Nota: Filme estreia dia 08 de Maio.
Sinopse: O encontro de duas mulheres que inauguraram a psicanálise no Brasil, Virgínia e Adelaide.
A psicanálise criada por Sigmund Freud foi uma forma de extrair os problemas mais obscuros escondidos na mente humana e fazendo com que isso ajudasse inúmeras vidas. Infelizmente não foi fácil esse método se tornar popular, pois obstáculos que vão desde a ignorância, preconceito e a palavra da igreja que vinha quase sempre em primeiro plano. "Virgínia e Adelaide" (2025) não somente retrata uma parte da história das primeiras mulheres do Brasil que fundaram a psicanálise no país, como também explora os percalços que ambas enfrentaram ao longo desse percurso.
Dirigido pela estreante Yasmin Thayná e pelo veterano Jorge Furtado, O filme retrata a vida e a obra de Virgínia Leone Bicudo (Gabriela Correa), uma socióloga e psicanalista negra brasileira, e Adelaide Koch (Sophie Charlotte), uma médica e psicanalista autodidata, judia alemã e branca. As duas se encontraram em 1937, um ano após a chegada de Adelaide ao Brasil, ao fugir da perseguição nazista, acompanhada pelo marido e suas duas filhas. Juntas, elas foram pioneiras na divulgação da psicanálise no país, enfrentando barreiras e preconceitos.
Embora sejam países diferentes um do outro, o Brasil e Alemanha tiveram algo em comum no decorrer dos séculos, que vai desde ao preconceito contra os negros como também a simpatizarão pelo partido nazista. No documentário "Menino 23" (2016), por exemplo, era revelado uma investigação do historiador Sidney Aguilar referente a tijolos com suástica nazista numa fazenda do interior de São Paulo. Ao chegar lá, ele descobre que nos anos 30, 50 meninos negros e mulatos foram usados como escravos pelo dono da propriedade, que era simpatizante do nazismo.
Esse documentário logo me veio à mente ao assistir ao filme "Virgínia e Adelaide", pois vemos duas protagonistas fugindo de algo em comum, sendo que uma foge do preconceito desde pequena por ser negra enquanto a outra fugiu do seu próprio país por ser judia. Ao se encontrarem em cena elas acabam se ajudando uma outra mesmo de forma indireta no princípio, mas logo que as sessões de terapia começam, isso se torna uma espécie de livro aberto para que ambas pudessem revelar os seus temores e dons que se poderia colocar em prática perante os males do mundo. Tanto Gabriela Correa como Sophie Charlotte estão ótimas em cena, sendo que a última de nada lembra a sua última atuação no cinema que foi como a cantora Gal Costa no filme "Meu Nome é Gal" (2023) e provando a sua versatilidade nos papéis que alcança.
Curiosamente nos perguntamos no decorrer da projeção até onde começa e até onde termina os trabalhos de direção de Yasmin Thayná e Jorge Furtado, mas o cinéfilo de olhar mais apurado identifica logo de imediato. Furtado, por exemplo, sempre construiu uma carreira realizando obras, tanto da ficção, como também documentários e por conta disso, as cenas em que vemos as protagonistas narrando as suas trajetórias e surgindo na tela fotos verdadeiras de suas jornadas é a própria genialidade de Furtado conduzindo as cenas, sendo algo que me fez relembrar um dos seus melhores documentários que foi "O Mercado de Notícias" (2014). Já Yasmin Thayná eu acredito que o seu trabalho se voltou mais na direção das duas atrizes, sendo que ambas transmitem segurança e entrega total em cena, mas cujo esse feito, acredito eu, foi obtido pela participação da cineasta que soube extrair o melhor das intérpretes.
O filme por si só, não é somente uma homenagem sobre essas duas mulheres pioneiras no ramo da psicanálise, como também um exemplo de força e determinação de pessoas que encararam de frente o lado mais obscuro do ser humano, mas que não se intimidaram perante o perigo inevitável. O que talvez faltasse para elas seguirem em frente foi a partir do encontro de ambas e que fizeram com que elas se complementam e obtivessem mais coragem de realizar os seus sonhos e deixarem o medo do preconceito e da perseguição de lado. Uma história para não ser esquecida, mesmo quando ainda existem aqueles que querem escondê-la.
"Virgínia e Adelaide" é sobre o encontro de duas grandes mulheres com personalidades distintas, mas que tinham mais em comum do que se imaginava.
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