Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
Me acompanhem no meu:
Twitter: @cinemaanosluz
Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com
Local: Sala Paulo Amorim, Casa de Cultura Mario Quintana
Data: 23/04/2022, sábado, às 10:15 da manhã
"Garoto Chiffon" (Garçon Chiffon)
França, 2021, 110 min, 14 anos.
Direção: Nicolas Maury
Elenco: Nicolas Maury, Nathalie Baye, Arnaud Valois
Sinopse: Jérémie é um ator famoso que está passando por dificuldades emocionais e financeiras. Cansado e sem saber lidar com suas desventuras românticas, profissionais e familiares, o ator decide sair de Paris e buscar conforto na companhia da mãe, que mora no interior. Mas ele logo percebe que a mãe não está muito interessada em confortá-lo.
SESSÃO DE DOMINGO
Local: Sala Eduardo Hirtz, Casa de Cultura Mario Quintana
Data: 24/04/2022, domingo, às 10:15 da manhã
"M, o Vampiro de Dusseldorf" (M - Eine Stadt sucht einen Mörder)
Alemanha, 1931, 117 min, 12 anos.
Direção: Fritz Lang
Elenco: Peter Lorre, Ellen Widmann, Inge Langdut, Otto Wernicke, Theodor Loss
Sinopse: Um misterioso infanticida leva o terror a Dusseldorf. A polícia local não consegue capturar o serial killer então um grupo de foras-da-lei se une para encontrar o assassino. Capturado pelos marginais, ele é julgado por um tribunal de criminosos.
Sinopse: Etienne é um ator encantador mas que está sempre desempregado. Ele dirige uma oficina de teatro em uma prisão, onde reúne um grupo improvável de prisioneiros para encenar a famosa peça Esperando Godot, de Samuel Beckett.
FLEE – NENHUM LUGAR PARA CHAMAR DE LAR
Sinopse: Amin Nawabi, um homem que convive com um passado doloroso, guardado por vinte anos, que afeta de forma silenciosa a vida que ele está construindo para si e seu futuro marido.
CIDADE PERDIDA
Sinopse: A brilhante, porém reclusa autora Loretta Sage (Sandra Bullock) escreve sobre lugares exóticos em seus romances populares de aventura, cujas capas são estreladas pelo belo modelo Alan (Channing Tatum), que tem dedicado sua vida a personificar o personagem herói, Dash. Durante a turnê de promoção de seu novo livro com Alan, Loretta é raptada por um bilionário excêntrico (Daniel Radcliffe), para que ela o guie ao tesouro da cidade perdida descrita em seu livro recente.
Detetives do Prédio Azul 3 - Uma Aventura no Fim do Mundo
Sinopse: Severino encontra um medalhão mágico e fica enfeitiçado. Para salvar o amigo e impedir que as forças do mal o dominem para sempre, Sol, Bento, Pippo e a feiticeira Berenice embarcam em uma aventura gelada na neve e vão até o Fim do Mundo! Classificação indicativa livre, contém violência fantasiosa.
NUNCA FOMOS TÃO MODERNOS
Sinopse: Santiago (Guga Coelho) é um cara bem azarado, mas conseguiu se casar com Marina (Leticia Spiller), uma talentosa restauradora que trabalha em um museu com peças antigas. O casamento deles não estão nas melhores condições, muito por conta da rotina e situação financeira.
(Lola vers la Mer - Bélgica-França, 2021, 90min). Direção de Laurent Micheli, com Mya Bollaers e Benoît Magimel. Filmicca, 14 anos. Drama.
Sinopse: Lola é uma jovem trans que sempre contou com o apoio da mãe para seguir sua vida. Quando ela morre, Lola volta para casa e enfrenta a indiferença do pai. Apesar de tudo, os dois terão que se unir para cumprir o último pedido da mãe: ter suas cinzas jogadas no lugar onde passou a infância, em uma praia do Mar do Norte. Mya Bollaers ganhou o Prêmio Magritte (o Oscar Belga) de atriz revelação.
16h30 – MATEÍNA – A ERVA PERDIDA Assista o trailer aqui.
(Uruguai/Brasil/Argentina, 2021, 80min). Direção de Joaquín Peñagaricano e Pablo Abdala Richero, com Federico Silveira, Martín Sacco e Diego Licio. Lança Filmes, 12 anos. Comédia dramática.
Sinopse: Num futuro próximo, a erva-mate está proibida para consumo no Uruguai. Dispostos a lucrar com o episódio, dois vendedores ilegais iniciam uma jornada rumo ao Paraguai para contrabandear o insumo. Durante a viagem, transformam-se em heróis por acaso — e tentam devolver ao povo sua identidade perdida. Prêmio de melhor filme no Festival de Cinema da Fronteira em 2021.
