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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Cine especial: O que assistir no dia 21 de dezembro: Parte 2


É o mundo não acabou, sendo que talvez seja melhor presenciar o apocalipse na ficção mesmo. Com isso, solto abaixo outras duas opções para se assistir num possível dia fatídico dos fim dos tempos que, graças a Deus, nunca virá.   

MELANCOLIA

Sinopse: Um planeta chamado Melancolia está prestes a colidir com a Terra, o que resultaria em sua destruição por completo. Neste contexto Justine (Kirsten Dunst) está prestes a se casar com Michael (Alexander Skarsgard). Ela recebe a ajuda de sua irmã, Claire (Charlotte Gainsbourg), que juntamente com seu marido John (Kiefer Sutherland) realiza uma festa suntuosa para a comemoração.

Simplificando, os filmes de Lars von Trier são incômodos e geniais. Dito isso, é difícil imaginar um filme que passe essa sensação de se sentir incomodado, mas ter a certeza de que assistiu algo de diferente se comparado com os filmes convencionais. Os seus filmes nada mais são do que uma representação do seu estado de espírito enquanto estava criando suas obras. Se em O Anticristo, ele estava em um estado de depressão total, o que ele estava passando então, quando criou esse filme que passa o temível desconforto de encarar o inevitável? A certeza de que todos nos teremos um fim?
Assim como em seus filmes anteriores, a trama começa com um prólogo (belíssimo) onde vemos um resumo de um ponto de vista diferente de toda historia que virá a seguir. Embalado com a bela opera de Tristão e Isolda, de Richard Wagner, as cenas são todas em câmera lenta onde elas mostram tudo e ao mesmo tempo explicam pouca coisa e as respostas somente viram no decorrer do filme dividido em duas partes, entretanto, já temos uma idéia do derradeiro final. No primeiro capitulo, vemos a festa de casamento de Justine (Kirsten Dunst, no melhor momento de sua carreira) com seu noivo Michael (Alexander Skargard, da serie True Blood) cuja cerimônia foi paga pelo marido (Kiefer Sutherland) da sua irmã Claire (novamente Charlotte Gainsbourg de Anticristo).
Já nesta primeira parte, vemos todas as características que o diretor usou nos seus filmes anteriores, como a sensação de câmera na mão e sempre focando bastante o rosto e olhar dos personagens, onde são mostradas gradualmente, as mudanças de personalidade de cada um. Bom exemplo disso é a própria protagonista Justine, que se no inicio demonstrava toda a felicidade do seu dia de casamento, aos poucos, mostrasse uma mulher com inúmeras camadas de personalidade, nas quais se distancia das suas primeiras cenas dela, antes de ir ao local da festividade. Ponto para Kirsten Dunst que entrega um dos seus melhores desempenhos desde As Virgens Suicidas e com certeza poderia ser lembrada no próximo Oscar. Outro fato interessantíssimo que ocorre durante a festa, é o fato de o diretor fazer um pequeno retrato da família perfeita “superficialmente”, mas que por dentro, já não aguenta mais tantas mascaras, nas quais esconde o que realmente sente com relação à família e casamento. Momento muito bem representado pela mãe das irmãs (interpretada de forma extraordinária pela atriz Charlotte Rampling) onde deixam todos os que estão presentes desconcertados. E se a mãe é assim, vemos um pai no maior desdém pela situação e pouco realmente se importando com os problemas internos de uma das filhas, num papel muito bem representado pelo veterano John Hurt (O Homem Elefante). Somando dois mais dois, essa primeira parte pode ser muito bem vista como um retrato da desarmonia familiar ou o estado de espírito das pessoas perante o que estará por vir. E se esse segundo ponto foi mais sugestivo na primeira parte, na segunda é totalmente escancarado.
Nesta (derradeira) parte, vemos Claire (Charlotte) tentando de todas as formas manter se firme e forte (assim como no capitulo anterior) para ajudar sua irmã Justine que se encontra (a principio) em depressão e cuidar de todas as formas do seu filho. Ao mesmo tempo fica se sentindo insegura sobre o fato da aproximação do planeta Melancolia, mesmo que seu marido (Sutherland) sempre tenta deixar claro que Melancolia irá passar pela terra sem criar maiores danos. O interessante nesta parte, é  que as duas irmãs vão mudando novamente suas personalidades com a aproximação do fim de tudo. Enquanto vemos Claire começar a se desesperar e ter sua segurança de si se desfalecer, vemos Justine aceitando o derradeiro fim, dando ao mesmo tempo a entender que o fim de tudo seria uma forma de se desvencilhar de uma vida de dor, sofrimento e desprezo, se tornando então, uma mulher forte perante o fim.
Chegando aos momentos finais da trama, percebemos que ambas as personalidades das irmãs mudaram de uma forma como se tivessem trocado de papeis no decorrer do filme, ao ponto, que podemos interpretar como elas sendo um único ser de múltiplas personalidades ou unicamente elas representam dois lados da mesma moeda. Ou então, simplesmente são irmãs vitimas do desprezo paternal (principalmente da mãe) de uma forma implacável e a aproximação do planeta destruidor nada mais é do que uma metáfora dessa situação. Por fim, mesmo que o filme não tivesse nada disso, já valeria pelos minutos finais aterradores em que mostra, não somente o final  das protagonistas (já anunciado no inicio do filme) como também passa em uma única cena a representação do inevitável e amargo fim que dificilmente se consegue escapar. O filme acaba e tentamos mentalmente continuar com historia em nossas mentes, mesmo que isso pareça um pouco que improvável.
Lars Von Trier é isso: um incomodo por nos proporcionar sensações das mais diversas, não importa que tipo de gênero ele faça, sempre estará lá seu estado de espírito em seus filmes, para nos fazermos sentir a cada momento. Quem procura um filme catástrofe convencional, passe longe desse. Esse, não é para os fracos.
   
Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo

Sinopse: Dodge (Steve Carell) foi abandonado pela esposa após descobrir que um meteoro se chocará com a Terra em um curto espaço de tempo. Decidido a recuperar o tempo perdido, ele sai numa viagem para encontrar uma namorada dos tempos de escola e acaba conhecendo Penny (Keira Knightley) no meio dessa confusa história.

Nas vésperas para o final do mundo (a quem diga que todos nos iremos dessa para melhor em 21 de dezembro desse ano), era inevitável que o cinema norte americano aproveitasse desse assunto, que embora já tenha rendido todos os tipos de inúmeros filmes catástrofes, sempre irão procurar uma forma de se criar uma nova historia para gerar algum lucro. Embora muitos comparem esse filme com a obra prima Melancolia de Lars Von Trier, a produção se envereda mais para um humor não exatamente definido, que por ora lembra humor negro ou pastelão e o que acaba criando certa irregularidade no decorrer da trama.
Mesmo com essa indefinição de tom da historia, o filme dirigido pela estreante Lorene Scafaria, consegue passar uma proposta que soa honesta em alguns momentos, em como mostrar o que realmente às pessoas fariam numa situação como essa: desde a beber, transar, ou simplesmente não fazer nada e esperar o inevitável fim. Neste ponto, somos apresentados a Dodge (Steve Carell), que não sabe o que irá fazer em seus últimos dias de vida, principalmente se sentindo meio que perdido, desde que a esposa o abandonou. Neste trajeto, conhece Penny (Keira Knightley), e que dessa união, nasce uma decisão de ambos caírem na estrada em meio ao caos, onde cada um tem o seu objetivo a ser resolvido antes do inevitável fim. O filme se torna interessante, quando dupla se depara com inúmeras situações inusitadas durante a viagem, onde sempre encontram pessoas, que agem das formas mais estranhas perante o que está por vir.
Mas o foco principal está mesmo entre os dois e suas motivações. Sabemos desde os primeiros minutos, que eles naturalmente irão se apaixonar, mas até lá, ambos vivem num dilema se devem realizar os seus objetivos antes do fim, ou se entregar a união dos dois. Embora previsível neste aspecto, acabamos nos simpatizando pelo casal, principalmente por nos convencer a nos colocarmos no lugar deles, pois tanto eles, como as situações que eles se envolvem são criveis, mesmo quando o filme tenta se enveredar por alguns momentos absurdos. Mas se por um lado Steve Carell se da bem num tipo de humor mórbido (ele já havia demonstrado bem isso em Pequena Miss Sunshine), ainda não foi dessa vez que Keira Knightley demonstrou ser capaz de ter uma boa veia cômica. Seus momentos em querer passar humor acaba por soar caricato demais, principalmente em que ela passa uns trejeitos e careta meio incômodos, algo que já sinto algum tempo vindo dela, desde o filme Um Método Perigoso.
Embora com um final em que o publico em geral não esteja muito acostumado habitualmente, o filme é previsível, mas não tinha como ser muito diferente disso. O filme talvez nada mais seja, do que uma forma de dizer para nos, que poucos podem fazer algo a respeito a esse tipo de situação, a não ser ficar ao lado daqueles que amamos. Mórbido, mas sincero. 


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Um comentário:

disse...

Recentemente participei de um podcast sobre o fim do mundo no cinema e esses dois filmes foram citados. Vale lembrar também o diretor especialista em filme-catástrofe, Rolland Emmerich, que dirigiu Independence Day, O dia depois de amanhã e 2012.
Abraços!