'Godzilla' (2014)
Sinopse: Um épico renascimento para o icônico Godzilla da Toho coloca o monstro mais famoso do mundo contra criaturas que sustentadas pela arrogância científica da humanidade ameaçam nossa própria existência.
Quando foi anunciado que “Godzilla” teria uma versão americana em 1998, muitos fãs esperavam com ansiedade ver o maior monstro do Japão sendo apresentado para uma nova geração e com efeitos especiais caprichados. Mas a produção de Roland Emmerich, do filme “O Dia depois do Amanhã” (2004) foi uma tremenda decepção, principalmente se comparado ao primeiro filme do monstro que foi lançado em 1954 e que atualmente é considerada uma obra prima do cinema japonês. Mas aproveitando o aniversário de 60 anos do monstro, eis que Hollywood decide fazer as pazes com ele e lança uma produção que, não somente respeita o clássico de 1954, como também traz consigo quase as mesmas metáforas que a produção japonesa apresentou há sessenta anos.
Para começar, a produção comandada pelo cineasta Gareth Edwards (Monstros) não tem pressa alguma em mostrar a criatura, mas sim desenvolver o melhor possível o drama dos personagens humanos perante o inexplicável. Para alguns mais fanáticos, essa escolha ao não apresentar o grande protagonista de cara, talvez soe como uma grande decepção. Porém, convenhamos, que nós estejamos falando de uma criatura vinda da própria natureza e que homem em si jamais conseguiria dominá-la.
Portanto, ao ver o personagem Brody (Bryan Cranston) encarando a morte da esposa (Juliette Binoche) em um acidente na usina nuclear em que ambos trabalhavam no Japão, se cria então um elo emocional entre os personagens humanos e o público que assiste. Infelizmente esse elo não se mantém muito forte, no momento em que o filho do casal (Aaron Taylor-Johnson) já crescido entra em cena, pois o intérprete não nos convence muito nem como pai de família e tão pouco como herói em cena. Contudo, o veterano Ken Watanabe, do filme “O Último Samurai” (2003) cumpre com louvor o seu trabalho, ao interpretar um pesquisador e defensor de Godzilla, que acredita que ele possa derrotar os outros monstros e trazer de volta o equilíbrio das coisas.
Sim, há outros monstros, mais precisamente um casal que deseja acasalar e espalhar os seus filhotes pela terra. Curiosamente, ambas as criaturas lembram muito o visual do monstro visto em Cloverfield (2008), sendo que não me surpreenderia se isso fosse uma homenagem a produção de J.J. Abrams, que até então era o melhor filme de monstros ao lado do (claro) sempre mencionado “Círculo de Fogo”(2013).
Falando em homenagens, é surpreendente a forma que Edwards filmou essa produção, fazendo a gente acreditar que a cada momento que ele nos apresenta uma cena, ele está prestando um grande respeito da forma que Steven Spielberg filmava os seus filmes como Tubarão e o Parque dos Dinossauros. Assim como o veterano diretor, Edwards apresenta as criaturas de uma forma gradual, lenta, mas muito bem filmada e criando um verdadeiro clima de suspense na medida certa. O Godzilla em si quando finalmente surge, não só é um dos momentos mais esperados do filme, como também nos faz urrar de felicidade ao vermos que esse sim é o Godzilla visto nos filmes de antigamente no Japão, sendo uma verdadeira entidade da natureza na qual o homem não pode simplesmente deter.
Mas é aí que o filme entra num momento arriscado, pois embora Godzilla seja uma criatura que não pode ser detida, os roteiristas ousaram em transformar ele numa espécie de grande herói a serviço da humanidade ao deter os outros monstros. No filme de 1954, o monstro era uma entidade da natureza, que ao mesmo tempo foi remodelada devido aos testes nucleares durante a guerra fria e resumidamente ele nada mais era do que uma metáfora dos maiores temores dos japoneses daquele tempo. Aqui, a metáfora é mantida, mas ao mesmo tempo Godzilla se torna uma espécie de equilíbrio, que querendo ou não, surge com o objetivo de preservá-lo e fazer com que os protagonistas humanos apenas assistam e torçam por ele.
Seria isso uma forma de tornar a criatura mais acessível para o público atual? Será que o público de hoje simplesmente não aceitaria Godzilla como uma criatura bestial da natureza que não pode ser detida? Será que o politicamente correto chegou até mesmo neste terreno?
