Sinopse: Apaixonado por arqueologia, o inglês Arthur radicou-se na Toscana. Neste território repleto de tumbas etruscas, ele acaba fazendo seu ganha-pão do saque de antiguidades que encontra nelas.
O tempo destrói tudo e cabe mantermos os fragmentos para que a história seja contada. Porém, é interessante observar que a própria história pode servir de lucros para alguns, pois estes não conseguem manter a sua própria história que se vai aos poucos ao vento. "La Chimera" (2023) fala sobre o indivíduo comum se aventurando por relíquias antigas, mas tendo que encarar de frente as suas consequências.
Dirigido pela cineasta italiana Alice Rohrwacher, a trama se passa na zona rural da Toscana da década de 1980, O protagonista Arthur (Josh O’Connor) é um jovem arqueólogo que uni forças com um grupo de ladrões para escavar e obter relíquias antigas para obterem algum lucro. Mas é através dessa atividade que Arthur busca pela sua amada desaparecida, nem que para isso tenha que atravessar até mesmo crenças da mitologia grega.
Alice Rohrwacher parece buscar inspiração na realização do seu filme, já que a obra se inicia com o rosto da amada do protagonista olhando para a câmera, como se quase quebrasse a quarta parede, para logo em seguida entendermos que o protagonista está sonhando com ela. Essa passagem me lembrou alguns dos melhores momentos do clássico francês "O Demônio das Onze Horas" (1965), do mestre Jean-Luc Godard e cujo mesmo fazia uma trama que nos conduzisse a um cenário, por vezes, surreal para dizer o mínimo. É o mesmo que acontece com Arthur, principalmente na abertura do filme, onde ele acorda dentro do trem e nos dando a impressão de que ele não está realmente acordado no mundo real.
O mundo real, por sua vez, é um tanto sujo e retorcido do qual ele convive, principalmente na pequena casa que ele ergueu e para assim colecionar as antiguidades que ele vai encontrando no meio do percurso. Arthur se vê totalmente deslocado naquele ambiente, mesmo quando existe pessoas que buscam alinhá-lo ao mundo em que vive. Se por um lado há os antigos colegas que buscam um meio de levá-lo novamente a escavar tumbas, do outro, a jovem Itália se torna uma espécie de razão indireta para que Arthur busque um caminho mais coerente para trilhar e quem sabe encontrar o amor que tanto procura.
Alice Rohrwacher busca retratar uma Itália rica, festiva e colorida dos anos oitenta, mesmo quando as adversidades se encontram latentes em cena. Arthur por sua vez age como observador dessa realidade, como se ela não fosse exatamente coerente e somente buscando algum sentido no momento que busca algo precioso. Em meio a esse percurso é curioso quando ele e seus demais colegas encontram uma estátua valiosa, mas revelando o lado ambicioso daqueles que veem nisso somente algo para gerar lucro. Em contrapartida há uma sensação mórbida, de que há algo que jamais poderia ser violado e fazendo com que Arthur perca ainda mais o seu rumo.
Josh O'Connor constroi para o seu personagem alguém que nos transmite uma certa inocência perante o mundo em que vive, mas não escondendo certa ambição pelo desejo em alcançar o que realmente quer. Já a nossa Carol Duarte se sai bem como uma espécie de equilíbrio emocional para Arthur e não somente um possível novo relacionamento, já que ele se encontra em uma cruzada que pode-lo levá-lo até mesmo em um cenário desconhecido. Esse por si só já nos deixa com mais perguntas do que respostas.
O ato final é cheio de simbolismo, desde para aqueles que nutrem de certas crenças, como também para aqueles que apreciam diversas teorias cinematográficas. A meu ver, Alice Rohrwacher busca uma forma de nós mesmos tirarmos as nossas próprias conclusões, muito embora haverá pessoas que não estejam muito dispostas para isso, mas sim que a conclusão fosse mais bem explicada. Ao menos o filme nos guia para esse desafio e para alguns cinéfilos como eu aceitam de bom grado.
"La chimera' nos conduz a uma odisseia improvável de um protagonista que busca por algo precioso, mas não sendo exatamente o que nós imaginamos.
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