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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'A Noite Americana' (1973)

Sinopse: Um diretor tenta terminar seu filme ao mesmo tempo em que observa o drama nas vidas de seus atores. Severine, ícone em decadência, esquece as falas quando bebe, enquanto a atriz britânica Julie acaba de se recuperar de um colapso nervoso.


François Truffaut é, sem nenhuma dúvida, um dos gênios do cinema francês. Aqui ele faz uma verdadeira declaração de amor ao cinema  e retrata de uma maneira bem humorada o dia a dia de um set de filmagens que, durante o percurso de semanas de filmagens até a  finalização de um filme, pode acontecer de tudo. Atenção pelas cenas em que o diretor presta seu amor e carinho ao cinema: seu alter-ego (Ferrand), em flashbacks, relembra sua infância, quando roubava pôsteres dos filmes em cartaz, entre eles, do filme "Cidadão Kane"(1941), coisa que o próprio Truffaut confessou que fazia quando jovem. Ou então na cena quando o diretor recebe um telefonema do compositor do filme para mostrar-lhe uma música, que esta seria o tema de amor de outro filme de Truffaut. Neste momento, enquanto ouve a música ao telefone, ele abre uma encomenda, onde recebeu vários livros sobre cinema e de diretores como Hitchcock e Godard, que vão sendo exibidos com a música de amor ao fundo.


Curiosidade: O nome do filme é uma alusão à técnica criada nos Estados Unidos para filmar uma cena noturna durante o dia, usando um filtro especial nas lentes da câmera. O filme é dedicado às irmãs Lillian e Dorothy Gish.

NOTA: Amanhã nova live da minha amiga Tânia Cardoso revisitando o filme "A Noite Americana". Mais informações abaixo. 


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Cine Dica: Durante a Quarenta Assista: 'Clipe Express Yourself' (1989)

Sinopse: Em uma grande metrópole, poderosa mulher seduz operário de seu maior interesse.  


Nos tempos em que diria videoclipes nos anos oitenta “Express Yourself” foi a produção de maior sucesso do qual David Fincher havia dirigido, foi baseado no longa-metragem Metrópolis (1927) e estreou em 17 de maio de 1989 na MTV. Foi o vídeo musical de maior custo da época, com 5 milhões de dólares sendo gastos em sua produção; atualmente, é o terceiro vídeo mais caro de todos os tempos. O vídeo apresenta Madonna como uma mulher glamorosa e masoquista chefe de grande uma empresa, onde trabalham homens musculosos. No final do vídeo musical, ela escolhe um deles — interpretado por Cameron Alborzian — como seu parceiro. Análises da mídia especializada aclamaram o vídeo e concluíram que a imagem masculina de Madonna refere-se à igualdade. Entretanto, outros comparam a cena em que Madonna coloca a mão em sua virilha com o passo similar feito por Michael Jackson. Consequentemente, a gravação foi nomeada para cinco prêmios nos MTV Video Music Awards de 1989, vencendo nas categorias de Best Cinematography, Best Direction e Best Art Direction.

Embora todos apontem Madonna como a alma do clipe, por outro lado, é notório todo lado autoral que David Fincher inseri aqui e que, posteriormente, iria exercer quando ingressasse para o cinema no início dos anos noventa. Com um clima sombrio, bem típico para época, o clipe é uma bela homenagem ao clássico de Fritz Lang, do qual falava sobre o conflito entre as classes dominantes e operárias. Se nota que em alguns momentos o cineasta construiu os cenários similares ao clássico do expressionismo alemão e cuja a semelhança é o grande chamariz da obra.  

Com "Express Yourself", David Fincher teria passe livre para obter a sua primeira chance na direção de um longa metragem para o cinema com o filme “Alien 3” (1992), mas ganharia status de respeito a partir do seu grande filme “Seven” (1996).   


Curiosidade: Confira abaixo as comparações entre o clássico "Metropolis" e o clipe "Express Yourself" dirigido pelo cineasta.




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sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'Shirley'

Sinopse: Dois jovens decidem abrigar em sua casa um casal de jovens estudantes por um período. Shirley encontra nessa rotina peculiar a inspiração que precisava para sua mais nova obra. 