Embora tenha torcido o nariz com isso, devo reconhecer que, pelo menos aqui essa situação funcionou, mas numa eventual sequência (o final deixa claro que haverá) duvido muito que esse artifício irá funcionar de novo.
Com começo, meio e fim bem amarrados, “Godzilla”, mesmo com seus sessenta anos de vida, prova que ainda tem fôlego para continuar sendo o rei dos monstros do cinema, mas resta saber se os produtores irão acertar o alvo novamente, criando então uma trama mirabolante, ou simplesmente será mais ou menos o que já foi visto e correndo o risco de ter um prejuízo do tamanho do personagem.
'Kong: A Ilha da Caveira' (2017)
Sinopse: A Ilha da Caveira é o território do rei dos símios King Kong. O lugar é invadido por exploradores, que adentram as profundezas da traiçoeira e primitiva ilha. Não demora muito para eles se depararem com a grandiosidade e a fúria de Kong.
“Círculo de Fogo” (2013) de Guilherme Del Toro inaugurou uma nova leva de filmes de monstros, cujo objetivo de sua criação é na criação de franquias cinematográficas. Embora a versão de 1998 seja um desastre, o recente “Godzilla” (2014) agradou ao público, crítica e elevando as chances para a criação de mais filmes com esses seres gigantescos. “Kong: A Ilha da Caveira” (2017) é o mais novo filme dessa leva e que, devido algumas de suas qualidades, podemos esperar por mais filmes desse gênero.
Dirigido pelo novato Jordan Vogt-Roberts, acompanhamos uma trama, cujos eventos começam durante a Segunda Guerra e se estendem durante a década de 70. Um grupo de soldados convencido por um cientista (John Goodman) vai para uma ilha ainda (aparentemente) não explorada pelo homem. Lá descobre que ela é protegida por um gorila gigante chamado Kong, cuja sua existência é para conter outras criaturas ameaçadoras por lá.
O filme em si não traz nenhuma novidade no gênero de aventura, mas é na forma em que longa é conduzido que ele se diferencia dos outros. Para começar, Jordan Vogt-Roberts presta uma verdadeira homenagem aos filmes de guerra no primeiro ato da trama, principalmente ao clássico “Apocalipse Now” (1979), mas se alguém tem alguma dúvida sobre isso, basta assistir aos primeiros minutos dos soldados dentro da ilha e termos absoluta certeza que o cineasta venera a obra de Francis Ford Coppola. Destaco também o fato de o filme não ser sombrio, mas sim colorido, sintetizando um período mais dourado daquela época, mesmo quando boa parte da trama se passa num lugar remoto.
Já o Kong em si, ele não é muito diferente de suas versões anteriores, mas possui trinta metros de altura e fazendo de sua presença algo que emociona. Embora muitos cinéfilos já estejam acostumados a efeitos visuais mirabolantes, é preciso reconhecer o belo trabalho que fizeram na criação do monstro, do qual não deve em nada se comparado a sua última reencarnação (King Kong de 2005). Porém, sua presença se torna ainda mais ameaçador graças aos movimentos de câmera do cineasta, fazendo da presença da criatura algo animalesca e remetendo até mesmo, por exemplo, as animações japonesas de Dragon Boll Z.
Mas se o clássico macaco gigante é quase impecável, o mesmo não se pode dizer muito dos seus protagonistas humanos, cuja maioria a gente já tem uma ideia de quem vive e quem morre na tela. Se Tom Hiddleston (o Loki da Marvel) cumpre o seu papel como aventureiro bom moço, Brie Larson (O Quarto de Jack) só se encontra presente na trama unicamente para balançar o coração do gorila e remeter à velha fórmula da “Bela e a Fera”. E se Samuel Li Jackson força a barra para ser o vilão nesta trama, John C. Reilly (Chicago) surpreende como ex-soldado perdido na ilha desde a Segunda Guerra Mundial e se tornando o melhor entendedor no assunto sobre o que acontece nela.
