Quem sou eu

Minha foto
Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

Pesquisar este blog

Mostrando postagens com marcador Dr. Fantástico. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Dr. Fantástico. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Cine Especial: 'Dr. Fantástico - Quando o perigo é o lado imbecil do ser humano.

Sinopse: Um general insano que acredita que os comunistas planejam dominar o mundo dá ordens para bombardear a Rússia, iniciando processo de guerra nuclear. Ao mesmo tempo, o presidente e seus assessores do Pentágono tentam desesperadamente parar o processo. 

No auge da Guerra Fria (1947 – 1991) sempre havia o temor do fim do mundo vir a ocorrer devido as bombas nucleares que poderiam ser iniciadas graças a rivalidade entre os EUA e a antiga União Soviética. Verdade seja dita, essa rivalidade não passava de uma briga de egos para ver quem era a potência mais forte, ou como se fossem dois grandes machistas que ficam fazendo comparações com os seus pênis para ver quem se daria melhor na cama. O clássico "Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba" (1964) permanece mais atual do que nunca porque esse machismo imbecil ainda comanda diversos governos pelo globo e fazendo com que nós fiquemos sempre a beira do precipício.   

Dirigido pelo mestre Stanley Kubrick, o filme conta a história de um general americano que acredita que os soviéticos estão sabotando os reservatórios de água dos Estados Unidos e resolve fazer um ataque anticomunista, bombardeando a União Soviética para se livrar dos "vermelhos". Com as comunicações interrompidas, ele é o único que possui os códigos para parar as bombas e evitar o que provavelmente seria o início da Terceira Guerra Mundial.   

A origem do conflito dentro da trama é, por vezes, muito absurda, mas verossímil perante ao fato que hoje testemunhamos nas redes sociais diversos políticos incompetentes que mais preferem se aparecer lançando as suas ideias ideológicas do que ajudar o país. Stanley Kubrick tinha um grande temor pela possibilidade de o fim do mundo vir acontecer através das bombas nucleares, pois já naquela época ele possuía um olhar crítico com relação ao lado irracional do ser humano e do qual está sempre disposto a cometer atos imbecis devido ao seu ego. Baseado no livro "Alerta Vermelho", escrito pelo ex-tenente da Força Aérea Britânica Peter George, o diretor pegou esse material com teor sério para criar uma comédia de humor sombrio, mas como uma forma de combater o seu medo interior e lançar, enfim, um olhar crítico cheio de humor com relação aqueles tempos paranoicos.    

Rodado com uma belíssima fotografia em preto e branco, o filme tecnicamente possui uma beleza mórbida, como se aquela realidade não colorida, talvez, tenha perdido o lado da razão já a muito tempo. Se por um lado vemos soldados norte-americanos sendo jogados em uma missão da qual eles não têm a menor noção da gravidade da situação, do outro, temos os governantes de ambos os lados procurando dialogar na Sala de Guerra do Pentágono, mas se preocupando mais com os seus pensamentos pessoais do que buscar uma solução para a situação.  O resultado é piadas que nos fazem rir, mas que não esconde a gravidade da situação da qual os personagens se encontram ali.   

É incrível, por exemplo, como o discurso anticomunista daquela época não é muito diferente de hoje em dia, pois a paranoia e a estupidez não morreu, mas sim sobreviveu para manter viva a ideia capitalista que nos governa. Basta pegarmos como exemplo o personagem General Jack Ripper, interpretado pelo veterano Sterling Hayden, sendo que ele próprio é o responsável pelo conflito da trama e cujo os seus motivos pessoais são, por vezes, absurdos demais para serem imaginados. O seu discurso sobre o perigo comunista e de como surgiu esse temor dentro dele é irracional, mas absurdamente real, pois basta pegarmos em um único dia o twitter e constatarmos que ainda há vários Jack Tipper por aí.   

O filme também se destaca pela atuação assombrosa de Peter Selles, que não interpreta um, mas sim três personagens: Capitão Lionel Mandrake, o Presidente dos EUA e o ex nazista Dr. Folamour, que é o Dr. Fantástico que dá título ao filme. Curiosamente, esse último personagem tem somente poucos momentos, mas o suficiente para roubar a cena e cuja as suas falas e trejeitos que o próprio ator criou durante as filmagens são de uma imprevisibilidade estupenda.   

Peter Selles é a alma do filme, já que os seus improvisos durante as filmagens surgiam sempre do nada e surpreendendo até mesmo Stanley Kubrick. Na cena do telefone, por exemplo, do qual ele interpreta o Presidente, Selles improvisou em diversos momentos as suas falas e arrisco a dizer que os olhares dos outros intérpretes naquele momento são de tamanho espanto e não sabendo ao certo o que fazer naquele momento. O veterano George C. Scott também não fica muito atrás, ao interpretar um general também viciado pelo anticomunismo e que não esconde as suas necessidades com relação ao sexo justamente meio ao conflito.   

Voltando a Peter Selles, vale lembrar que ele interpretaria o Major King Kong, mas devido ao grande esforço físico que o papel lhe exigia e de ter quebrado o tornozelo, o personagem acabou caindo no colo do ator Slim Pckens. Aliás, a figura do personagem é uma forma satírica que Stanley Kubrick faz ao cidadão norte americano, do qual ele é jogado em uma guerra não declarada e tudo que ele faz é somente com relação ao que foi lhe ensinado no decorrer da vida. A cena dele cavalgando em cima de uma bomba nuclear sintetiza o lado irracional e irresponsável da potência norte americana perante o assunto e se tornando um momento de grande impacto e cheio de simbolismo.

Com um final dominado pela voz de Vera Lynn, cantando We’ll Meet Again, canção muito simbólica também para vários soldados da 2ª Guerra Mundial, constatamos que, quase sessenta anos depois do seu lançamento, "Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba" envelheceu muito bem, pois ainda hoje, infelizmente, somos governados por imbecis. 


Onde Assistir: Alugue pelo Youtube clicando aqui ou compre a edição especial do filme pela Versátil clicando aqui. 

Joga no Google e me acha aqui:  
Me sigam no Facebook,  twitter, Linkedlin e Instagram.