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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Cine Dica: Em Cartaz - 'Armadilha'

Sinopse: A história de um pai de família (Josh Hartnett) que ao levar a filha para um show descobre que o evento é uma grande armadilha para captura-lo.  

O que aconteceu com M. Night Shyamalan? 

Essa é uma pergunta que muitos fazem com relação ao realizador, pois desde o "Sexto Sentido" (1999) parece que há uma obrigação dele fazer um filme que supere o seu maior feito. Reconheço que o diretor deu uns tropeções feios ao longo da carreira, mas também dizer que os seus filmes são descartáveis é vindo de pessoas que não entendem nada de cinema.  Pode-se dizer que ele teve uma primeira e segunda fase da carreira e o filme "A Visita" (2015) foi o ponta pé inicial dessa segunda fase que fez o cineasta obter novamente atenção dos cinéfilos.

Então vieram "Fragmentado"(2016), "Vidro"(2019) "Tempo"(2021) e "Batem à porta"(2023). Esse último, aliás, foi o mais criticado e que, convenhamos, o realizador pesou um pouco a sua mão principalmente em querer continuar ao usar o gênero fantástico transitando com elementos verossímeis, mas que acabam não se alinhando corretamente. Eis que então o cineasta sai da fantasia e embarca no suspense "Armadilha" (2024), que não é o melhor de sua carreira, mas ao menos é puro cinema.

A trama segue a história de Cooper (Josh Hartnett) e sua filha adolescente que vão em um show de uma cantora da música pop chamada Lady Raven (Saleka Shyamalan). Logo, Cooper percebe que há uma presença grande de policiais ao redor e isso o deixa intrigado. Logo ele descobre que o show é uma grande armadilha para capturar e prender um terrível serial Killer, porém, o próprio Cooper que estamos assistindo é o assassino.

A premissa acima é bem interessante, pois nos simpatizamos com o protagonismo e a relação entre pai e filha vista na tela. Porém, a partir do momento que sabemos que Cooper é um perigoso assassino logo percebemos que o filme se torna um verdadeiro jogo de gato e rato e fazendo a gente se perguntar como ele irá fugir ao ver que a força segurança está usando de tudo para pega-lo. M. Night Shyamalan cria então uma atmosfera claustrofóbica, onde o local, por maior que ele seja, se torna sufocante na medida em que o protagonista tenta de todos os meios escapar do local.

Como sempre, o realizador usa a sua câmera para contar a sua história, onde o olhar de sua lente representa o olhar observador do assassino, que fisga cada centímetro do local e procura estuda-lo para obter uma chance de fuga. Josh Hartnett eu o conheço desde os tempos em que ele se destacou em filmes como "Pearl Harbor" (2001) e 30 Dias de Noite (2007) e, convenhamos, nunca achei um grande interprete, mas aqui é preciso reconhecer que ele constrói para si um assassino inteligente, frio e com um conflito interno que somente ele entende. Ao mesmo tempo ele nos passa uma fúria contida, mas que não a esconde quando a sua cor de pele muda e tão pouco o seu olhar diabólico quando aflora.

O filme funciona principalmente ao fazer uma análise sobre cada expressão que o personagem faz, principalmente quando Shyamalan filma o rosto do protagonista em um enquadramento como se ele estivesse quebrando a quarta parede e sendo algo que me fez relembrar uma certa cena especifica de "Sinais" (2002). Curiosamente, deve ter sido também um desafio para o realizador ao recriar um típico show que é sempre visto nestes tipos de eventos da música pop e se alinhando com a proposta principal da obra. Contudo, o filme não esconde o lado pretensioso do realizador, já que a cantora da trama é interpretada pela sua própria filha e sendo uma forma de divulgar o seu talento artístico diga-se de passagem.