As vezes gostaríamos de explorar a personalidade de um determinado escritor e para assim conhecer as suas motivações que o levaram a realizar determinadas obras primas da literatura. O filme "Mary Shelly" (2017), por exemplo, serviu para descobrirmos as raízes que serviram de ideias para a escritora realizar sua obra prima "Frankenstein". "Shirley" segue um caminho inverso, mas muito eficaz sobre a vida de outra grande escritora.
Dirigido por Josephine Decker, o filme conta a história de Shirley Jackson (Elisabeth Moss), uma escritora de contos de suspense casada com Stanley Hyman (Michael Stuhlbarg), um renomado professor da Bennington College. Os dois decidem abrigar em sua casa um casal de jovens estudantes por um período. Shirley encontra nessa rotina peculiar a inspiração que precisava para sua mais nova obra.
Escritora do livro clássico "A Assombração da Casa da Colina", que por sua vez ganhou uma adaptação recente em forma de série pela Netflix, Shirley Jackson com certeza possuía uma vida e personalidade complexa, sendo que qualquer filme que adaptasse sua vida teria um resultado meramente parcial. Portanto, ao retratar somente um ponto específico de sua história, a diretora Josephine Decker obtém certo êxito em conseguir nos passar um pouco sobre como era a personalidade dessa pessoa, mas muito disso se deve ao estupendo trabalho de atuação de Elisabeth Moss.
Elogiada pela crítica, e vencedora de vários prêmios, Moss tem nos brindado com atuações poderosas, desde a série "The Handmaid's Tale", como também o recente sucesso do cinema "O Homem Invisível". Em "Shirley", atriz consegue extrair de sua personagem uma mulher que transita entre a genialidade e a loucura, mas sabendo dançar conforme a música para não se perder na estrada. A trama se passa em 1960, época em que as mulheres ainda passavam por diversos abusos vindo dos homens e o filme explicita muito bem isso, mesmo não havendo abusos físicos. mas sim psicológicos.
Aliás, isso é muito bem representado pelo marido de Shirley, o professor Stanley e interpretado pelo ótimo ator Michael Stuhlbarg, visto recentemente pelo filme "Me Chame Pelo seu Nome" (2018). Aqui, o jogo de Stanley é persuadir Shirley a se manter em casa e formando assim um mito para a sociedade sobre a real saúde mental dela. Embora não seja explicado no princípio os motivos que a levam a não querer sair de casa, aos poucos, logo isso vai ficando esclarecido em peças chaves que vão nos sendo apresentadas aos poucos.
Porém, o jovem casal de hóspedes, Fred (Logan Lerman) e Rose (dessa Young), se tornam uma espécie de protótipos para que a escritora busque inspiração para o seu próximo livro. Shirley e Rose, por exemplo, compartilham de uma dor similar, onde ambas percebem a vida dura de uma mulher perante uma sociedade machista e da qual faz da vida delas um verdadeiro inferno a cada dia que passa. Porém, tudo se encaminha para um jogo de gato e rato, onde um manipula o outro e cabe cada um deles saber onde deverá parar para não cair no precipício literalmente falando.
Com uma belíssima fotografia e edição de arte caprichada, "Shirley" não é somente sobre a vida de uma escritora, como também a voz de várias mulheres do passado e presente e que se sentem enclausuradas como um todo.  

Onde Assistir: Em Breve.   

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quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Cine Especial: 'Redescobrindo No Coração do Mar'


Se há um ponto positivo com relação a Netflix é no fato da plataforma guardar para si algumas pérolas esquecidas, mas que acabam sendo redescobertas pelo público em geral hoje em dia. Bom exemplo disso é o filme "Contágio" (2011), de Steven Soderbergh, do qual teve apenas um relativo sucesso na época do seu lançamento, mas sendo redescoberto pelo público graças pelas suas semelhanças com esses tempos em que vivemos com o coronavírus. Em uma época em que muitas pessoas se mantém em casa isso acaba gerando a procura de filmes para serem degustados e "No "Coração do Mar" (2015) acabou sendo alguns desses escolhidos.  