(Il Traditore - Itália-França-Alemanha-Brasil, 2020, 145min). Direção de Marco Bellocchio, com Pierfrancesco Favino, Maria Fernanda Cândido, Fabrizio Ferracane. Pandora Filmes, 16 anos. Drama.
Sinopse: No início dos anos 1980, os chefes da Máfia siciliana entram em guerra pelo controle do tráfico de heroína. Um dos chefes do sistema, Tommaso Buscetta foge para o Brasil, enquanto seus filhos e irmãos são assassinados em Palermo. Preso pela polícia brasileira e extraditado para a Itália, ele toma uma decisão que irá mudar os rumos da Máfia italiana: revelar todos os seus segredos para o juiz Giovanni Falcone e trair o voto eterno que fez à Cosa Nostra.
TERÇAS, QUARTAS e QUINTAS-FEIRAS: R$ 12,00 (R$ 6,00 – ESTUDANTES E MAIORES DE 60 ANOS). SEXTAS, SÁBADOS, DOMINGOS, FERIADOS: R$ 14,00 (R$ 7,00 - ESTUDANTES E MAIORES DE 60 ANOS). CLIENTES DO BANRISUL: 50% DE DESCONTO EM TODAS AS SESSÕES.
Professores têm direito a meia-entrada mediante apresentação de identificação profissional.
Estudantes devem apresentar carteira de identidade estudantil. Outros casos: conforme Lei Federal nº 12.933/2013. Brigadianos e Policiais Civis Estaduais tem direito a entrada franca mediante apresentação de carteirinha de identificação profissional.
*Quantidades estão limitadas à disponibilidade de vagas na sala.
A meia-entrada não é válida em festivais, mostras e projetos que tenham ingresso promocional. Os descontos não são cumulativos. Tenha vantagens nos preços dos ingressos ao se tornar sócio da Cinemateca Paulo Amorim. Entre em contato por este e-mail ou pelos telefones: (51) 3136-5233, (51) 3226-5787.
Sinopse: As férias do detetive belga Hercule Poirot a bordo de um glamouroso cruzeiro no Egito se transforma em uma caçada a um assassino quando a lua de mel de um famoso casal é interrompida.
Kenneth Branagh gosta de dirigir adaptações de clássicos literários, pois basta pegarmos "Hamlet" (1996) e "Frankenstein de Mary Shelley" (1994) como belos exemplos a serem conferidos e analisados. No universo da escritora Agatha Christie, por exemplo, o diretor foi a fundo na adaptação de "Assassinato no Expresso Oriente" (2017), sendo que em termos de comparação se tornou até mesmo superior se formos comparar com a versão de 1974. Em "Morte no Nilo" (2022) o diretor não perde o compasso nesta continuação e fazendo a gente desejar para que ele retorne em uma possível terceira parte.
Em "Morte no Nilo", durante sua viagem de lua de mel pelo rio Nilo, o casal Linnet Ridgeway (Gal Gadot) e Simon Doyle (Armie Hammer), convidaram os entes mais queridos para embarcar no barco Karvak e celebrar a união do casal. Porém a rica herdeira é misteriosamente morta de noite e por quase todos os passageiros têm motivos para matá-la. Mas um dos convidados, por coincidência, é o mais famoso detetive do mundo, Hércules Poirot (Kenneth Branagh), que começa a investigar o caso. Enquanto as investigações têm início no próprio barco, novas mortes acontecem com o intuito de encobrir a verdade e o caso acaba sendo mais difícil de se solucionar a cada tempo que passa.
Hércules Poirot talvez seja um dos personagens mais interessantes da literatura, mas que somente nas mãos de um cineasta como Branagh pode torna-lo mais verossímil do que se imagina. Para começar, ele não é um Sherlock Holmes inabalável, ao ponto de ele não conseguir esconder certos sentimentos, assim como também certas cicatrizes físicas e emocionais que jamais deixaram de sangrar. Não é à toa, portanto, que o prólogo acaba se tornando muito importante, ao revelar uma faceta mais humana e falha do protagonista.
Aliás, vale destacar essa abertura, pois Branagh pode enganar o público em geral, mas não o cinéfilo com olho vivo de plantão. Nos primeiros minutos, por exemplo, vemos uma referência não somente do filme "1917" (2019)" do qual foi dirigido pelo seu amigo Sam Mendes, como também do ótimo "Dunkirk" (2017) do diretor Christopher Nolan. Além dessas pequenas referencias, vale destacar a ótima fotografia em preto e branco que o diretor incrementa nesta hora, mas que isso se deve graças ao diretor de fotografia Haris Zambarloukos e que posteriormente ambos trabalhariam juntos no maravilhoso "Belfast" (2021).
