Sinopse: O documentário musical parte da turnê de despedida de Milton Nascimento, um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos, para entender a complexidade simples de sua obra, e o quanto os mistérios que ele carrega nos fazem refletir sobre a alma brasileira.
Quando se ouve uma música de Milton Nascimento é o mesmo que ouvir o melhor de nossa cultura brasileira e ao mesmo tempo sintetizando tempos mais dourados. Em uma época em que essa nova geração está cada vez mais se afogando ao ouvir músicas “sertanejas universitárias” é sempre bom constarmos que sempre haverá um fio de esperança enquanto houver um jovem se interessar por uma boa música vindo uma época que se fazia mais poesia com elas. “Milton Bituca Nascimento” (2025) não é somente um documentário sobre a última turnê do artista, como também uma carta de amor sobre o verdadeiro significado da boa música.
Dirigido pela Flavia Moraes, no documentário acompanhamos a turnê de despedida de Milton Nascimento. Filmado ao longo de dois anos, o longa registra os últimos shows de "Bituca", como é conhecido pelos íntimos, e captura a profunda conexão entre o artista e seus fãs. A obra vai além dos palcos, apresentando cenas de bastidores e depoimentos de grandes artistas nacionais e internacionais.
É notório durante o documentário que Flavia Mores seja uma grande fã do cantor, pois somente assim para explicar a maneira como ela conduz as passagens em que outros artistas falam sobre Milton. Em alguns momentos, por exemplo, soa um tanto pretensioso, como se a voz de Milton representasse todo o lado criativo da cultura brasileira. Se por um lado pode parecer forçado, do outro, talvez não esteja muito longe da verdade.
Se destacando desde jovem, Milton Nascimento começou a chamar atenção em uma época em que o Brasil estava em metamorfose, onde a frágil democracia estava dando lugar ao método ditatorial e fazendo com que diversos artistas falassem sobre tempos de maior repressão, mesmo quando havia um sério risco de serem presos ou até mesmo apagados da história. O risco valeu a pena, já que se olharmos para trás essas músicas ressoando atualmente se encontram mais atuais do que nunca.
No caso de Milton Nascimento ele chamou atenção através do grupo de cantores “O Clube da Esquina” e do qual marcaria uma geração inteira. Com relação aos outros cantores, por exemplo, é sempre interessante observar um grande artista tratar o outro com total respeito e serenidade perante um talento distinto e que fala por si. Bom exemplo disso é a cena em que Chico Buarque observa Nascimento em um vídeo e do qual sintetiza todo o respeito pelo seu companheiro.
Curiosamente, o documentário transita entre as cenas de sua última turnê com as viagens que ele fez ao redor do mundo. Neste último caso podemos identificar resquícios de sua obra espalhados pelo mundo e sendo uma forma interessante de analisar como outros talentos de fora enxergam a nossa música brasileira. É uma pena, portanto, constatarmos que o nosso melhor ainda se encontra em tempos mais dourados enquanto atualmente afundamos com pessoas que se dizem talentosas e que somente querem obter lucro na área.
O filme também não esconde o lado frágil atual de Milton Nascimento, mas gerando um verdadeiro contraste quando comparamos com a forma que os fãs e os demais artistas falam sobre ele. É o típico caso de grande talento cujo corpo não é forte o suficiente para conte-lo, pois querendo ou não ele não deixa de também de ser um ser humano. Em contrapartida, a sua força se encontra através da história em que construiu e da energia de diversas gerações que ainda prezam pela sua boa música.
“Milton Bituca Nascimento” é uma declaração de amor para um dos maiores talentos da nossa música brasileira e moldada com muita emoção, luz e cores.
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