Sinopse: Joana, uma adolescente de 14 anos, aparece para passar uma semana com o pai, Renato, um humorista que apresenta seus shows em churrascarias, bares e casas noturnas de Fortaleza interpretando a personagem Silvanelly.
Pedro Diógenes construiu uma carreira como cineasta comendo pelas beiradas, mas que aos poucos foi chamando atenção da crítica especializada. Nunca me esqueço da sessão que eu tive aqui no Cinebancários ao assistir o seu filme experimental "Os Monstros" (2011) e cujo seu ato final nunca me esqueço, pois irritou muita gente durante a sessão. Já o ótimo "Inferninho" (2018) fala sobre um universo particular dentro de um bar e cujo seus habitantes procuram despertar para realizar os seus sonhos quase nunca alcançáveis.
Nota-se, portanto, um realizador que experimenta dizer algo com relação a sua pessoa, mas que ao mesmo tempo nos transmite algumas questões que entram em debate hoje em dia. Em tempos em que as famílias tradicionais brasileiras só existem da boca pra fora, cabe uma análise mais profunda sobre o que realmente se faz uma família nos dias de hoje. "A Filha do Palhaço" (2022) fala sobre redenção, reconciliação e saber perdoar a pessoa próxima, pois a mesma nunca sabe para onde irá parar uma vez que decide ser o que é na vida.
O filme conta sobre Joana (Lis Stutter), uma jovem que não conhece muito bem o seu pai Renato (Demick Lopes), pois ela cresceu longe dele. Então, ela vai passar uma semana na companhia dele, um humorista que se apresenta em diversos ambientes interpretando o personagem Silvanelly e nessa semana fatídica eles aprenderão a lidar um com o outro. Porém, ambos terão que reaprender a saber conviver um com o outro.
Não faltam filmes ao longo da história do cinema que fala sobre relacionamentos entre pais e filhos, mas Pedro Diógenes criou um longa que fala por si. De uma relação fria logo se ganha cores na medida que os dois personagens centrais se aproximam um do outro e logo ficam sabendo como são suas realidades e como viveram até aquele ponto. Se em um primeiro momento Joana acha estranho o trabalho que o seu pai coloca em prática logo ela vai compreendendo que esse universo particular dele é sobre ele próprio e do qual não tem como mudar isso.
Com uma fotografia super colorida, o filme remete uma realidade que, por vezes, se separa do nosso mundo, assim como foi visto no filme "Inferninho", mas que logo vai se desconstruindo na medida que Joana adentra o mundo do seu pai e vai revelando para ele a sua própria realidade. Tanto Lis Stutter como Demick Lopes estão ótimos em cena, sendo que esse último faz parte de inúmeros títulos indispensáveis do cinema recente brasileiro e aqui ele faz um trabalho novamente que merece ser analisado de perto.
Seu Renato é um personagem complexo, que não esconde a sua real natureza para a sua filha, mas não escondendo também o seu desejo de tentar se aproximar dela mesmo de forma tardia. Já Joana procura deixar de lado a raiva para procurar compreender as motivações que levaram o seu pai em abandona-la, mesmo que em um primeiro momento isso possa parecer impossível de colocar em prática. No final das contas, é um filme que todos nós iremos nos identificar, pois toda família que se preze tem os seus altos e baixos e dos quais podem ser amenizados se houver uma fresta para que possamos adentrar e entender os atos e consequências do nosso próximo.
Ao final, nós desejamos que eles fiquem juntos, mesmo quando a realidade bate à porta na reta final da trama. A redenção e reconciliação sempre existiram, mas o mundo segue girando e nem tudo que nós construímos pode se casar com a vida dos outros. Cabe, então, seguirmos em frente, mas sabendo que tentamos sermos o melhor em cada relação que havíamos construído. "A Filha do Palhaço" é um belo filme brasileiro sobre pais e filhos e que o amor paternal sempre existirá mesmo nestes tempos complexos.
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