Aliás, é fácil acusar Shyamalan de ser uma pessoa pretensiosa ao fazer um filme a sua maneira doa o que doer. Porém, ao não agir dessa forma ele acaba sucumbindo ao sistema hollywoodiano e realizando longas duvidosos como "O Último Mestre do Ar" (2010) e "Depois da Terra" (2013). Ao sair desse terreno ele cria filmes a sua maneira, mas sempre despertando aquela sensação dos cinéfilos que ele ainda poderia ter feito algo melhor, principalmente com relação aos típicos finais surpresas que ele quase sempre elabora para pegar as pessoas desprevenidas. Aqui, porém, não há nada disso, sendo que a revelação vinda de uma determinada personagem ligada ao protagonista não provoca nenhum espanto, mas somente revelando o fato de que o assassino não é infalível.

O filme nos dá aquela sensação de que faltou algo no meio do caminho, mas somente pelo fato de termos a consciência do que o realizador já havia feito no passado. Ao criar um filme de suspense verossímil e distante do gênero fantástico que ele tanto gosta, Shyamalan abre uma porta para futuras possibilidades do que ele pode colocar em prática dentro de outros gêneros, mas fazendo a gente se perguntar se ele conseguirá manter a sua visão autoral por muito tempo. Ao menos, é preciso reconhecer que ele se arrisca em querer passar algo de significativo dentro desse cinemão norte americano que só se preocupa com os números para manter o seu sustento.

Em "Armadilha", M. Night Shyamalan se arrisca em um novo território, mas colocando em dúvida sobre o seu próprio futuro dentro do cinema hollywoodiano. 

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Cine Dica: Novo Projeto de Exibição para Professores na Cinemateca Capitólio

 Orlando, Minha Biografia Política é o filme da sessão de lançamento da Vagalume Professor

Novo projeto de sessão de cinema mensal e com entrada franca para professores na Cinemateca Capitólio

A partir do mês de agosto, o Programa de Alfabetização Audiovisual, projeto de formação de público desenvolvido pela Cinemateca Capitólio em parceria com a UFRGS, promoverá a Sessão Vagalume Professor. O projeto nasce do desejo de ampliar as relações entre as ações do Programa de Alfabetização Audiovisual e a grade de programação regular da Cinemateca Capitólio, agora com uma sessão fixa mensal voltada para professores, sempre seguida de um debate com foco na formação e no compartilhamento de experiências docentes.

A primeira Sessão Vagalume Professor acontece no dia 31 de agosto (sábado), às 10 horas da manhã, com o filme Orlando, Minha Biografia Política (2023), de Paul B. Preciado. A sessão será comentada por Alexandre Santos, professor do Instituto de Artes da UFRGS. A entrada é franca para professores.

SOBRE O FILME


ORLANDO, MINHA BIOGRAFIA POLÍTICA

França, 2023, 98 minutos, DCP

Direção: Paul B. Preciado

Em 1928, Virginia Woolf escreveu Orlando, o primeiro romance em que o personagem principal muda de sexo no meio da história. Um século depois, o escritor e ativista trans Paul B. Preciado decide enviar uma carta cinematográfica à autora: seu Orlando saiu da ficção e vive como ela jamais poderia ter imaginado. Preciado organiza um teste de elenco e reúne 26 pessoas trans e não binárias, de oito a 70 anos de idade, que encarnam o protagonista.

Um dos mais importantes pensadores contemporâneos, Paul B. Preciado é autor de obras como Manifesto Contrassexual (2000), Testo Junkie (2008), Um Apartamento em Urano (2019), Eu Sou o Monstro que Vos Fala (2020) e Dysphoria Mundi (2022). Sua estreia no cinema conquistou no Festival de Berlim do ano passado o cobiçado Teddy Award, prestigiada premiação do festival alemão que reconhece produções de temática LGBTQIA+.


SERVIÇO:

O que: Sessão Vagalume Professor – Orlando, Minha Biografia Política

Quando: 31 de agosto de 2024 (sábado)

Horário: 10h

Onde: Cinemateca Capitólio (Rua Demétrio Ribeiro, 1085 – Centro Histórico)

Entrada franca para professores

terça-feira, 20 de agosto de 2024

Cine Dica: Em Cartaz - 'Alien: Romulus'

Sinopse: Um grupo de jovens colonizadores espaciais se aventuram nas profundezas de uma estação espacial abandonada. Lá, eles descobrem uma forma de vida aterrorizante, forçando-os a lutar por sua sobrevivência. 

