu dia a dia ao lado dos filhos. Ao mesmo tempo é emocionante quando, por exemplo, vemos o ator passar mal em uma sessão de autógrafos, mas logo voltando ao local e agradecendo aos fãs pelo apoio.

Aos poucos, vemos em cena a sua carreira declinar, começando atuar em filmes cada vez mais duvidosos e somente para sustenta-lo e que pudesse dessa forma alcançar os seus objetivos. Curiosamente, o maior sonho do ator era levar para as telas uma atuação da qual ele dá vida ao comediante Mark Twain (1835-1910), que há quem diga foi um dos primeiros comediantes de stand-up de que se tem notícia. A ideia não foi levada para o cinema, mas ao menos o astro conseguiu levar o seu trabalho para uma peça de teatro e conseguindo realizar, enfim, o seu sonho.

Logo após isso vemos Val Kilmer enfrentar de forma inesperada o câncer que atingiu a sua garganta e tendo que usar desde então um aparelho que pudesse falar. Isso não o impediu de continuar como um artista, sendo que as suas pinturas que são jogadas na tela se tornam um aperitivo a mais para esse documentário tão revelador. Ao final, vemos um interprete alcançando a sua redenção, seja na vida pessoal, ou profissional e jamais desistindo mesmo quando o mundo deu todos os motivos para desistir ao longo do percurso.

O documentário em si é um verdadeiro tapa na cara contra a Hollywood, da qual a mesma vive das aparências, fabricam os seus grandes astros dos quais os mesmos são jogados a inesgotáveis franquias, mas sem se preocupar com o que pode vir em seguida. Val Kilmer é um de muitos exemplos de talentos que foram mastigados por essa indústria, mas que se viu ele próprio recomeçar do zero e sem ajuda dos grandes estúdios que sempre prometeram sonhos infinitos. O sonho acaba, mas a vida continua e não importa para qual tipo de pessoa.

"Val" é um documentário corajoso que fala não somente de um astro, mas sim de um homem que sobreviveu contra as engrenagens do mundo do entretenimento hollywoodiano.    

Onde Assistir: Amazon Prime.

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