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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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terça-feira, 28 de julho de 2020

Cine Especial: 'Beijos Proibidos' - Corra Antoine, Corra


A Nouvelle vague foi a virada de mesa que mudou o cinema francês para sempre e influenciou diversos cineastas do mundo a fora. Diferente do convencional da época, os cineastas desse movimento decidiram sair dos estúdios, gravarem as suas histórias nas ruas das cidades e revelando uma França quase nunca vista na grande tela. Neste núcleo, dois dos meus cineastas favoritos daquele país se destacaram, que foram Jean-Luc Godard e François Truffaut.
No princípio deste movimento, se por um lado Truffaut fez uma espécie de reconstituição de sua juventude em sua obra prima "Os Incompreendidos" (1959), por outro lado, Godard fez "Acossado" (1960), um filme policial fora do convencional e cuja a sua forma de filmar influenciou o cinema mundial como um todo. Falando neste último caso, qualquer semelhança desse filme com o nosso clássico "O Bandido da Luz Vermelha" (1968) não é mera coincidência.  Amigos desde os tempos da revista  Cahiers Du Cinéma, tanto Truffaut como Godard criaram um cinema que falasse um pouco sobre o que acontecia naqueles tempos e que, embora falassem de temas parecidos, ambos criaram uma forma distinta de contar as suas próprias histórias.
Enquanto Godard criava o seu cinema autoral com doses cavalares com teor político como, por exemplo, "A Chinesa" (1968), por outro lado, Truffaut queria também seguir pelo mesmo caminho, mas de uma forma amenizada, porém, não menos política. com o seu alter ego Antoine de "Os Incompreendidos", o cineasta falaria um pouco da juventude francesa do final dos anos sessenta, da qual participaria dos movimentos de “Maio de 68” e sintetizando os ventos da mudança que estavam acontecendo. "Beijos Proibidos" (1968) fala um pouco dessa juventude, justamente em um momento em que tudo estava em movimento constante.

Movimento esse muito bem representado por Antoine, novamente interpretado pelo ator Jean-Pierre Léaud, e aqui vemos o mesmo abandonando o exército já no início da trama. Esse prólogo, aliás, é proposital para nos fazer lembrar que esse é o mesmo protagonista visto em "Os Incompreendidos", sendo ainda um jovem que vai contra o sistema e buscando uma forma de sempre correr de um mundo cheio de regras.  Porém, mesmo sendo uma representação de François Truffaut, vemos aqui um Antoine indo para o caminho não cinematográfico, mas sim nas trilhas em que os jovens franceses daqueles tempos abraçavam.
Vemos, portanto, um Antoine em meio aos conflitos internos com relação aos relacionamentos amorosos daqueles tempos, sendo que a sua paixão é Christine (Claude Jade), mas não escondendo os seus desejos por outras mulheres. Logo após deixar o exército, por exemplo, ele visita garotas de programas, mas de uma forma rápida, como se quisesse satisfazer as suas necessidades o quanto antes. Uma forma de nos dizer sobre aquela juventude dos anos sessenta, onde o conservadorismo não poderia mais conter os hormônios em ebulição naqueles tempos.
O conservadorismo, aliás, é muito bem representado aqui, onde mostra determinadas figuras mantendo o status de cidadão perfeito, mas não reparando o mundo mudando. Pegamos o caso do dono da loja de sapatos, que desconfia que as pessoas em sua volta não gostam dele e contrata Antoine como detetive para investigar isso. O dono dessa loja seria, talvez, a representação do capitalismo sofrendo os ataques de um mundo mais socialista que os jovens estavam querendo naqueles tempos e não se dando conta disso.
Curiosamente, determinados personagens seriam representações dessas determinadas mudanças e que não se restringem somente aos personagens em volta do dono da loja de sapatos. Temos o caso simbólico do homem querendo saber o paradeiro do seu amigo mágico e nos dando a entender que ambos tiveram um caso no passado. Se na primeira apresentação do personagem isso fica nas entrelinhas, a segunda apresentação a situação fica ainda mais explícita, principalmente quando o personagem age com extrema violência.
Portanto, em um único filme, François Truffaut fala sobre as mudanças de costumes da sociedade francesa, ou nos dando a entender que esses costumes sempre estiveram lá, só que nunca haviam se destacado no cinema francês até ali. A infidelidade, por exemplo, é algo que Antoine acaba se envolvendo com relação a esposa do dono da loja de sapatos. Mas, curiosamente, ainda há no personagem uma fagulha desse conservadorismo francês que tenta domá-lo, porém, logo é pulverizado.

Em um epílogo simbólico, onde Antoine finalmente decide abraçar a sua paixão por Christine, vemos o conservadorismo francês sendo representado na forma de um detetive e declarando o seu amor por Christine. Após isso, o casal o ignora o tratando como louco, nos dando a entender que aquela forma de amor vinda daquele personagem já não tinha mais espaço para essa geração paz e amor que se encontra sempre em movimento. Christine, logicamente, sofreria as consequências por abraçar a sua paixão por Antoine posteriormente, mas o que não seria muito diferente de inúmeros jovens casais que se dão conta que os contos de fadas somente se encontram nos livros de histórias fictícias.
"Beijos Proibidos" é uma espécie de representação dos ventos da mudança que aconteceriam em “Maio de 68”, onde uma juventude se encontrava em movimento constante e disposta em abraçar em  total plenitude. 

NOTA: Nova live de Tânia Cardoso sobre "Beijos Proibidos" nesta terça-feira. Confira abaixo: 


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