"Alien - O 8º Passageiro" (1979) foi um divisor de águas para o gênero ficção, ao fazer da premissa típica de um filme B se tornar um verdadeiro filme de horror claustrofóbico e muito bem filmado por Ridley Scott. Esse último retornou a esse universo criando "Prometheus" (2012) e "Alien: Covenant"(2017), mas desencadeando mais dúvidas do que respostas e escapando a chance de encerrar como uma trilogia. Eis que para a nossa surpresa surge “Alien: Romulus” (2024), que não só revitaliza a franquia como também é um dos melhores capítulos desde "Aliens - O Resgate" (1986).

Dirigido agora pelo cineasta uruguaio Fede Alvarez, do filme "O Homem nas Trevas" (2016), a trama se passa entre "Alien – O 8º Passageiro" e  "Aliens - O Resgate", onde acompanhamos um grupo de jovens colonizadores espaciais que se aventuram nas profundezas de uma estação espacial abandonada. Lá, eles descobrem uma forma de vida aterrorizante, forçando-os a lutar desesperadamente por sua sobrevivência. O que eles não sabem é que eles estão envolvidos em um esquema da Companhia em tentar revolucionar a vida humana.

É até espantoso esse filme funcionar tão bem após o fato de a franquia dar sinais de esgotamento total. Claro que isso já era um pouco sentido em "Alien 3" (1992) e "Aliens - A Ressurreição" (1997), mas após "Alien: Covenant" parecia que não havia mais nada para se fazer com essa criatura que aterrizou as plateias no final da década de setenta. Porém, sendo um grande fã da franquia, Fede Alvarez nos brindou com uma premissa similar ao clássico, mas injetando nela tudo que havia de melhor em todos os filmes e criando algo fresco e que obtém a nossa atenção de imediato. Embora seja um prato cheio para os fãs de longa data, o filme também serve para aqueles que nunca haviam assistido aos filmes anteriores e isso já por assim dizer é um grande feito.

Porém, para os fãs da velha guarda, o filme é carregado de vários elementos que se interligam, não somente aos filmes protagonizados pela Sigourney Weaver, como também dos últimos dirigidos por Ridley Scott e dos quais são defendidos por alguns cinéfilos. Mas sem sombra de dúvida a maior surpresa do filme fica por conta do surgimento de um velho personagem visto pela última vez no filme de 1979 e sendo recriado aqui por animatrônicos e com efeito digital. Um belo exemplo de como as velhas e novas formas de se fazer cinema podem ser trabalhadas em harmonia.

Aliás, Fede Alvarez capricha e muito na utilização de efeitos práticos, sendo que quase nunca vemos um Alien digital em cena e fazendo com que as criaturas ganhem maior peso e se tornando ainda mais assustadoras. Pelo fato da trama se passar dentro de uma nave o filme novamente resgata aquela sensação claustrofóbica que havia sido visto pela primeira vez no primeiro filme da franquia e fazendo com que tudo se torne ainda mais angustiante. Se por um lado em um primeiro momento possa parecer uma espécie de releitura, ao menos nos desperta aquela sensação de dúvida a todo momento com relação ao que irá acontecer em seguida aos personagens centrais.

Neste último caso, é surpreendente como um elenco tão jovem funciona tão bem em cena. Atuando em sucessos recentes como "Priscilla" (2024) e "Guerra Civil" (2024), Cailee Spaeny demonstra ser capaz de ser uma ótima atriz independente de qualquer gênero e aqui ela não faz feio nas cenas em que exige que a personagem nos transmite medo, mas ao mesmo tempo força perante o confronto das criaturas. Sua relação com o androide Andy, interpretado pelo ator David Jonsson, é digno de nota e fazendo com que se torne o coração pulsante da obra. Curiosamente, Andy possui a mesma ambiguidade vista nos outros androides da franquia, mas ao mesmo tempo fresca e fazendo a gente se perguntar quais serão suas reais ações perante aos eventos dentro da nave.

