Nota: Filme exibido para os associados no último sábado (9/09/23).
Sinopse: O casamento de um casal gay entra em crise quando um deles impulsivamente começa um caso.
Um diretor autoral, por vezes, é um perfeccionista que deseja a todo custo que o seu filme se torne perfeito, mas nem que para isso torne a vida dos intérpretes em um verdadeiro inferno. O clássico "Blade Runner" (1982) é um caso em que houve muitas lendas nos bastidores, onde o realizador Ridley Scott não excitava em repetir a mesma cena diversas vezes e testando a paciência de astros como Harrison Ford. "Passagens" (2023) é um retrato fictício de um cineasta obsessivo, não somente pelo seu trabalho, como também nos seus relacionamentos amorosos e do qual ele busca um equilíbrio, por vezes, impossível.
Dirigido por Ira Sachs, o filme começa no último dia de filmagem em Paris de um filme, onde o diretor de cinema Tomas (Franz Rogowski) dorme com uma mulher - e conta com orgulho ao marido. A novidade de estar com uma mulher é uma excitante experiência, que ele está ansioso para explorar, apesar de seu casamento com Martin (Ben Whishaw). Depois de finalizar seu último projeto, o cineasta impulsivamente começa um caso de amor tórrido com a jovem professora, Agathe (Adèle Exarchopoulos). Porém, uma relação apaixonada, ciumenta e narcisista se desenrola entre Tomas, Agathe e Martin. E quando Martin inicia seu próprio caso, o instável tomas volta sua atenção para o marido.
Antes de mais nada é preciso dizer que o filme pertence como um todo ao ator Franz Rogowski, já que ele constrói para o seu personagem Tomas um ser mesquinho, pretencioso e acima de tudo controlador. Se no início da trama ele apresenta esses pontos através do seu projeto cinematográfico, em termos de relacionamento não é muito diferente, já que ele não aceita que o mesmo esfrie e iniciando algo de diferente para revitaliza-lo. Não há como negar que a química entre ele e Adele Exarchopoulos é perfeita no primeiro ato da trama, sendo que é verossímil o momento que eles se entregam a tórridas cenas de sexos e das quais atriz já está mais do que acostumada desde o ótimo "Azul é a Cor mais Quente" (2013).
O sexo, por sua vez, é o catalizador que gera o conflito, já que ele se torna morno entre o casal Tomas e Martin e fazendo que ambos gerem caminhos diferentes. Porém, uma vez afastados isso se cria um laço para que ambos voltem a qualquer momento, mas gerando um clima destrutível, como se a qualquer momento eles se machucassem neste jogo de desejo. Vale destacar que Ben Whishaw se sai bem ao interpretar uma pessoa que busca administrar e compreender os sentimentos do seu parceiro, sendo que esse último também não sabe o que realmente procura em alguns momentos.
Logicamente o filme vem em um período em que relacionamentos atuais do mundo real se encontram cada vez mais indefinidos, onde as pessoas procuram mais pela sua independência ao invés de construir uma família e que dá qual poderá futuramente se deteriorar. No caso de tomas ele busca sempre em velocidade constante o desejo de realizar algo que não condiz com os desejos do seu próximo e fazendo com que se torne uma pessoa doentia pelo olhar dos demais e correndo o risco de ficar isolado e sem saber para onde ir. Neste último caso, o protagonista parece buscar obter as suas próprias raízes e ignorar as verdadeiras de onde ele realmente veio e fazendo com que a cena final com relação ao seu destino se torne em aberto, pois a sua obsessão pela perfeição gerou destruição no ponto onde poderia gerar bons frutos.
"Passagens" fala sobre a obsessão de pessoas que buscam a perfeição nos relacionamentos, mas se chocando com o fato de que o mundo real jamais será perfeito.
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