#cinema
Sinopse: Uma mulher de meia-idade chamada Iris mergulha em dificuldades financeiras. Sem rumo em Seul, passa a ensinar francês para duas mulheres sul coreanas.
Eu conheci Hong Sang-soo a partir do seu filme "A Visitante Francesa" (2012) em uma sessão qualquer da Cinemateca Capitólio, mas sendo o suficiente para ir atrás e conhecer mais sobre o cineasta. É fácil se apaixonar pela forma como ele dirige os seus filmes, já que eles transitam pelo naturalismo, onde vemos os seus protagonistas jogando conversa fora, mas sendo o suficiente para obter a nossa atenção no decorrer da trama. Em "As Aventuras de Uma Francesa na Coreia" (2024) o realizador retorna à parceria com a atriz Isabelle Huppert e logo se percebe que ela não é uma espécie de musa, mas sim o alter ego do próprio cineasta.
Na trama, acompanhamos uma mulher (Isabelle Huppert) chamada Iris que passa a ensinar francês para duas mulheres sul coreanas. No decorrer do tempo vemos ela acompanhar os habitantes de lá enquanto ela fica conhecendo locais onde desperta a sua curiosidade, mas ao mesmo tempo ficamos sabendo pouco sobre a sua própria vida. Em um determinado momento conhecemos alguém próximo a ela, mas revelando algo ainda mais peculiar na medida em que a trama avança.
No decorrer dos anos eu acompanhei de perto a obra de Hong Sang-soo, mesmo que alguns títulos ainda não tenham chegado ao Brasil, já que ele é um realizador que consegue fazer três ou até quatro filmes em um ano. O segredo desse feito está no fato que os seus longas são os mais simples possíveis, onde há iluminação e cenários naturais onde se passa a trama, mas sendo embalada com diálogos entre os protagonistas em meio a um café, cerveja e cigarros. Isso é destacado desde "Certo Agora, Errado Antes" (2015), filme que lhe deu maior projeção internacional, mas onde se destaca também o ingrediente da narrativa não linear e que aqui não é acentuado, mas sim utilizado em um determinado momento específico.
Basicamente somos jogados em meio a essa situação da protagonista ser, aparentemente, uma professora de língua francesa, mas que aos poucos vai revelando características peculiares, mas não muito diferentes dos seus parceiros em cena. Basicamente vemos os personagens extraírem para fora o seu ser interior em diálogos que até mesmo poderiam gerar certo atrito, mas que logo é contornado por outro assunto que surge do nada, mas que acaba se tornando bem-vindo para que as coisas continuem fluindo. Nós acabamos nos alimentando dessa naturalidade, principalmente em tempos em que estamos com a vista tão cansada do cinema norte americano e Hong Sang-soo nos dá esse colírio que é muito bem-vindo.
Isabelle Huppert, por sua vez, seria uma espécie de alter ego do cineasta, já que a sua personagem não se preocupa em dar explicações sobre si ou sobre qual o próximo rumo que irá dar, mas apenas prosseguindo em seguir em frente e desfrutar do ambiente onde ela está. Portanto, tanto o cineasta como a protagonista nos direcionam por momentos em que somente desfrutamos das cenas, onde o verde cheio de vida que aparece em diversos momentos, talvez simbolize uma energia que os personagens busquem no decorrer da trama, mas que não desfrutam de forma correta em meio a correria do dia a dia. A francesa, porém, se encontra ali aproveitando cada momento, sem se preocupar com o amanhã ou dar meras explicações sobre o seu real ser.
O ato final talvez frustre aqueles que esperam por alguma resposta, principalmente quando surge um personagem em cena que é próximo a protagonista, mas que também sabe pouco sobre ela. A meu ver esse personagem seria na realidade uma representação de nós em cena, que ficamos encantados pelo mistério em torno da personagem francesa, mas tendo somente o interesse de acompanhá-la para ver até onde ela irá em seguida. Infelizmente quando queremos mais Hong Sang-soo termina de forma brusca essa jornada e fazendo com que a história continue em nossas cabeças por longas horas.
Vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Berlim de 2024, "As Aventuras de Uma Francesa na Coreia" é tudo que a gente espera de uma obra de Hong Sang-soo, sendo um olhar do mundo de acordo com a sua perspectiva e embarcamos para ver até onde isso chega.
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