Dirigido por Ron Howard, do filme "Rush - No Limite da Emoção" (2013), acompanhamos a jornada do baleeiro Essex, cuja missão da tripulação é caçar baleias e retirar delas o óleo que dá luz as cidades daquele tempo. A tripulação é comandada pelo capitão George Pollard  (Herman Melville), mas liderada pelo primeiro almirante Owen Chase (Chris Hemsworth) e se criando assim uma rixa entre ambos ao longo da viagens. As desavenças entre eles começam a se desfazer, no momento que precisam unir suas forças, para que a viagem tenha sucesso, mas ao mesmo tempo quando precisam sobreviver perante aos ataques de uma imensa baleia branca. 

O filme é baseado no livro de  Nathaniel Philbrick que, por sua vez, é baseado em fatos verídicos e que serviu de inspiração para a criação do clássico da literatura "Moby Dick" de  Herman Melville. Embora eu jamais tenha até hoje lido a obra, o nome Moby Dick é algo que me soava sempre familiar, já que meus pais haviam assistido antigamente a versão cinematográfica de 1956 estrelada por Gregory Peck e sempre me contavam como o filme havia marcado eles. Portanto, eu tinha grandes expectativas para assistir na época "No Coração do Mar" e do qual não havia me decepcionado.  

Infelizmente isto é cinema e as vezes alguns filmes acabam não ganhando o reconhecimento que merecia na época de sua estreia. Felizmente o tempo faz justiça para todos e "No Coração do Mar" agora é visto e revisto pela Netflix e ganhando fãs que na época não havia adquirido. Para conferir a minha crítica da época cliquem aqui. Por fim, "No Coração do Mar" é um belo filme de aventura, onde a humanidade abraça as suas limitações, mas ao mesmo tempo se fortalece perante os seus erros e obstáculos que surgem nesse imenso mundo de mistérios. 



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quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'Rede de Ódio'

Sinopse: A trama gira em torno de um estudante expulso da universidade de Varsóvia que tenta comandar a Internet, causando ódio e violência generalizados. 

Tanto o governo de Trump como de Bolsonaro chegaram ao poder a partir da rede de informações falsas virtuais, os temíveis fake news, dos quais deram origem a uma alienação sobre os verdadeiros fatos do mundo real e assim germinando a receita perfeita do ódio contra aqueles que se opõem contra eles. No documentário "Privacidade Hackeada" (2019), por exemplo, testemunhamos como são as reais engrenagens dessa rede ilícita, do qual é criada para gerar lucro e tendo a capacidade de derrubar até mesmo governos poderosos. Embora seja uma ficção, "Rede de Ódio" surpreende ao saber dialogar com o nosso mundo real, principalmente em um momento que nos encontramos em plena a falta de boa informação e envenenados por mentiras criadas com o intuito de nos persuadir até o fim.    

Dirigido por Jan Komasa, o filme conta a história de um jovem chamado Tomasz (Maciej Musialowski) que passa a fazer sucesso incitando o ódio em campanhas nas redes sociais, atacando desde influenciadores virtuais a políticos renomados. O que ele não contava é que toda essa crueldade no mundo virtual cobraria seu preço no mundo real, complicando sua vida. Cabe então ele jogar pelos dois lados da mesma moeda. 

Em seu primeiro ato da trama, o cineasta Jan Komasa já nos deixa claro que o protagonista é alguém especial, mas que é menosprezado por aqueles que um dia ele admirava. Com isso, temos a construção do indivíduo comum para se tornar um perito na criação de fake news e com intuito de ser especial pelos olhos que o cercam. Na medida em que ele avança nas casas deste jogo perigoso, mais ele chega um ponto sem volta e desencadeando uma bola de neve virtual através de seu talento incomum.  

