Nos últimos anos eu sempre me peguei assistindo a um filme no natal, mas que de natalino ele não tem nada, mas sim como devemos usar a fé para enfrentar os desafios da vida. O que dizer então de um homem que foi escolhido por Deus para libertar um povo das mãos do Egito e tem então a história de Moisés, talvez uma das passagens bíblicas mais surpreendentes. Portanto, o clássico "Os Dez Mandamentos" (1956) faz jus ao peso dessa história e sendo apontado por muitos como um dos maiores épicos da história do cinema.
Cecil B. DeMille já era um diretor veterano na época e que quase sempre dirigia grandes espetáculos cinematográficos que entrariam para a história. Após a finalização do "Maior Espetáculo da Terra" (1951) o realizador decidiu retornar à história sobre Moisés, já que em 1923 ele havia feito uma primeira versão da história e sendo já apontado na época como um grande espetáculo. Porém, Demille queria fazer um grande épico de quase quatro horas de duração e que fosse fiel, tanto o que está escrito no velho testamento, como também os Manuscritos do Mar Morto, coleção de pergaminhos encontrados no deserto a leste de Jerusalém, na costa do Mar Morto.
Por ser um realizador que começou a carreira nos primeiros anos do cinema, DeMille queria filmar o grande projeto da maneira como se fazia cinema antigamente, mas ao mesmo tempo usando a tecnologia de ponta para a época. Diante disso, o diretor filmou tanto cenas no Egito, como também nos próprios estúdios da A Paramount, ao ponto que uma mesma passagem da história era rodada em ambos os locais. Belo exemplo disso é a saída de Moisés (Charlton Heston) do Egito, sendo que a sua ida para o deserto é um local verdadeiro, enquanto Ramses (Yul Brynner) se encontra em estúdio, mas com cenas do Egito atrás dele, mas que em pré produção era uma tela azul.
Isso está espalhado em boa parte do filme, além de cenários pintados em vidro, cenários feitos em tamanho natural e uma imensidão de figurantes que representaram o povo Hebreu saindo do Egito e sendo uma bela representação do que foi o Êxodo. Agora, nada supera a surpreendente cena da abertura do mar vermelho, onde o povo de Moisés atravessa enquanto os soldados do faraó sucumbem as ondas quando elas caem novamente. A cena da abertura das águas, por exemplo, foi rodada em um grande tanque do estúdio, sendo então colocada na cena crucial da trama e se tornando uma das melhores cenas de ação de todos os tempos.
Com figurino, fotografia e edição de arte impecáveis, a produção também é recheada tanto de grandes astros da época, como também da participação de intérpretes que posteriormente fariam sucesso logo em seguida. Interessante exemplo é a presença do ator Vincent Price, que aqui interpreta justamente o Egípcio morto por Moisés e que anos mais tarde se consagraria como um dos grandes atores dos filmes de horror. Outro destaque é presença curta de Woody Strode em cena, mas que se consagraria em um papel marcante em "Spartacus" (1960) e se tornando um dos primeiros grandes atores negros de Hollywood.
No caso do elenco principal destaque logicamente Charlton Heston, que na época já era um grande astro de cinema e tendo já trabalhado com Cecil B. DeMille em "O Maior Espetáculo da Terra". Heston foi escolhido pelo diretor pelo fato do intérprete ter um rosto parecido com a estátua de Moisés criada por Michelangelo e uma vez ele maquiado concordamos que a escolha foi mais do que perfeita. Houve outros intérpretes que já interpretaram Moisés, seja para o cinema ou para tv, mas nenhum superou o seu incrível desempenho.
Outro destaque tem que ser dado a Yul Brynner como o ambicioso Ramses. Conhecido na época pelo clássico "O Rei e Eu" (1956), Brynner teve a proeza de possuir um físico invejável mesmo nunca ter feito grandes exercícios e tendo o costume de ficar sem cabelos, pois achava sua careca perfeita. Portanto, o papel lhe caiu como uma luva, onde ele se sentiu mais do que a vontade em colocar para fora o lado sombrio de um Ditador ambicioso e que não medirá esforços para esmagar o povo Hebreu.
Curiosamente, o filme começa justamente com o próprio Cecil B. DeMille em cena. Ao se apresentar em um grande palco, DeMille exemplificou em suas palavras que o filme nasceu com o intuito de, tanto agradar os religiosos, como também historiadores que sempre buscam por respostas sobre tempos longínquos. Acima de tudo, foi um filme realizado em uma época em que o mundo já enfrentava inúmeros ditadores no mundo e a produção veio para levantar a seguinte questão: É o destino do homem servir as ordens de outros homens, ou servir aos desígnios de Deus?
Vários anos depois eu digo que o filme é uma lição sobre fé, onde as adversidades existem para serem superadas, mesmo quando elas pareçam impossíveis de serem enfrentadas. Portanto, Cecil B. DeMille encerrou a sua carreira como cineasta de forma digna, sendo que essa lição ainda é necessária nos dias de hoje e revisto se percebe que ele não somente envelheceu bem, como está mais atual do que nunca. Curiosamente, é um filme que simboliza uma época em que os estúdios realmente colocavam a mão na massa, onde se faziam grandes cenários, figurinos e culminando em um grande espetáculo e que nenhum CGI de hoje consegue superá-lo.
Quase setenta anos depois, "Os Dez Mandamentos" é um exemplo da palavra épico e se tornando hoje para mim um dos meus filmes favoritos em tempos festivos de final de ano.
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