Curiosamente, é interessante observar como essa abertura possui um peso fundamental dentro da história. Ela não possui uma ligação direta com o principal crime da trama, mas é algo que afeta Hércules Poirot diretamente e é então conhecemos a origem do seu estravagante bigode. Um momento dramático e do qual Branagh atua e dirige belamente.
Com relação a trama principal, o cineasta novamente arrisca tudo o que tem direito, ao inserir sua visão autoral na direção e cuja a sua câmera passeia pelos belos cenários em que ocorre a trama, seja ela nas paisagens naturais do Egito, ou simplesmente dentro do barco em que ocorrerá o assassinato. Branagh, aliás, retorna com o seu fetiche básico, ao fazer um giro de 360º graus com a sua câmera em meio aos atores e sendo algo ainda mais frenético do que foi visto em potência máxima anos atrás em "Frankenstein de Mary Shelley". Um diretor que não mede esforços para obter a nossa atenção e que consegue fazer isso com certo êxito.
Assim como o filme anterior, a obra é recheada de grandes astros, que vai do próprio Branagh a Gal Gadot e a veterana Annette Bening. Cada um interpreta um personagem que se torna peça fundamental desse jogo de gato e rato, ao ponto de alguns participarem do crime mesmo que indiretamente. A investigação vai cada vez mais a fundo, a ponto de ocorrer novas mortes e fazendo do barco um verdadeiro cenário claustrofóbico.
Talvez a solução do crime estivesse bem na nossa frente e tornando a revelação assim não tão surpreendente. Mas talvez isso não seja culpa de Kenneth Branagh, ou tão pouco culpa da escritora Agatha Christie, mas sim pelo fato de que crescemos assistindo e lendo outros crimes e dos quais muitos se inspiraram nos principais clássicos da escritora. Talvez as copias possam vir a ser melhores do que a original, mas nunca é demais irmos direto ao ponto onde tudo começou.
Com um epílogo em que vemos Hércules Poirot com um visual inesperado, "Morte no Nilo" é uma ótima pedida para aqueles que buscam uma boa história investigativa, além de nos despertar o desejo de irmos na livraria mais próxima.
Nota: Filme exibido para associados no último sabádo (16/04/2022).
Sinopse: Tommaso Buscetta, o primeiro arrependido da máfia, permitiu que os juízes Falcone e Borsellino compreendessem a organização da Cosa Nostra e levassem seus líderes ao tribunal.
Existe uma infinita lista de filmes sobre a máfia dentro da história do cinema, sendo que no princípio começou apenas como filmes baratos de entretenimento dos anos 30, para mais tarde se tornar um subgênero que acabou atraindo cada vez mais o público e a crítica. No filme "O Irlandês" (2019), por exemplo, vemos a construção da máfia irlandesa, sendo ao mesmo tempo interligada pelo lado de dentro da política e tendo papel fundamental nos principais pontos da história dos EUA. "O Traidor" (2021) vai pôr um caminho ainda mais pessoal, onde a fidelidade é posta à prova em meio a alianças duvidosas e poderes que a qualquer momento irão se partirem ao meio.
Dirigido por Marco Bellocchio, o mesmo de "A Bela Que Dorme" (2013), o filme conta a história de Tommaso Buscetta (Pierfrancesco Favino), que vivia no início dos anos 80, em meio a uma guerra generalizada entre os chefes da Máfia Siciliana pelo controle do tráfico de heroína. Sendo Tommaso, um integrante de alto escalão, ele foge para se esconder no Brasil. Na Itália, os acertos de contas acontecem enquanto Buscetta assiste de longe seus filhos e irmãos sendo assassinados em Palermo, sabendo que poderá ser o próximo. Preso pela polícia brasileira e extraditado para a Itália, Buscetta toma uma decisão que irá mudar os rumos da máfia italiana: ele decide se encontrar com o Juiz Giovanni Falcone e trair o voto eterno que fez à Cosa Nostra.
Eu conheci Marco Bellocchio anos atrás através do maravilhoso "Vincere" (2009), do qual se destaca pelo seu teor épico que o diretor incrementou naquela obra e que posteriormente faria o mesmo nos seus filmes seguintes. Aqui, Bellochio cria uma super produção caprichada, da qual reconstitui as duas décadas que mostram os principais eventos da trama e aproveitando ao máximo os cenários naturais como no caso, por exemplo, o Brasil quando surge no primeiro ato. As cores quentes de uma época cheia de oportunidades vão dando lugar a cores acinzentadas e revelando tempos turbulentos para os principais personagens da trama.
