Christopher Nolan trouxe de volta a discussão sobre um dos maiores crimes contra a humanidade que foram as bombas contra as cidades de Hiroshima e Nagasaki através do filme "Oppenheimer" (2023). Porém, o longa explora a construção da bomba, além da vida do seu criador e do qual o mesmo reconhece que se tornou o senhor da morte uma vez que a sua realização se concretizou. Porém, ao longo das décadas, o governo norte americano sempre buscou censurar certas obras que retratavam o que realmente havia acontecido em solo japonês.
Mas, independentemente de qual lado da história esteja correto, é preciso reconhecer que a guerra é uma droga, da qual somente faz vítimas de ambos os lados do conflito e quem sofre mais são as crianças que mal sabiam o verdadeiro significado da palavra dor. "O Túmulo dos Vagalumes" (1988), por exemplo, mostrava a luta pela sobrevivência de dois irmãos que buscam todos os meios para se alimentarem após o encerramento do conflito. Porém, "Gen De Pés -Descalços" (1983) talvez seja a obra mais próxima de uma reconstituição exata sobre as consequências da bomba e que mudaria o percurso da história e de milhares de pessoas.
Dirigido por Mori Masaki, no longa acompanhamos a história de Gen e sua família, que vivem em Hiroshima durante a Segunda Guerra Mundial. Porém, a cidade é bombardeada por uma bomba atômica, fazendo com que Gen perca o seu pai e dois irmãos e tendo que se virar sozinho para cuidar de sua mãe que está grávida. A história é baseada no mangá autobiográfico Hadashi no Gen, um sobrevivente do ataque atômico a Hiroshima.
O primeiro ato é construído de uma forma para que simpatizamos com Gen e a sua família perante o clima em que o Japão se encontra em uma guerra já muito tempo perdida. O longa explora através das palavras do pai que a insistência do governo em continuar esse conflito somente iria piorar a situação do povo, principalmente sendo orquestrado por políticos ambiciosos. Um discurso que não somente fala sobre aquele período, como demonstra que não é de hoje que a humanidade ainda é inconsequente consigo mesmo.
Embora com traços simples, Mori Masaki surpreende ao construir um cenário cheio de detalhes, principalmente na reconstituição do que foi Hiroshima antes do ataque. Porém, uma vez que a bomba cai na cidade, é então que a animação dá um passo à frente em termos de detalhes, por vezes explícitos e reconstruindo de forma fiel o inferno que surgiu em solo. Até hoje, talvez, uma das melhores e mais terríveis reconstituições do efeito da bomba contra as pessoas e cujo que veio a seguir não deve nada a um filme de horror.
Após isso, vemos Gen tendo que amadurecer precocemente em sua vida, ao encarar a perda de boa parte de sua família e tendo que usar todas as suas forças para proteger a sua mãe e o bebê que irá nascer em meio ao inferno na terra. Tanto o longa como o manga são baseados nos próprios relatos do autor e, portanto, o que vemos é algo realmente verossímil e que jamais seria adaptado de forma fiel em outros países, principalmente nos EUA. Algumas cenas dificilmente sairão tão cedo de nossas memórias, pois nos afeta de forma rápida e fazendo a gente torcer para que o personagem central não perca a esperança.
Palavra essa que é muito bem representada no que é dito pelo pai, ou então quando surgem as primeiras flores verdes no terreno antes atingido pelos incêndios. Acima de tudo, por mais horrível que possa parecer em um primeiro momento, é um filme que nos passa a mensagem de esperança mesmo perante as piores adversidades, pois uma vez ainda estando vivo é a oportunidade de seguirmos em frente e continuarmos existindo. "Gen - De Pés Descalços" é o melhor longa que sintetiza o horror lançado contra Hiroshima, mas que ao final nos dá certa esperança e principalmente vinda através da inocência das crianças.
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Um comentário:
Gostei do que você publicou. Gen passa uma inocência maior do que Túmulo pela própria proposta. E é mais "feliz" em seu encerramento, mesmo em um tema tão terrível quanto é Crimes de Guerra.
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