O filme somente peca no seu ato final ao se enveredar mais para ação e quase terminando com aquelas típicas fórmulas manjadas do cinema hollywoodiano. Porém, eis que Fede Alvarez não nos decepciona e nos brinda com minutos finais angustiantes, tensos e puramente o melhor do terror. Pode até soar semelhante ao final de "Alien - O 8º Passageiro", mas conseguindo obter a minha reação de total espanto.

"Alien: Romulus" não somente revitaliza a franquia iniciada em 1979, como também é um belo exemplo de como se fazer cinema de verdade usando ingredientes já bem conhecidos pelo grande público.   

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Cine Dica: PROGRAMAÇÃO CINEBANCÁRIOS DE 22 a 28 DE AGOSTO DE 2024

 ESTREIA:


MOTEL DESTINO

Brasil/drama/ 2023 /112min.

Direção: Karim Aïnouz

Sinopse: Sob o céu em chamas numa beira de estrada do litoral cearense, o Motel Destino é palco de jogos perigosos de desejo, poder e violência. Uma noite, a chegada do jovem Heraldo transforma em definitivo o cotidiano do local.

Elenco: Iago Xavier, Nataly Rocha, Fabio Assunção.


EM CARTAZ:

MAIS PESADO É O CÉU

Brasil/ drama/ 2023/98min

Direção: Petrus Cariry

Sinopse: Após acolher uma criança abandonada, Teresa conhece Antônio e os dois iniciam uma jornada pelas estradas. O passado em comum, para eles, são as memórias de uma cidade submersa no fundo de uma represa. A vida é sonho, mas o futuro é a incerteza.

Elenco: Matheus Nachtergaele, Ana Luiza Rios, Sílvia Buarque, Danny Barbosa, Buda Lira e Marcos Duarte

FILHO DE BOI

2020 | Brasil | Drama | 91 min.

Direção: Haroldo Borges

Sinopse: João é um menino tímido de 13 anos que mora no sertão baiano. O vínculo com seu pai foi rompido e ele não tem amigos. Quando um pequeno circo chega à cidade buscando um novo palhaço, ele vê a oportunidade perfeita para fugir dali.

Elenco: João Pedro Dias, Vinicius Bustani, Luiz Carlos Vasconcelos e outros;


HORÁRIOS DE 22 a 28 DE AGOSTO (não há sessões nas segundas):

15h: FILHO DE BOI

17h: MAIS PESADO É O CÉU

19h: MOTEL DESTINO


Ingressos

Os ingressos podem ser adquiridos a R$ 12 na bilheteria do CineBancários. Idosos (as), estudantes, bancários (as), jornalistas sindicalizados (as), portadores de ID Jovem e pessoas com deficiência pagam R$ 6. São aceitos cartões nas bandeiras Banricompras, Visa, MasterCard e Elo. Na quinta-feira, a meia-entrada é para todos e todas.

EM TODAS AS QUINTAS TEMOS A PROMOÇÃO QUE REDUZ O VALOR DO INGRESSO PARA TODOS E EM TODAS AS SESSÕES PARA R$ 6,00.

CineBancários/ Rua General Câmara, 424 – Centro – Porto Alegre/ (51) 3030.9405 ou pelo e-mail cinebancarios@sindbancarios.org.br


C i n e B a n c á r i o s 

Rua General Câmara, 424, Centro 

Porto Alegre - RS - CEP 90010-230 

Fone: 51- 30309405

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Cine Especial: Clube de Cinema - 'Undine'

 Nota: Filme exibido para os associados no dia 17/08/24

Sinopse: Undine trabalha em Berlim como historiadora e guia para o desenvolvimento da cidade. Mas sob a aparência de sua vida pacata esconde-se um velho mito: se o homem que Undine ama a trai, ela tem que matá-lo e voltar para a água de onde ela veio.   

