Sinopse: Um infeliz pai de família vê sua vida virada de cabeça para baixo quando milhões de estranhos de repente começam a vê-lo em seus sonhos.
Nicolas Cage é um sobrevivente em uma Hollywood atual obcecada por franquias e fazendo com que grandes talentos como ele sejam relegados aos filmes de baixo orçamento e obtendo só a chance de pagar as suas contas na medida do possível. De inúmeros filmes que foram direto para locadoras, ou streaming ao longo dos anos, ao menos ele sempre surge com um ou outro título que prove que o seu talento ainda continua intacto. É no caso desse "O Homem dos Sonhos" (2023), onde o intérprete atua em uma trama que fala sobre celebridades instantâneas, redes sociais, cancelamentos e sobre o próprio futuro nebuloso do ser humano.
Dirigido por Kristoffer Borgli, o filme conta sobre a vida de Paul Matthews, pai de família comum que vive uma vida rotineira ao lado da esposa (Julianne Nicholson) e de suas duas filhas. Porém, certo dia diversas pessoas começam a sonhar com ele e fazendo dele uma celebridade improvável. Contudo, os sonhos começam a se tornar cada vez mais frequentes e fazendo da figura de Paul até mesmo perigosa e colocando a sua vida de cabeça para baixo de forma rápida.
O filme em si seria um prato cheio para o psicólogo Leonardo Della Pasca, que foi ministrante sobre "Cinema e Sonhos" tempos atrás pelo Cine Um em Porto Alegre e do qual participei ao menos umas duas vezes. Porém, o filme não se limita somente com relação ao simbolismo das cenas em que os personagens estão sonhando com o protagonista, mas sim vai muito além dessa principal proposta. Ao ser visto nos sonhos por diversas pessoas, Paul começa a ser mundialmente conhecido, ao ponto de as pessoas fazerem de tudo para conhecê-lo e até mesmo ganharem algum dinheiro com isso. Portanto, o filme é uma crítica acida de pessoas que se tornam famosas da noite para o dia, mas sendo facilmente engolidas pelas grandes empresas da mídia e das redes sociais.
É claro que num primeiro momento Paul começa a se interessar em ser agora conhecido, principalmente pela chance de realizar alguns dos seus sonhos como lançar um livro. Porém, na medida em que cada vez mais adentra ao sistema cheio de regras, logo ele percebe que não é exatamente isso como ele queria. Ao mesmo tempo, essa situação o revela sendo alguém com defeitos, mas extremamente humano e não sabendo lidar com tudo isso.
É notório que o filme fale muito do próprio Nicolas Cage, que de grande astro do cinema dos anos noventa, passou a ser alguém decadente e atuando em cada vez mais em filmes dispensáveis. Porém, é alguém que nunca parou de trabalhar, tendo que lidar com todos os tipos de altos e baixos do estrelismo e tendo que conviver até mesmo com os cancelamentos virtuais. Portanto, o intérprete está mais do que a vontade atuando basicamente como ele mesmo, ao colocar para fora as suas dores emocionais que acumulou ao longo dos anos e construindo para si um personagem que enfrenta diversos dilemas deste nosso novo mundo.
Curiosamente, o filme ganha até mesmo ares de "Black Mirror", principalmente em seu ato final onde revela que sempre haverá alguém em querer se beneficiar com uma nova ideia de acordo com a situação e fazendo das pessoas unicamente peças controladas por algo extremamente maior. Em tempos em que todos desejam ser conhecidos por tudo e todos, o filme, por mais incrível que pareça, não foge muito da realidade. O que era ficção, portanto, se torna perigosamente cada vez mais real para dizer o mínimo.
"O Homem dos Sonhos" é um filme de humor sombrio, perturbador e que fala sobre as nossas obsessões cada vez mais loucas em sermos conhecidos nesta rede de informação interminável.
Onde Assistir: Amazon Prime Vídeo e Apple TV.
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