Curiosamente, o filme trata de um assunto universal, mesmo ele se passando na Polônia, pois ao vermos o cenário político do longa sendo mudado através do poder de fake news criado por uma única pessoa, isso faz com que a história se torne assustadoramente verossímil perante aos nossos olhos. Ao mesmo tempo, a origem desse mal não se encontra no colo de uma pessoa maquiavélica, mas sim carente de amor e sendo facilmente seduzida pela violência, seja ela vinda dos games ou das próprias armas a venda no outro lado da esquina. Não é preciso ser adivinho para imaginar que isso pode acabar gerando uma grande tragédia, mas até lá nos damos conta que tudo isso poderia ser evitado se essas pessoas tivessem recebido atenção como realmente mereciam.  

Em tempos de Coronavírus em que as pessoas se encontram cada vez mais impacientes, assim como sendo cada vez mais influenciadas por informações falsas, o filme acaba se tornando assustador pelo seu teor realista e que nos bate fortemente na cara. Ao vermos os minutos finais em que o protagonista adquire o que desejava através da mentira, constatamos que há milhares de pessoas iguais por aí, seja elas comuns ou com poder suficiente para esmagar nações desinformadas infelizmente. "Rede de Ódio" mostra como nasce a desinformação e desencadeando assim um veneno mortal e que pode mudar o curso da história de todos nós. 

Onde assistir: Netflix. 

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terça-feira, 11 de agosto de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'Privacidade Hackeada'

Sinopse: Tudo sobre o  escândalo de dados do Facebook – Cambridge Analytica, produzido e dirigido por Jehane Noujaim e Karim Amer.

Querendo ou não, estamos todos conectados nas redes sociais da internet, ao ponto de nos tornarmos dependentes dessas ferramentas devido as suas inúmeras possibilidades infinitas.  Mas até que ponto elas são realmente úteis para nós e qual a possibilidade de haver algo negativo por detrás das cortinas? Infelizmente a resposta vem através de um veneno virtual por detrás disso tudo e "Privacidade Hackeada" (2019) escancara que estamos sendo manipulados e tendo nossas identidades violadas para algo muito maior e escuso.
Dirigido por Karim Amer e  Jehane Noujaim, o documentário fala sobre o escândalo da empresa de consultoria Cambridge Analytica e do Facebook, onde é recontado através da história de um professor americano. Ao descobrir que, junto com 240 milhões de pessoas, suas informações pessoais foram hackeadas para criar perfis políticos e influenciar as eleições americanas de 2016, ele embarca em uma jornada para levar o caso à corte, já que a lei americana não protege suas informações digitais mas a lei britânica sim.
O documentário faz com que a gente assista com a sensação de medo a todo momento, principalmente ao fazer com que testemunhamos esse emaranhado de eventos através do olhar dos três protagonistas principais da obra: a jornalista Carole Cadwalladr, que investigou e reportou o escândalo no The Guardian; o professor David Carroll, um cidadão comum que entrou na justiça para descobrir quais dados pessoais seus foram compartilhados pelo Facebook com a Cambridge Analytica, sem sua autorização; e Brittany Keiser, a curiosa profissional que começou na campanha de Obama e acabou no centro da divulgação do escândalo da CA, anos depois.
Embora possa parecer complexo, os realizadores foram gênios ao elaborar uma edição ágil e que não dificulta o compreendimento da maioria que for assistir a obra. Além disso, é perfeito o uso de símbolos conhecidos das redes sociais que são inseridos para dentro da narrativa, fazendo com que as pessoas possam se identificar, mas ao mesmo tempo fazendo elas pensarem sobre até que ponto estava sendo persuadidas através das redes sociais. É aí que a obra nos desvenda que, da maneira pura e simples, acabamos nós mesmos passando as nossas informações através de aplicativos, notícias parciais e de propagandas em tempos de eleições por meio das redes sociais como a gigante Facebook.
Se hoje há uma batalha contra as fakes news, muito se deve ao fato que tudo isso acabou explodindo após uma eleição até hoje suspeita e que deu vitória a Donald Trump. Porém,  Cambridge Analytica  foi somente a ponta desse grande Iceberg, pois se de um lado foi comprovado que eles colaboraram pela disseminação das fake news através do facebook, do outro, isso acabou não sendo o suficiente para que fosse impedido em ser usado em outros países e que acabou gerando uma avalanche de ódio e separação entre os povos que perdura até hoje. O resultado das eleições do Brasil em 2018, por exemplo, se originou das fake news que foram disparadas pelo WhatsApp para pessoas que fossem facilmente manipuladas por uma rede de mentiras e o resto a gente já conhece muito bem a história.
Do começo ao fim do documentário, se comprova que fomos todos envolvidos em uma bola de neve que cada vez mais vai crescendo e fazendo a gente se perguntar qual o melhor meio para que possamos derrete-lo. A obra termina em aberto, mas fazendo a gente desejar que a justiça, por mais viciada que ela hoje se encontra, dê para nós a chance de não nos tornarmos meras marionetes do universo digital, mas sim que possamos ter controle de nossas próprias escolhas e sem nenhuma manipulação.
"Privacidade Hackeada" é um documentário para ser visto e revisto por todos, mesmo para aqueles que ainda se prendem e se alimentam da mentira, pois a verdade parece que nunca é o suficiente para elas. 