Christian Petzold é um cineasta interessado mais na transição entre o verossímil ao gênero fantástico e fazendo com que determinados mitos obtenham algum fundamento. No ótimo "Afire" (2023), o gênero fantástico vindo da literatura se funde com os dilemas e adversidades da realidade em que os protagonistas daquele filme se encontram e se criando ali um belo estudo sobre o comportamento humano perante até mesmo aos sentimentos, por vezes, quase nunca correspondidos. Em seu filme anterior, "Undine" (2024), o cineasta abre um leque de diversas possiblidades de uma relação amorosa que desencadeia diversas teorias sobre a real natureza da protagonista.

Na trama, Undine (Paula Beer) trabalha como historiadora e dá palestras sobre o desenvolvimento urbano de Berlim. Mas quando o homem que ela ama a deixa, o mito antigo lhe alcança. Porém, antes disso, ela conhece uma nova paixão, mas ao mesmo tempo não escapando de sua misteriosa natureza.

Mais do que um simples romance, Christian Petzold fala sobre a própria Alemanha em si, construída através de mitos, heróis, políticos e mudanças de governo ao longo dos séculos. No primeiro caso, por exemplo, esse é representado pela própria protagonista, cujo seu nome se baseia no famoso mito de Undine, a ninfa do amor que vive nas águas. Ela adquire forma humana quando se relaciona com um ser humano, mas uma vez que essa relação não dá certo ela o mata e logo em seguida volta para as águas.

Se a pessoa vai assistir esse filme sem as informações acima logo irá achar que a história poderá se enveredar para um filme de suspense ou até mesmo policial. Isso ocorre devido ao fato de os primeiros minutos a protagonista fazer uma declaração pesada para o seu ex e fazendo com que obtenha a nossa atenção para vermos até onde isso irá chegar. Porém, uma vez que ela conhece um novo amor o filme se envereda para um outro caminho.

Na medida em que essa relação avança Christian Petzold constrói um enredo que nos leva a crer que algo estranho está no ar e que a qualquer momento a história de amor possa virar uma grande tragédia. Tudo isso baseado na ação e reação dos seus personagens, onde os olhares falam mais por si do que meras palavras, principalmente em uma cena importante que ocorre em uma ponte e se tornando uma das partes mais importantes da obra. É aí então que o realizador nos coloca em dúvida sobre o que estamos assistindo.

O filme nos deixa em dúvida se estamos testemunhando algo que realmente aconteceu ou se não passa de algum sonho febril de alguns dos personagens. Essa teoria se fortalece ainda mais quando o real se torna secundário e fazendo com que o mito alemão ganhe corpo dentro da história e ganhando assim novas camadas. Se o cruzamento entre fantasia e realidade se torna eficaz isso não se deve somente ao seu realizador, como também aos interpretes Paula Beer e Franz Rogowski que dão ao máximo de si em quase todas as cenas.

O ato final, enfim, fecha um círculo e se alinhando com perfeição com relação ao mito, mesmo se passando em tempos contemporâneos da Alemanha. Ao meu ver, o realizador quer nos dizer que as cidades sempre irão obter a sua metamorfose, mas as velhas histórias sempre estarão lá para se reerguer das águas e nos dizer para jamais subestimarmos determinadas velhas crenças, mesmo quando elas se tornam cada vez mais infundadas hoje em dia.  "Undine" é mais um belo trabalho de Christian Petzold, onde o realismo se torna um mero detalhe e a força de um mito se torna a força matriz dentro do filme.  

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Cine Dica: Cinema espanhol Segue em cartaz na Sala Redenção

Entre 05 e 30 de agosto, a Sala Redenção e o Instituto Cervantes apresentam a mostra “Cineastas Espanhois: À Direita e à Esquerda do Tempo”. Com título inspirado em uma citação do dramaturgo espanhol Federico Garcia Lorca, a programação conta com 12 filmes de cineastas espanhois, produzidos entre as décadas de 1960 e 2000. A partir do recorte temporal, a mostra promove uma reflexão sobre como os diretores captaram os contextos históricos nos quais viveram, através de suas obras.

