Ray Harryhausen foi o mago nos efeitos visuais do cinema e numa época que não havia CGI, mas sim a criatividade que fazia a magia. Com o recurso do stop Motion Ray criou criaturas inesquecíveis e que até hoje impressionam pelos seus mínimos detalhes. Acima de tudo, era algo que nos passava a sensação de até mesmo peso e sendo algo que os efeitos visuais de ponta hoje em dia andam perdendo.
Talvez a sua fase áurea tenha sido os anos cinquenta, onde o realizador foi convidado para criar os efeitos visuais de "A Invasão dos Discos Voadores" (1956), "A 20 Milhões de Léguas da Terra" (1957) e "O Monstro do Mar Revolto" (1955). Foi uma época que os estúdios norte-americanos animavam o público com monstros alienígenas, seres radioativos e dos quais sintetizavam o medo de uma guerra nuclear da época. Já na entrada dos anos sessenta Ray Harryhausen se aventurou mais pelos filmes de aventura de capa e espada e nos lançando o ainda surpreendente "Jasão e os Argonautas" (1963).
Na trama, Jasão (Todd Armstrong) retorna ao reino da Tessália para recuperar o seu trono, roubados anos antes pelo usurpador Pelias (Douglas Wilmer), que assassinou o pai do protagonista e tomou a coroa. Percebendo que para reconquistar a Tessália não bastaria apenas derrubar Pelias, mas obter uma prova de que os deuses estão do seu lado, Jasão resolve buscar o lendário velocino de ouro, localizado do outro lado do mundo, reunindo os guerreiros e marujos mais corajosos da Grécia para acompanhá-lo na jornada. Observado atentamente por sua protetora, a deusa Hera (Honor Blackman), Jasão lança-se em uma perigosa jornada onde diversos perigos o aguardam.
Dirigido por Don Chaffey, e escrito pela dupla Beverley Cross e Jan Read o filme é uma deliciosa aventura que explora os mitos da mitologia grega e dos quais retratam os Deuses como observadores, mas ao mesmo tempo usando os seres humanos como peças de um grande tabuleiro. Por conta disso, a maioria dos personagens humanos agem de acordo com relação ao que eles esperam vindo dos Deuses do Olimpo, mas tendo que tomarem por conta própria difíceis escolhas a serem travadas. Jasão, portanto, vai muito além dos seus objetivos e avança contra os obstáculos mesmo não obtendo ajuda dos grandes seres.
Quando eles intervêm é aí que os efeitos visuais de Ray Harryhausen cria um verdadeiro espetáculo com as suas mãos, principalmente na cena em que o Deus Poseidon ajuda os heróis na passagem das Rochas Estrondosas. Porém, o filme é lembrado até hoje pela extraordinária cena clímax, onde Jasão e seus aliados enfrentam um batalhão de esqueletos. Vale ressaltar que a perfeição dessa cena serviu de inspiração para Steven Spielberg realizar os primeiros efeitos especiais pensados para o seu clássico "Jurassic Park" (1993), mas logo sendo descartado, pois o CGI estava já sendo uma novidade para aqueles tempos.
Do elenco se destaca Honor Blackman e Niall Macginnis roubam todas as cenas de que participam como Hera e Zeus. Os dois atores transmitem uma excelente química como deuses, cuja relação pende ora para a rivalidade, ora para o companheirismo. Patrick Troughton em sua pequena participação como o vidente cego Phineas também merece elogios, ao entregar uma figura ao mesmo tempo trágica e divertida. Vale destacar o ótimo trabalho do compositor Bernard Hermann, que aqui a sua melodia nos transmite o teor épico que o filme nos passa como um todo.
"Jasão e os Argonautas" é aquele típico filme clássico que passava antigamente aos sábados à tarde no SBT, ou em tempos em que a Sessão da Tarde ainda passava filmes de qualidade. Revendo é de se surpreender como o filme envelheceu muito bem, já que a sua ambição nunca foi de mudar o mundo, mas sim nos passa uma longa de quase duas horas com puro divertimento. Gênios como Ray Harryhausen fazem e muita falta em tempos atuais em que o CGI não convence mais ninguém.
"Jasão e os Argonautas" é pertencente aos tempos da era de ouro dos filmes de aventura épica de capa e espada e não devendo nada aos filmes de hoje que são degustados, mas logo esquecidos.
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