Sinopse: Em 1985, o comerciante de carvão Bill Furlong descobre segredos perturbadores em uma pequena cidade irlandesa controlada pela Igreja Católica Romana.
Cillian Murphy é um dos melhores intérpretes de sua geração, sendo que ele prova isso desde que eu o conheci no filme de terror "Extermínio" (2002). De lá pra cá foi colecionando diversos papéis que o marcaram na carreira, tanto em sua atuação impecável na série "Peaky Blinders", como também em "Oppenheimer" (2023) que lhe valeu o seu primeiro Oscar. Após se aventurar na premiada produção de Christopher Nolan, eis que o intérprete se entrega em um pequeno, porém, grande filme como "Pequenas Coisas Como Estas" (2024) onde ele carrega toda a produção nas costas.
Dirigido por Tim Mielants, além de ser produzido por Matt Damon, Ben Afleck e próprio Cillian Murphy, o filme conta a história verídica de Bill Furlong (Cillian Murphy), um vendedor de carvão em uma pequena cidade irlandesa dominada pela influência da Igreja Católica. Bill faz uma descoberta chocante ao encontrar uma mulher aprisionada em um galpão de carvão, vítima de punições impostas pelas Lavanderias Madalena, onde a Igreja mantinha aquelas que eram consideradas "fora do padrão". Este encontro provoca um conflito interno profundo em Bill, que se vê dividido e fazendo voltar ao passado através de memórias que nunca cicatrizaram.
O cineasta Tim Mielants constrói uma ambientação tudo através do olhar do protagonista, onde conhecemos aquele mundo verossímil através, tanto do que ele testemunha em seu dia a dia, como também dos flashbacks que invadem a todo momento a tela. Em um primeiro momento nós não sabemos o que se passa com Bill, sendo que ele nos transmite um peso interno do qual raramente ele irá compartilhá-lo na tela, pois a sua dor vinda no passado não se extingue através de palavras, mas talvez nas ações que ele possa colocar em prática. Por conta disso, vemos Bill tentar ajudar o próximo, mesmo quando o olhar mais conservador o reprova por conta disso.
Neste último caso, por exemplo, isso é muito bem representado pelas freiras do estabelecimento que acolhe meninas deixadas pelos pais, mas que acabam sendo escravas perante a palavra Deus imposta de forma retrógrada pelas mesmas. Emily Watson nos transmite veneno através de sua magnética atuação como a Madre Superiora da Lavanderias Madalena e usa a persuasão para manipular, tanto a população local, como também o protagonista. Porém, o choque entre o passado e o presente faz com que Bill se torne uma oposição indireta com relação àquele cenário, mesmo quando cordas invisíveis o impeça de ajudar aqueles que precisam.
O filme, portanto, explora o verdadeiro significado da palavra Samaritano, do qual não se encontra exatamente dentro da igreja, mas sim naqueles que possuem a mente aberta e que deseja fazer a diferença para as demais pessoas. Bill aprendeu desde cedo, e da pior maneira possível, sobre o quanto a vida é frágil e da qual pode ser estilhaçada mesmo com todos os recursos em volta. Curiosamente, as respostas sobre construção de sua pessoa demoram para serem mostradas, mas uma vez reveladas se tem um verdadeiro impacto vindo das mesmas.
Resumindo, o filme é uma bela união entre uma visão autoral de um cineasta e seu intérprete que se entrega de corpo e alma para a construção do seu personagem. Pode-se dizer que em ambos os casos a situação flui de forma quase perfeita, como se Murphy soubesse exatamente o que expressar através do seu olhar, enquanto Tim Mielants constrói uma ambientação que é de acordo com os pensamentos e peso que o personagem sente naquele momento. Talvez a melhor cena que sintetize isso é quando vemos o protagonista se sentar perante a janela e qual a mesma se torna uma fenda para adentrarmos a sua mente complexa.
"Pequenas Coisas Como Estas" é um ótimo filme dramático estrelado por Cillian Murphy, além de ser um belo exemplo de atuação alinhado com que há de melhor no cinema autoral.
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