Para celebrar o centenário do Manifesto Surrealista, a mostra apresenta duas produções do diretor Luis Buñuel. A obra do cineasta e sua relação com o surrealismo são o foco de dois bate-papos que integram a programação. A sessão de Viridiana (1961), no dia 15 de agosto, às 19h, conta com a participação de Luís Edegar Costa, professor de História da Arte. Já a exibição de O anjo exterminador (1962), no dia 20 de agosto, às 19h, é seguida de uma conversa com o cineasta e historiador da arte Giordano Gio.

O diretor Carlos Saura também ganha destaque especial na programação, com quatro produções em cartaz: Cria Corvos (1976), Elisa, Minha Vida (1977), Mamãe Faz Cem Anos (1979) e Goya em Bordeaux (1999). A filmografia de Saura é tema de bate-papo com a professora e crítica de cinema Fatimarlei Lunardelli, que acontece após a exibição de Mamãe Faz Cem Anos (1979), no dia 14 de agosto, às 16h.

Além de Buñuel e Saura, a mostra ainda apresenta obras de outros seis diretores espanhois. Em cartaz na programação, estão: O Espírito da Colméia (1973), de Victor Erice; Tasio (1984), de Montxo Armendáriz; As Galinhas de Cervantes (1988), de Alfredo Castellón; Todos a la carcel (1993), de Luis Garcia Berlanga; Lucia e o Sexo (2001), de Julio Medem; e Mar Adentro (2004), de Alejandro Almedabar.

A programação tem entrada franca e é aberta à comunidade em geral. O cinema da UFRGS está localizado no campus central da Universidade, com acesso mais próximo pela Rua Eng. Luiz Englert, 333.

Confira a programação completa da sala no site oficial clicando aqui. 

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Cine Especial: Próximo Cine Debate - 'O Túmulo dos Vagalumes'


Sobre o Filme:

Alguns acreditam que séries e filmes em animes começaram a fazer sucesso no Brasil a partir do clássico "Os Cavaleiros do Zodíaco" que havia sido lançado por aqui pela primeira vez em primeiro de setembro de 1994. Porém, eu conheço outra linha desta história, sendo que essas produções japonesas já tinham vindo por aqui já um bom tempo, mas não tendo a mesma grande popularidade que a obra de Masami Kurumada havia obtido. Quando eu era criança, por exemplo, eu já tinha testemunhado nos anos oitenta clássicos como a "Princesa e o Cavaleiro", "Favos de Mel", "Zillion", "Pinóquio", "O Pequeno Príncipe" e "Rei Arthur".

Esses últimos três citados, por exemplo, foi um tempo que os estúdios de animes decidiram adaptar contos literários clássicos e obtendo assim grande sucesso. Curiosamente, foram adaptações com um teor mais adulto, dramático e por vezes até mesmo assustador. Cresci morrendo de medo da Bruxa Morgana vista em "Rei Arthur" e me emocionando com os momentos dramáticos vistos em "Pinóquio".

Com conteúdo até mesmo violentos muitos se perguntam porque os animes aparentam ser até mesmo adultos e cujo conteúdo não parece destinado somente para crianças. É preciso salientar que esses animes são muitos deles adaptações dos mangas, que são HQ japonesas e cuja as histórias possuem tanto o gênero fantástico como também histórias do nosso dia a dia. O resultado é um verdadeiro contraste com os desenhos norte americanos que crescemos assistindo, mas há uma explicação mais profunda sobre isso.

Enquanto a sociedade norte americana sempre conviveu com a propaganda de um país livre, democrático e quase sempre politicamente correto, por outro lado, o povo do Japão teve que encarar logo cedo que a realidade é mais nua e crua do que se imagina e principalmente quando o conto de fadas se estilhaça ao longo da história. No período da Segunda Guerra Mundial o Rei do Japão sempre vendida a ideia de que era um Deus e que o país jamais seria abatido pelas forças de fora. Porém, o bombardeio que as aeronaves norte americanas provocaram, cujo ápice foi bombardeamentos atômicos de Hiroshima e Nagasaki, foi o suficiente para os japoneses entenderem que contos de fadas podem até existirem, mas sempre há por trás da cortina o horror que os governantes sempre queriam ocultar.