Neste último caso, os personagens são diversos, sendo que cada um se tornou uma peça fundamental nesta verdadeira teia moldada por dinheiro, sangue e até mesmo influência política. Porém, o filme pertence todo a figura de Tommaso Buscetta, personagem que transita entre a fidelidade e o medo de perder a sua família. Por conta disso, a fidelidade vai, aos poucos, definhando e revelando uma outra face dessa pessoa até então desconhecida.
Pierfrancesco Favino, visto recentemente em um papel similar em "Irmãos a Italiana" (2021), carrega todo o filme nas costas, sendo que a sua atuação se sobressai principalmente nos momentos em que o seu personagem dá o seu depoimento, sendo para o juiz Falcone (Fausto Russo Alesi) ou perante ao júri em que os ânimos ficam a flor da pele. Neste último caso, isso se torna ainda mais forte principalmente com a presença dos principais acusados e fazendo de Buscetta um alvo onde será descarregado toda a raiva e ódio vinda dos mesmos.
Embora um tanto longo, o filme nos prende para sabermos sobre o destino de Buscetta, pois embora tenha se metido em uma realidade em que há consequências, o roteiro se encarrega em simpatizarmos com ele até o último minuto da trama. Aceitando as consequências dos seus atos, o destino do personagem se assemelha com a cena final de Robert De Niro no filme "O Irlandês" sendo que em ambos os casos os personagens tem a total consciência que se tornaram alvos e aguardam para alguém vir mata-los. Um destino mórbido, porém, coerente para figuras como essa que se aventuram em uma cruzada sem volta.
Com uma ótima participação de Maria Fernanda Cândido como esposa do protagonista, "O Traidor" mostra a jornada de um homem em busca da redenção, muito embora isso não faça dele um herói, mas sim somente alguém que deseja sobreviver.
Sinopse: Em um futuro próximo distópico no Brasil, um governo autoritário ordena que todos os cidadãos afrodescendentes se mudem para a África - criando caos, protestos e um movimento de resistência clandestino que inspira a nação.
Atualmente o Brasil é governado por um Presidente que representa tudo o que há de pior no ser humano. Infelizmente há uma boa parcela do povo brasileiro que se identifica com ele, com as suas ideias absurdas e acreditando que agora tem o direito em liberar o seu ódio, seja nas redes sociais ou no mundo real. Mas como foi possível termos deixado isso acontecer?
As respostas, talvez, estejam em nossa história recente, desde a parcialidade vinda de um Juiz corrupto que decidiu perseguir um governo, como também a parcialidade de uma mídia tradicional que alimentou o ódio da população no decorrer do tempo. Levando uma coisa e outra a Caixa de Pandora acabou sendo aberta e revelando um brasileiro que reproduz o que há de mais podre e do qual o mesmo luta pelo seu pensamento retrógrado a qualquer preço. "Medida Provisória" (2022) é uma ficção, mas que possui traços explícitos do nosso presente e nos diz para agirmos antes que seja tarde.
Dirigido por Lázaro Ramos, o filme se passa em um futuro distópico do Brasil, onde governo decreta uma medida provisória, em uma iniciativa de reparação pelo passado escravocrata, provocando uma reação no Congresso Nacional. O Congresso então aprova uma medida que obriga os cidadãos negros a migrarem para a África na intenção de retornar a suas origens. Sua aprovação afeta diretamente a vida do casal formado pela médica Capitú (Taís Araújo) e pelo advogado Antônio (Alfred Enoch), bem como a de seu primo, o jornalista André (Seu Jorge), que mora com eles no mesmo apartamento.
O longa é uma adaptação de "Namíbia, Não!", peça de Aldri Anunciação que o diretor e ator Lázaro Ramos dirigiu para o teatro em 2011. Com isso, se percebe que há uma linguagem teatral no decorrer do filme, mas da qual Lázaro consegue casar com facilidade com as regras e fórmulas de como se faz cinema. Embora estreante na direção, o ator nos brinda com uma edição caprichada, onde as cenas de simples diálogos se transformam em um verdadeiro jogo de cena e dos quais pequenos detalhes são filmados para nos passar um proposito que será correspondido em um determinado ponto do enredo. O primeiro ato, por exemplo, é tudo construído com ares de um filme de suspense, como se tudo estivesse sendo armado para a chegada de uma grande tempestade.
