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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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terça-feira, 19 de junho de 2018

Cine Especial: Clube de Cinema de Porto Alegre: A Câmera de Claire



Nota: filme exibido para associados e não associados no último sábado (17/06/18).


Sinopse: Durante uma viagem de trabalho ao Festival de Cannes, a jovem coreana Manhee é demitida após ser acusada de desonestidade. Ao mesmo tempo, Claire, uma professora e escritora francesa, anda pela cidade fotografando com sua câmera Polaroid. Por acaso, essas duas mulheres se conhecem e têm uma conexão quase instantânea, em meio a reveladoras coincidências.

Logo após a reinauguração da Cinemateca Capitólio de Porto Alegre alguns anos atrás, eu tive o prazer de assistir nas suas primeiras semanas de atividade o filme A Visitante Francesa, sendo que foi o primeiro longa que eu vi do cineasta coreano Hong Sang-soo. Ele já era um cineasta reconhecido mundialmente, mas acho que eu o conheci justamente num momento em que ele começou a tentar exorcizar os seus conflitos vindos do seu intimo e criando filmes dos quais nos fale um pouco sobre a sua pessoa. Posteriormente vieram Lugar Certo, História Errada; Na Praia á Noite Sozinha; O Dia Depois e agora A Câmera de Claire do qual, novamente, ele não se intimida em falar sobre ele mesmo na tela através de uma história fictícia.
A trama se passa durante o Festival de Cannes, onde a jovem coreana Manhee (novamente Kim Min‑hee) é demitida pela produtora Yanghye (Mi-hie Jang) de um filme em que ela estava trabalhando. Mesmo sem saber o que fazer, Manhee permanece no litoral e é quando conhece Claire (Isabelle Huppert), uma fotografa fascinada pela fotografia e que inicia uma forte amizade com ela, mesmo num curto espaço de tempo. Antes disso, Claire conhece o diretor de cinema So Wansoo (Jin-young Jung), e esse encontro fortuito dará maiores explicações a respeito do destino de Manhee e de o porquê ela foi demitida tão bruscamente.
Assim como no recente O Dia Depois, Hong Sang-soo cria uma simples história de encontros e desencontros, mas se tornando especial na forma como ele filma os seus protagonistas e da maneira como eles se expressam perante a proposta principal da história. O filme se constrói a partir de longos diálogos, onde a câmera do diretor foca os atores em longos planos sem cortes e registrando cada mudança de comportamento deles. Um perfeito casamento de um perfeccionismo autoral com boas atuações em cena e descortinando o real significado de algumas ações dos personagens dentro da trama. 
Claire (Huppert), mesmo com toda a sua excentricidade com relação a fotografias, se torna uma espécie de representação de nós mesmos dentro da trama, já que, meio sem querer, cai de para quedas em meio a uma situação incomum com relação à demissão de Manchee (Min‑hee). Embora possa parecer meio que forçada à repentina forte amizade que surge de ambas as personagens quando se conhecem, isso é recompensado pelo talento de ambas às atrizes e também sendo uma forma para conhecermos melhor o outro lado da história pela perspectiva de Manchee. Atriz Kim Min‑hee novamente se torna a alma do filme, mesmo com a presença sempre forte Isabelle Huppert, mas uma não eclipsa a outra, mas sim ambas tendo um bom entrosamento de cena.
Embora aparente simplicidade, Hong Sang-soo nos cobra total atenção, já que a trama parece não linear e fazendo a gente se perguntar onde se encaixa cada passagem da história. Porém, isso é contornado com símbolos que o cineasta coloca intencionalmente em cena, desde uma mesa da qual servem café, ou da presença de um belo cão que se encontra descansando no local. São fórmulas simples, porém, eficazes e se tornando peças fundamentais dentro da história.
É claro que não poderia faltar o “alter ego” com conflitos sentimentais do cineasta, do qual ele sempre insere em cena, e coube ao ator Jung Jin Young abraçar essa tarefa ao interpretar um diretor de cinema dentro da trama. Frustrado, além de bêbado em alguns momentos, Jung Jin Young interpreta em cena uma pessoa arrependida pelos seus atos, mas sempre fugindo em consertar os seus próprios erros e enxergando na personagem de Kim Min‑hee nada mais do que os seus próprios defeitos: a cena em que ele julga Manchee sem mais nem menos sintetiza muito bem isso.
Com um final em aberto, A Câmera de Claire é somente uma parte do lado mais intimo de um cineasta que tenta se encontrar através do seu próprio cinema e fazendo a gente se perguntar qual será o próximo passo dessa curiosa cruzada cinematográfica.  

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segunda-feira, 18 de junho de 2018

Cine Especial: Clube de Cinema de Porto Alegre: Substantivo Feminino



Nota: filme exibido para os associados do clube no último Domingo  (17/06/18). 


Sinopse: O documentário resgata a história de Giselda Castro e Magda Renner, duas mulheres que foram fundamentais na militância em favor do meio ambiente, não só no Brasil, mas mundialmente. Tudo começou no ano de 1964, quando elas promoveram ações de cidadania junto à população carente e desinformada na Ação Democrática Feminina Gaúcha (ADFG). E foi a partir de então que as duas percorreram o mundo em conferências internacionais, na ONU e no Banco Mundial.