Portanto, seja baseado em fantasia ou em fatos verídicos, tantos os mangas como animes sempre irão carregar um grau de conteúdo mais adulto, pois a geração posterior da Segunda Guerra Mundial já cresceu ouvindo os horrores daqueles tempos. É então que chego finalmente ao "Tumulo dos Vagalumes" (1988), talvez o longa metragem mais adulto do estúdio Studio Ghibli e realizado pelo cineasta Isao Takahata e que posteriormente seria indicado ao Oscar pelo longa "O Conto da Princesa Kaguya" (2013). O filme é baseado na manga de Akiyuki Nosaka, sendo que o autor criou o conto baseado nos horrores que ele havia testemunhado durante a Grande Guerra.

Com animação digna de nota, os realizadores não nos pouparam de cenas realistas, desde o bombardeamento que as cidades sofrem, como também o sofrimento e as mortes que surgem na tela ao longo do tempo. Deste cenário de horror os irmãos Setsuko e Seita se se tornam um só na esperança de tudo amenizar e logo se reencontrarem com o seu pai que se encontra na Marinha. Porém, eles enfrentam a perda da mãe, fome e o descaso das demais pessoas que se preocupam somente com elas mesmas.

É curioso observar que o Japão é um país que se levanta ao ter sido criado desde cedo com disciplina, união e fazendo com que se levantassem mesmo após os horrores que vivenciaram. Porém, é notório dentro da trama que o egoísmo e a ganancia ainda se encontravam naquele cenário, talvez devido ao sistema que obriga o cidadão comum ter que conviver com regras das quais se exige dotes mesmo que de menor grau. Portanto, os irmãos dentro da trama se viram com que tem e é então que a história se torna implacável perante nós.

É claro que o prólogo já nos dá uma noção do que acontecerá no decorrer da trama, mas ao mesmo tempo Isao Takahata nos dá também algo mais reconfortante, onde a fantasia se entrelaça com a realidade crua nos primeiros minutos de projeção e fazendo a gente embarcar na trama independente do que aconteça. Não me surpreenderia, por exemplo, se o anime tivesse servido de inspiração para a própria Disney criar o curta "A Pequena Vendedora de Fósforos" (2006), do qual eu havia assistido anos atrás em uma edição especial em DVD de "A Pequena Sereia" (1989). Em ambos os casos o efeito é o mesmo, onde a crença nos dá algo que nos reconforte e fazendo com que a morte se torne menos sombria.

Com traços suaves, porém, cheio de detalhes, o filme é até mesmo a frente do seu tempo em termos produção e se igualando com obra prima "Akira" (1988) que havia sido lançado no mesmo ano. Curiosamente, "O Tumulo dos Vagalumes" havia sido lançado simultaneamente com "Meu Amigo Totoro" (1988), de Hayao Miyazaki. Na sequência os dois filmes foram lançados e exibidos juntos, como um programa duplo. Muitas pessoas, no entanto, não assistiam a "O Túmulo dos Vaga-Lumes" por não desejarem sair do cinema tristes depois da alegria proporcionada pelo filme de Miyazaki, que costumava ser projetado primeiro.

O conto, por sua vez, havia sido adaptado novamente em 2005, exclusiva para a televisão, em comemoração ao 60º aniversário do fim da Segunda Guerra e uma em 2008. Porém, nenhuma delas superou, seja em partes técnicas ou emocionais, a produção de 1988 e sendo reconhecida hoje, não somente como um dos melhores longas animes do Japão, como entrando facilmente na lista dos melhores filmes de todos os tempos. No meu caso, fui conhece-lo no livro "1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer" e fazendo com que eu fosse conhecer posteriormente outra obra impactante que foi "Gen Pés Descalços" (1983) e que se passa também durante a Segunda Guerra Mundial.

"O Tumulo dos Vagalumes" é aquele filme que sempre quando você for revisita-lo irá lhe atingir em cheio com a sua história humana e de grande impacto emocional. 


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