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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Cine Dica: Em Cartaz - 'Zona de Interesse'

Sinopse: Uma família de um oficial vive tranquila em sua casa com um imenso pátio. O paraíso, porém, não abafa o fato que o local se encontra justamente ao lado do campo de concentração de Auschwitz.  

Nos últimos trinta anos o cinema nos proporcionou experiências emocionais ao testemunharmos tramas que nos levava aos tempos da Segunda Guerra Mundial e onde os nazistas estavam dispostos em riscar os judeus da face da terra. De todos, um dos mais angustiantes foi para mim "O Menino de Pijama Listrado" (2008), cuja fantasia e os sonhos de um menino alemão dão de encontro com a realidade nua e crua do campo de concentração através de um menino judeu. "Zona de Interesse" (2023) possui uma proposta familiar, mas cujo horror do extermínio é banalizado e fazendo com que os personagens fiquem agindo como se nada estivesse acontecendo.

Dirigido por Jonathan Glazer, do genial "Sob a Pele" (2014), o filme é uma adaptação de um livro escrito por Martin Amis. Na trama, Rudolf Höss (Christian Friedel) é um comandante de Auschwitz, e sua esposa Hedwig (Sandra Hüller) vivem uma vida aparentemente simples e cujo pátio parece a entrada para o paraíso. Porém, tudo não passa de uma verdadeira cortina de fumaça, pois ao lado do muro se encontra justamente o campo de concentração de Auschwitz e do qual foi cenário de inúmeras mortes de judeus. No decorrer do filme, as atrocidades nunca vemos, mas sentimos que algo terrível está acontecendo.

Se filmes como "A Lista de Schindler" (1993) e "O Pianista" (2002) era mostrado o lado explicito do genocídio cometido pelos nazistas, aqui a situação é inversa, já que em nenhum momento testemunhamos as mortes praticadas por eles, mas elas estão lá e sentimos a cada minuto de projeção. Isso é obtido graças ao design de som realizado por Johnnie Burn, onde ele cria inúmeros efeitos sonoros dos quais ouvimos e fazendo a gente ter a consciência sobre o que realmente está acontecendo do outro lado do muro. Atenção para abertura e o encerramento da trama, onde o som transitando com a trilha sonora nos cria uma sensação bastante peculiar e arrasadora.

Outro fator de destaque e que merece ser mencionado é as diversas situações que acontecem ao fundo da cena do cenário principal da trama. Em um determinado momento, por exemplo, se nota um trem chegando através apenas de sua fumaça, ou da mesma sendo vista saída de uma chaminé e fazendo a gente se dar conta com relação ao que está realmente queimando. Um artificio foi muito bem usado no ótimo "Roma" (2018) e que nos dava uma noção maior sobre os eventos principais da trama.

Jonathan Glazer procura nos passar a mentalidade daquela sociedade alemã daquela época, sendo que a própria passou por uma verdadeira lavagem cerebral através da propaganda nazista e fazendo das mortes dos judeus algo banal e do qual deveria ser menosprezada. A melhor personagem que sintetiza muito bem essa minha observação é a personagem Hedwig, esposa do comandante e que revela a sua real pessoa no momento em que descobre que existe a possibilidade de perder a sua casa e conforto vindo dela. Enquanto a própria se preocupa com o seu bem-estar as mortes que são ouvidas cada vez ficam mais intensas, mas não despertando nenhuma compaixão vindo dela e é graças a ótima interpretação assombrosa de Sandra Hüller que testemunhamos uma personagem verdadeiramente fria e calculista.

Além dela, os demais personagens vistos na tela vão se revelando perante as atrocidades do outro lado do muro, sendo que cada um age de uma forma diferente, mas jamais mencionando sobre o que realmente acontece. Ao final, tudo é questão de obter poder, status e não se importando com as consequências e sobre o que a história irá julgar e dizer futuramente. Neste último caso, por exemplo, essa resposta vem nos minutos finais da trama e fazendo dela ainda mais pesada e reflexiva do que se imagina.

Indicado a cinco Oscars, incluindo Melhor Filme, "Zona de Interesse" é um retrato incomum sobre os horrores praticados no campo de concentração de Auschwitz, sendo visto pela perspectiva nazista e fazendo da experiência muito mais sombria.         


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