Na época do golpe de 1964, do qual o país começou a ser comandado pelos militares, existia a propaganda de revolução nacional contra o comunismo, quando na verdade não passou de uma cortina de fumaça para ocultar o óbvio. Ao mesmo tempo, surgiam grupos sociais em prol de um bem maior a favor do povo, mesmo que alguns desses tenham surgido no principio a serviço dos próprios militares. Felizmente nem todos seguiram as cegas essa cartilha, tanto que figuras como Giselda Castro e Magna Renner, por exemplo, foram muito mais além e criando uma luta em prol do meio ambiente e a serviço do bem estar das mulheres.
Dirigido por Daniela Sallet e Juan Zapata, o documentário Substantivo Feminino nos apresenta registros impressos, além de vídeos, dos quais revelam quem eram realmente Giselda Castro e Magda Renner, tanto do modo profissional como também do pessoal. Através da cruzada pela luta social e pelo meio ambiente, se constrói uma pequena linha do tempo, onde se revela alguns fatos históricos do estado do RS e do Brasil. Aos poucos se revela como elas tiveram até mesmo um papel fundamental na redemocratização do Brasil.
Assistir ao documentário Substantivo Feminino é como relembrar alguns pontos da história do RS, mais especificamente num tempo em que se ouvia bastante sobre a poluição de suas águas. Porém, quando surgiu na época uma luta pela limpeza das praias como, por exemplo, Barra do Ribeiro, jamais eu imaginei que o local começou a ser mais frequentado a partir do momento em que o Rio Guaíba começou a ser despoluído. Por ser uma mera criança na época, eu não sabia do papel importante que Giselda Castro e Magda Renner tinham com relação a esses fatos, até agora claro.
Através de depoimentos de familiares, amigos, colegas e figuras políticas como, por exemplo, Tarso Genro, os cineastas Daniela Sallet e Juan Zapata nos convidam para fazer uma pequena viagem do tempo, mais especificamente a partir de 1964, pouco antes do golpe, onde mulheres que pertenciam a famílias tradicionais gaúchas criaram uma entidade com fins sociais, dando-lhes cursos profissionalizantes e debates sobre higiene para moradores dos bairros de Porto Alegre. A Democrática Feminina Gaúcha (ADFG) garantiu oportunidades para inúmeras pessoas e partir desse cenário é que Magda Renner e Giselda Castro vieram a se conhecer e se unirem desde então. Mesmo com a ditadura vivendo o seu auge, elas fizeram o que muitas mulheres jamais optaram em fazer na época, que era lutar pelo que acreditavam.
Se no princípio o trabalho de ambas começou de forma tímida, as coisas começaram a engrenar a partir do momento em que elas conheceram o ambientalista José Lutzenberger. Foi assim, por exemplo, que a ADFG se tornou um exemplo dentro do Brasil em questões do meio ambiente e tendo reconhecimento no mundo a fora. Porém, os cineastas não procuram fazer uma reconstituição do que, talvez, a maioria dos gaúchos venha se lembrar, mas sim procurar revelar o lado mais humano dessas duas personagens.
Já no início, por exemplo, há um longo plano onde se revela um pouco do apartamento de Giselda, onde cada objeto representa um pouco de sua pessoa.  Mas ao invés daquele cenário servir de refugio para uma tarde de descanso, as imagens do documentário nos faz entender que o ambiente servia de local de trabalho para as duas mulheres e para que elas tentassem, então, concluir os seus próximos passos. Talvez não viessem a mudar o mundo, mas as duas estavam decididas em fazer algo a respeito.
E como elas fizeram. Foram mulheres com mentes a frente do seu tempo, tanto em questões sobre a coleta de lixo, como também sobre frear o desmatamento de nossas terras. É claro que nem tudo foi tarefa fácil, principalmente quando ambas começaram a bater de frente com gente poderosa dentro do poder daquela época. Segundo a lenda conta, Gicelda teria apontado o dedo na cara do presidente Ernesto Geisel e Magda teve a ideia de invadir com elegância uma reunião sobre ecologia onde ONGs ambientalistas estavam proibidas de participar.
Essa rixa delas com os militares têm o seu auge quando ambas começaram a ser observadas de longe e passaram a ter os seus nomes na lista de possíveis pessoas subversivas contra o governo. Tudo isso revelado através de arquivos e depoimentos dos familiares, dos quais sempre deram maior apoio para ambas e fazendo com elas jamais se esquecessem do bem mais precioso que era a família que tiveram em vida em meio a trabalho e adversidades. Essa última questão, aliás, não impediu a dupla de fazer parte da redemocratização do Brasil entre os anos 80 e 90, sendo que em 1988, criou-se o elemento normativo que faltava para considerar o Direito Ambiental uma ciência autônoma dentro do ordenamento jurídico brasileiro, a exemplo do que já ocorria em outros países.
Isso tudo não só se deve a elas, como também as muitas mulheres e homens que decidiram embarcar numa missão pela preservação do nosso meio ambiente. Infelizmente em tempos recentes, em que as questões sociais e ambientais estão sendo cada vez mais ignoradas, há um cenário de temor com relação ao futuro do país em relação aos seus bens naturais. Portanto, o documentário Substantivo Feminino nos brinda com um pequeno exemplo a ser seguido, ao revelar duas figuras femininas que não mudaram o mundo, mas que fizeram a sua parte pelo que acreditavam.



 

Onde assistir: Sala Norberto Lubisco às 17h30min. Casa de Cultura Mario Quintana. R. dos Andradas, 736 - Centro Histórico, Porto Alegre.



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