Quando ela ocorre, não há como não se lembrar de clássicos literários como, por exemplo, "Contos da Aia" de Margaret Atwood, onde um governo totalitário fundamentalista cristão derrubou o governo dos Estados Unidos e tirando todos os direitos das mulheres. Aqui é algo parecido, mas que ocorre justamente nas mãos daqueles que se dizem governar em um país democrático, mas que criam leis não para ajudar o povo, mas sim com o intuito de apenas corresponder a uma parcela da população que se acha dominante e com o desejo de ter o direito de expressar os seus pensamentos escravocratas de um passado distante. Não deixa de ser simbólico, por exemplo, vermos deputados aprovarem a medida provisória da trama, sendo que a cena simboliza um dos momentos mais hipócritas e vergonhosos da nossa história brasileira recente e nos revelando o fato de que a Câmara dos Deputados de ontem e hoje não ser somente retrógrada, como também corrupta, racista e sexista.
Com uma trama carregada dos mais diversos assuntos sobre o Brasil atual, mesmo se passando em uma ficção, o filme precisaria de um ótimo elenco em cena e é exatamente isso que acontece. O casal central, interpretados por Taís Araújo e Alfred Enoch enfrentam o inferno racista de frente, mas separados no decorrer da trama e cada um enxergando até que ponto o ódio pode revelar o pior lado do ser humano. Em contrapartida, Seu Jorge é o melhor interprete em cena, cujo o seu personagem, o jornalista André, transita entre momentos cómicos e trágicos, ao testemunhar uma realidade absurda, se nivelando a quase uma piada pronta, mas que se torna tragicamente real e melancólica. Aliás, as suas cenas finais estão entre os melhores momentos que eu testemunhei do cinema brasileiro de 2022.
Curiosamente, os verdadeiros vilões da trama não ficam muito atrás na questão de interpretação e despertando em nós os mais diversos sentimentos. Ao interpretar a deputada criadora da medida provisória, Adriana Esteves libera tudo o que há de pior do seu lado Carminha, personagem da qual havia interpretado na novela "Avenida Brasil" (2012) e sintetizando o lado hipócrita e racista de muitos brasileiros que se identificam com esse tipo de pessoa e da qual a mesma interpreta com exatidão no longa. Já a personagem de Renata Sorrah nada mais é do que uma representação de um vizinho próximo, ou de um parente indesejado e que sempre desejamos tapar os ouvidos quando os mesmos lançam um comentário racista ou homofóbico.
O ato final reserva momentos para se criar as mais diversas reflexões, desde ao fato do preconceito nos provocar a raiva que se encontra guardada dentro de nós, como também nos fortalecer perante o horror e de não nos rebaixarmos ao nível deles. Acima de tudo, o filme serve de alerta, pois a qualquer momento a ficção começa a se tornar realidade e acontece principalmente nos momentos que não cremos que eles seriam capazes de chegarem tão longe. "Medida Provisória" é uma ficção que já está acontecendo no Brasil atual e que somente se agravará se a resistência não se fortalecer.
A presença do cinema dentro da UFRGS possui uma história que se estende há quase sessenta anos, mas é na década de 1980 que a trajetória da Sala Redenção começa a ser desenhada como espaço permanentemente voltado à sétima arte. A Sala Redenção, nosso cinema universitário da UFRGS, foi inaugurado em 22 de abril de 1987. Um dos espaços de difusão cinematográfica não-comercial mais antigos de Porto Alegre, ela assume, desde então, um papel de formação audiovisual, com uma programação de acesso livre a toda a comunidade.
Mostra | Cinema dos Anos 80
A comemoração oficial dos 35 anos da Sala Redenção inicia com a mostra “Cinema dos Anos 80”, que entra em cartaz nesta segunda-feira, dia 18, e tem sessões de segunda a sexta-feira, às 15h e às 19h, até o dia 29 de abril, sempre com entrada franca. A programação resgata o contexto do surgimento do cinema da UFRGS por meio de filmes representativos do imaginário do período, como “E.T.” (1982), de Steven Spielberg, e “Veludo Azul” (1986), de David Lynch.
Marcando o dia de seu aniversário, a Sala Redenção apresenta uma maratona, das 13h às 22h, que reúne alguns dos filmes exibidos nos primórdios de sua história, como o longa “O Circo” (1928), de Charles Chaplin, e os documentários “Koyaanisqatsi” (1982), de Godfrey Reggio, e “Panorama do Cinema Brasileiro” (1968), de Jurandyr Noronha. Além disso, em alusão à icônica pintura da fachada do prédio do cinema universitário, inspirada no filme “Viagem à Lua”, de George Meliès, serão exibidos curtas dirigidos pelo ilusionista francês. A sessão ganha trilha improvisada ao vivo pelo Desandance (Bel Medula, luczan e Rai).