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segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Cine Dica: Em Cartaz - 'Ainda Estou Aqui'

Sinopse: Durante o Regime Militar, a família Paiva sofre um golpe após o desaparecimento de Rubens Paiva. Sua esposa Eunice busca pela verdade no decorrer de sua vida.  

Walter Salles criou duas visões sobre o Brasil em um momento em que o cinema brasileiro a recém estava retomando após a extinção da Embrafilme no início dos anos noventa. Se em "Terra Estrangeira" (1995) era o retrato de uma sociedade indefinida com os desdobramentos do governo Collor, por outro, "Central do Brasil" (1998) mostrava a mesma buscando se recuperar e alcançar um fio de esperança mesmo com um futuro ainda indefinido. Em "Ainda Estou Aqui" (2024) o realizador retorna ainda mais ao passado, ao retratar uma família em busca pelo direito de existir e ter ao menos fé em meio a sombra dos tempos ditatoriais.

Baseado na obra de Marcelo Rubens Paiva, o filme conta a história de sua mãe Eunice (Fernanda Torres) e de sua família durante os tempos da Ditadura Militar da década de setenta. Feliz, e com uma família que ama, Eunice tem os seus dias abalados no momento em que o seu marido Rubens Paiva (Selton Mello) desaparece e logo em seguida o DOPS a leva para interrogatório. Eunice acredita que o seu marido esteja preso, mas terá que enfrentar uma dura jornada para alcançar essa verdade.

É interessante o retrato que Walter Salles faz com relação ao Rio de Janeiro dos anos setenta, onde simboliza uma cidade maravilhosa como ela é, mesmo com a sombra de tempos ditatoriais. Bom exemplo disso é a cena de abertura em que a protagonista está nadando em paz na praia, para logo em seguida ver um helicóptero sobrevoar o local. Para os entendedores daquela época muitos sabem para onde o veículo estava indo e o que seria jogado no mar.

Antes dos desdobramentos da trama, porém, apreciamos a rotina da família, desde brincar na beira da praia, como também as suas atividades dentro de casa. Em meio a isso Walter Salles aproveita para destacar o super8, ferramenta que as pessoas tinham para capturar os momentos, tanto de felicidade, como também das adversidades que aconteciam. Para o cinéfilo, logicamente, essa forma de filmar remete tempos de um cinema de resistência, principalmente para aqueles que apreciaram "Deu Pra Ti Anos 70" (1980).

Porém, as imagens que simbolizam tempos mais dourados daquela família logo vão ganhando tons sombrios e de pura angústia. É então que a protagonista adentra um dos piores pesadelos daqueles que batiam de frente contra a Ditadura, o DOPS, cujo os locais eram até mesmo desconhecidos, mas quem passou por lá sabe que havia grandes chances de não sair vivo. É a partir deste ponto que Fernanda Torres começa a carregar o filme nas costas e de uma forma extremamente fantástica.

Sua personagem Eunice transita entre a fragilidade para uma força interna jamais vista, pois precisa, acima de tudo, se manter viva para cuidar e defender a sua família. Após o DOPS vemos então uma outra Eunice, da qual se encontra consciente da possibilidade do que pode ter acontecido com o seu marido, mas ao mesmo tempo tentando manter a felicidade ainda viva como um todo. Portanto, a cena em que vemos ela levar a sua família para comer sorvete enquanto a vemos observar as demais pessoas felizes no local se torna um dos melhores momentos do filme, pois Fernanda Torres consegue nos transmitir todo o peso dessa cena através do seu olhar profundo.

Além disso, Walter Salles consegue construir elementos que falam por si e sem que alguém possa nos explicar do porque veio a acontecer. A construção narrativa sobre o cachorrinho, por exemplo, é mais do que proposital, pois posteriormente ele sai de cena de forma trágica, mas que simboliza o estado de espírito daqueles personagens. Eles tiveram a chance de enterrar o seu bicho de estimação, mas não obtiveram a possibilidade de enterrar o senhor Paiva em momento algum.

Após isso a vida continua, mesmo através dos escombros emocionais que se encontram naquela família. Walter Salles capricha na transição do tempo, onde as crianças vão crescendo e cada um seguindo o seu próprio destino. Fernanda Torres, por sua vez, surpreende ainda mais ao retratar uma mulher já sentindo o peso do tempo, mas ao mesmo tempo seguindo em frente e se tornando alguém que foi muito além do que se imaginava.

Por conta disso, a cena final onde vemos a personagem ganhar a pele de Fernanda Montenegro é também um momento digno de nota. Ali vemos uma mulher que enfrentou tudo na vida, obtendo a chance das suas palavras serem ouvidas, mas tendo que então enfrentar o lado frágil e humano da vida que todos nós teremos que enfrentar um dia. Porém, ao vê-la testemunhar uma reportagem na tv sobre os tempos da Ditadura, vemos alguém que ainda manteve a sua força interna viva e servindo de exemplo para as gerações futuras de não se rebaixarem na possível volta de tempos ditatoriais que sempre nos assombra.

Indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme de Língua Não-Inglesa  e de Melhor Atriz, "Ainda Estou Aqui" não é somente o retrato da luta de uma mulher, como também um simbolo de uma geração inteira que não baixou a cabeça perante o fascismo que tentou dominar a vida das pessoas através do medo.

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