UM UNIVERSO COLORIDO EM TODOS OS SENTIDOS
Ganhando o Oscar de melhor filme Estrangeiro por Tudo Sobre Minha Mãe.
O universo de Almodóvar é
imperfeito, com seres imperfeitos, que buscam a todo o momento um lugar ao
sol, mesmo que isso pareça impossível. Os seus protagonistas vão desde há
pessoas loucas, gays, lésbicas, travestis e transexuais, que fazem de tudo,
para destruir uma muralha a frente delas, para conseguir o seus objetivos e que
para o bem ou para mal, tem resultado. O mundo em que elas vivem é colorido,
com cores quentes, frescas, mas que às vezes, mostrado de uma forma plástica,
para esconder o lado obscuro e hediondo, da cidade onde eles moram. Madri, a
cidade favorita do cineasta, que é vista por diversos ângulos em todos os seus
filmes, desde um lar reconfortante, como
o pior dos lugares para se viver.
De longe, Almodóvar é o cineasta
que mais injeta em seus filmes o seu “eu” interior, mais precisamente, tanto
fragmentos de inúmeras situações que ele viveu ao longo da vida, como também
aquelas que ele presenciou, através de outras pessoas. Não há como negar a
força do universo feminino, que ele sempre incrementou em seus projetos, sendo elas,
o lado doce e forte do cineasta. De Salto Alto, Mulheres A Beira de um Ataque
de Nervos, A Flor do meu Segredo, Tudo sobre Minha Mãe e Volver, são exemplos
de tramas, onde mostra mulheres a beira do abismo, mas que mostram força
perante o obstáculo, em frente aos homens como exemplo de desafio (ou busca), que por vezes, não as compreendem, ou tentam até mesmo dobrá-las
a todo o custo, mas que no final das contas, ame-as ou deixe-as.
A SEMSIBILIDADE DO
SER Y:
Má Educação
Embora na maioria dos casos, Pedro
Almodóvar seja reconhecido como um cineasta que melhor traduz o universo interior
das mulheres, as camadas de inúmeras personalidades do homem, está muito
presente nos seus filmes, mas de uma forma, que dificilmente o publico
masculino em geral consegue aceitar ela, sendo muito poucos com a mente aberta,
para conseguir abraçá-la. As primeiras obras, como A Lei do Desejo, por exemplo,
vemos homens que abraçam os seus desejos pelo mesmo sexo, de uma forma crua,
louca e humana. O publico feminino, tão acostumado a suspirar por Antonio
Bandeiras atualmente, se choca ao ver o astro de filmes como Zorro, se deitar
com outro homem e amá-lo loucamente, como se aquilo fosse (e é) natural, como
se aquilo fosse encontrado em qualquer esquina de Madri. Não tenha duvidas que
Antonio Bandeiras tenha tido o seu melhor momento da carreira nas mãos do cineasta, que via nele, tanto a forma exata de representar o desejo interior do
homem, como também o lado obscuro de sua loucura, que faz mover o ser em busca
de seu objetivo. Assim como foi visto em Ata-me, onde o personagem de
Bandeiras, tendo perdido sua felicidade no passado, tenta a todo custo adquirir
uma luz na vida, através da personagem de Victoria Abril, mesmo no contra gosto
dela.
O universo dos travestis de Almodóvar
é visto de uma forma natural e (porque não dizer) belamente superior a própria
mulher em alguns momentos. Talvez porque eles agem como deveriam ser, ou
simplesmente injetam a sensibilidade que eles têm, para conseguir adentrar no
universo da mulher e entende-la, mesmo que isso pareça impossível para outros
olhos. Quando vemos a personagem de
Marisa Paredes (em Salto Alto), se emocionar e até mesmo chorar, ao assistir um
homem travestido que nem ela, representando um tempo dela que não volta mais, percebemos
a força que aquele ser tem, mesmo representando algo que ele não é, ou que ele
talvez queira ser, sendo que às vezes, isso já basta para o indivíduo.
Também não é necessariamente os
homens de Almodóvar ser gays, travestis ou algo do gênero, para demonstrar a
sua doçura um pelo outro. Em seu melhor trabalho, Fale com Ela, os dois
protagonistas criam um laço de amor e amizade, que embora nunca dito, demonstra
um amor não declarado um pelo outro, enquanto as mulheres da trama, se
encontram em estado de coma. Novamente a loucura e o abuso do homem perante o
sexo frágil é posto em cheque aqui, mas de uma forma singela, humana, cheia de
amor e o mais puro cinema de Almodóvar, onde a seqüência do suposto estupro
está entre as melhores cenas de sua carreira.
ONDE ESTÁ ALMODÓVAR?
A PELE QUE HABITO
Como havia dito acima, a vida e o
lado pessoal de Almodóvar, esta impregnado em toda a sua filmografia, sendo até mesmo difícil dizer qual dos seus filmes é
um retrato exato de sua vida. Talvez muitos irão dizer que seja Má Educação, muito embora, eu acredito que seja apenas uma critica do cineasta contra as instituições
católicas, que tenta cobrir com panos quentes, o abuso que a toda poderosa fez
ao longo dos anos. Critica, que talvez o cineasta quisesse ter feito já há muito
tempo, mas que só pode lançar em 2004, pois se nos seus primeiros filmes (anos
80), já cutucaram alguns, imagine se tivesse feito algo do gênero naquele período.
Mas então, qual seria o filme que
mais se aproxima do que é Almodóvar? Seria de Salto Alto? Tudo sobre Minha Mãe?
Volver? Seriam todos, ou o filme sobre Almodóvar
em si estaria por vir? Fica na opinião de cada um!
Até lá, veremos novos filmes, que
talvez venham superar a sua genialidade de seus filmes anteriores. Pois se em A
Pele que Habito, é um filme menos pessoal do cineasta, mas que mesmo assim,
consegue injetar o seu universo do começo ao fim, podemos esperar algo cada vez
maior nos seus filmes seguintes, mesmo que ele invente de experimentar novas
formas de contar uma historia. Um filme em Preto Branco? Seria um contraste se
comparado ao seu universo de cores quentes, mas que por ali, estaria Almodóvar
de sempre, em sua querida Madri!
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