Sinopse: Aggeliki (Chloe Bolota) no seu aniversário de 11
anos se joga da varanda de casa com um sorriso no rosto. Sua família alega que
não foi suicídio, mas sim um acidente e
parece conformada com a morte da menina tentando, de todas as formas,
continuar com suas vidas, perfeitamente organizadas. Em busca de respostas,
promotores começam uma investigação para saber se foi, ou não suicídio e quais
são os segredos obscuros que essa família, aparentemente perfeita guarda.
Cortinas semiabertas, lâmpadas amarelas e carpetes muito limpos criam a cena: uma família
de classe média, em algum lugar da Grécia, dissimula um cotidiano de muita
violência em tons pastéis e álbuns sorridentes. Miss Violence, o último filme
grego a ganhar destaque nos festivais internacionais, é pesado e discreto.
Dirigido por
Alexandros Avaranas, Miss Violence é carregado de dor e sofrimentos internos. O
mal estar é construído de maneira progressiva pelo roteiro bem desenhado e
argumentos bem articulados, apresentados em uma ordem cronológica
surpreendente. Impactante seria uma boa descrição.
O cinéfilo assume um
papel de coadjuvantes nesta produção, pois sente o clima pesado o tempo todo. A
perturbação aflora ao longo do filme e o mistério do lugar ao asco. A
impotência e a falta de esperança de uma sociedade são expostas por uma família
fora do convencional. Aparentemente uma família grega comum, com aspectos
tradicionais, é comandada pelo patriarca. A filha e suas netas apresentam, ao longo
da película, aspectos conflitantes. Nestes pontos, o mal estar vai sendo
construído através da figura autoritária e machista do chefe da família.
Conforme a trama de
Miss Violence segue adiante, o drama
atinge níveis irreversíveis. O filme caminha crescente até chegar ao pico. O
extasiante é que este extremo é mantido por muito tempo. Até o final da
história, a impotência, o desespero e outros sentimentos explodem em lindos
planos com bela fotografia.
O primeiro mérito do
filme que deve ser destacado está em sua abertura, que já inicia a narrativa
com uma cena de puro impacto. O ponto de reviravolta é sonorizado pela voz de Leonard
Cohen em Dance me to the end of love, que prenuncia o suicídio da menina
Angeliki, acontecimento que começa a denunciar o pacto de silêncio que a
família guarda há décadas. A construção quase geométrica da cena segue no filme
inteiro. Os enquadramentos são muito bem calculados, com muitos planos abertos
que mostram a impecabilidade ordeira da direção de arte.
O conjunto de planos
com trilhas adequadas passam contrastes e diversos significados para cada ato
da tragédia familiar. A impotência exposta gera ações e reações que surpreendem
até o fim do longa. Já a impressão do espectador é clara. O incomodo presente
chega a impedir elogios no fim das sessões. Justamente por isso, a película
atinge seu objetivo e impressiona, causando mal estar latente.
O longa funciona como
uma denúncia, sendo mais uma forma de escancarar esta violência silenciosa do
que uma busca investigativa por motivo, culpado, e cena do crime. Mesmo
trazendo cenas explícitas perto do final, ele consegue ser ainda mais brutal
com portas se fechando, rezas na mesa do jantar e com uma câmera parada no
corredor de um apartamento. Treinar bem os atores é um dos méritos que garantiu
a Avranas o prêmio de melhor cineasta. No lugar de criar um drama cheio de
choros, gritos e gestos pantomímicos, os atores buscam a eliminação de qualquer
fala em tom desregular, gestos efusivos e expressões fortes. A postura da
família, que funciona de maneira quase mecânica e muito bem pensada, causa
sempre estranhamento e é sempre evidenciada com a espontaneidade de personagens
que não fazem parte do núcleo central.
Miss Violence é pesado, mas
não procura escandalizar. A aparente normalidade que o filme vende não deixa a
história ser lida como absurda, no sentido de excepcional. Apesar de toda a
violência, tem o cuidado de não criar um distanciamento entre o público e os
personagens, permitindo que criemos empatia e instigando a discussão para fora
do cinema. O que ele tem de absurdo consegue ser transposto e pensado para
realidades mais comuns, mas não menos violentas.
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