Onde Assistir: Netflix.  

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Cine Especial: 'Domicílio Conjugal' - Relacionamentos Após Maio de 68


Este é o quarto filme protagonizado pelo personagem Antoine Doinel, o alter-ego do cineasta François Truffaut. "Domicílio Conjugal" revela o olhar terno, engraçado e inteligente de Truffaut sobre o casamento e a paternidade. Sendo um cineasta que sempre amou o cinema como um todo, declarou ter-se inspirado nas "comédias americanas sobre os casais, de Leo McCarey e de George Cukor, sem esquecer a influência de Lubitsch, que é decisiva quando se trata de concatenar acontecimentos familiares para fazer rir o público, mas de modo a que tudo fosse tratado, evidentemente, com espírito francês".

Com 100 minutos de duração, direção de arte e figurino bem trabalhados, "Domicílio Conjugal" tem como um dos pontos mais interessantes o painel histórico em que a narrativa está mergulhada. Seguindo o lema do pensador Frederic Jameson, “historicizar sempre”, percebemos que muito do contexto político e cultural da França na época está inserido no filme. Neste período, a França estava imbuída do espírito de mudanças: marcada pelo maio de 1968, pelas manifestações do movimento feminista e por uma crise econômica, a nação passou a ser governada pelo então ministro das finanças Giscard, representante político simpático do movimento feminista, que tratou de, entre tantas reformas, impulsionar a economia, bem como implementar medidas de estatais de modernização.

Ao apresentar os conflitos amorosos sem o modelo prosaico do cinema hollywoodiano, mas como uma caricatura deste, Truffaut toca nas cordas sensíveis da liberdade sexual, um tema ainda tabu nesta época, mas já debatido sem tantas delongas, haja vista que no governo de Giscard, atitudes como a mudança da maioridade penal de 21 para 18 anos de idade, a liberação do aborto e a campanha para uso de contraceptivos marcaram a época.

Por isso a importância do que se seguirá após o aparecimento de Doinel em "Domicílio Conjugal". Ele está casado com Darbon, cuja conquista presenciaremos em "Beijos Proibidos". O amor - tema ao qual o nome do diretor será vinculado - encontra aqui um momento decisivo no casamento e na rotina.  A paternidade, registrada em bela cena, e a estabilidade econômica, conseguida através de um emprego estranho em que cuida de maquetas de navios, darão cores ambivalentes ao progresso de um dos nomes mais importantes da Nouvelle Vague.

Curiosidade: Profundamente apaixonado pelo cinema, Truffaut não consegue deixar de falar de filmes em seus filmes. Antoine passa em frente a um grande cinema parisiense em que um cartaz descomunal anuncia o filme Cheyenne, de John Ford – um dos grandes ídolos do realizador. Num texto de 1974, Truffaut diria: “John Ford era um desses artistas que jamais pronunciam a palavra arte e um desses poetas que jamais mencionam a palavra poesia”. E finalizaria assim: “E como John Ford acreditava em Deus, Deus abençoe John Ford”.


NOTA: Nova live de Tânia Cardoso e que será sobre 'Domicílio Conjugal'. Confira:     

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