Falando sobre a ilha, o ato final surpreende com os inúmeros tipos de seres que surgem na tela, cuja presença delas serve para movimentar a trama, mas nunca fazendo com que se torne uma verdadeira montanha russa de efeitos. Na realidade o filme mais parece como aqueles bons e velhos filmes B de monstros de antigamente, mas tudo moldado com efeitos de ponta e ao mesmo tempo gerando certa nostalgia. É claro que há pontas soltas propositais para haver uma futura sequência, principalmente na possibilidade de Kong se encontrar com Godzilla futuramente.
Divertido e sem exigir muito do cinéfilo que assiste “Kong: A Ilha da Caveira” nada mais é do que um bom entretenimento e que remete os bons filmes de aventura de antigamente.
'Godzilla II: O Rei dos Monstros' (2019)
Sinopse: Os integrantes da agência Monarch precisam lidar com a súbita aparição de vários monstros gigantescos, dentre eles o mítico Godzilla, que a todo instante brigam entre si.
"Godzilla" (2014) foi uma grata surpresa para os fãs do mais famoso monstro do cinema, pois além de respeitar o clássico japonês de 1954, o cineasta Gareth Edwards, do filme "Rogue One - Uma História de Star Wars" (2016), criou a proeza de criar uma trama que em muitos momentos assistimos o embate entre os monstros pela perspectiva dos seres humanos da história. Claro que o resultado promissor fez com que a Warner criasse a sua própria franquia de monstros e "Kong: A Ilha da Caveira" (2017) se tornou uma grande desculpa para se ter a possibilidade futura de ambos os gigantes se digladiarem no cinema. Eis que, então, chega aos cinemas “Godzilla II: Rei dos Monstros”, filme que dá continuidade ao filme anterior, expandindo esse universo monstruoso e com o intuito do estúdio em querer gerar lucro.
Com direção agora do cineasta Michael Dougherty, do filme "Krampus - O Terror do Natal" (2015), a trama se passa cinco anos após os eventos vistos do filme anterior, onde governo norte americano pensa seriamente em uma forma de exterminar o maior número possível de monstros escondidos na terra. Porém, Dr. Ishiro (Ken Watanabe) usa todos os meios para defender a tese que Godzilla é o que dá o equilíbrio da natureza enfrentando os gigantes que surgem na superfície. Ao mesmo tempo, Dra. Emma Russel (Vera Farmiga) trabalha em um projeto que poderá desencadear eventos imprevisíveis para a toda a humanidade.
Assim como foi visto no filme anterior, a trama se concentra nas figuras humanas, mais precisamente sobre a família da Dra. Emma e da qual vive com um trauma desde os eventos vistos em São Francisco. assim como Gareth Edwards, o diretor Michael Dougherty também gosta de brincar com as nossas expectativas com relação ao que virá em seguida, pois é uma verdadeira revelação, por exemplo, onde realmente se encontra no início da trama a doutora e a sua filha Madison, interpretada pela jovem atriz Millie Bobby Brown, da série "Stranger Things" (2016). Após apresentação dos personagens principais, o filme engata uma nova marcha e é aí que ele se encaminha para os seus altos e baixos ao longo de sua trama.
Não é preciso ser gênio que veremos ao longo do percurso mais monstros para serem os oponentes de Godzilla, além de serem velhas caras conhecidas, principalmente para aqueles que assistiam aos filmes antigos vistos no Japão. Temos então aparição de Ghidorah, Rodan e Mothra, sendo que essa última possui os mais belos momentos do filme e desencadeando uma nostalgia para os fãs que assistem. É uma pena, portanto, que quando surgem essas grandes figuras quase sempre é em meio a uma fotografia, por vezes, muito escura e fazendo a gente desejar que muitos desses momentos fossem vistos a luz do dia.
Um dos velhos motivos de se colocar personagens digitais no meio da escuridão é para sempre ocultar alguns defeitos, mesmo quando eles sejam quase imperceptíveis. Mas se por um lado a fotografia atrapalha, do outro, as cenas de ação envolvendo as criaturas empolga e gerando sempre uma grande tensão na medida em que os personagens humanos ficam cada vez mais perto em meio ao duelo de titãs. Se por um lado se perde aquele ar de novidade vista no filme anterior, ao menos, o filme ganha pontos ao obter a nossa total atenção em quesito de ação.
Por outro lado, em termos de roteiro, os realizadores pecam pela sua falta de originalidade em algumas situações. Em um determinado momento, por exemplo, uma personagem faz um discurso que mais parece que foi tirado do filme "Kingsman: Serviço Secreto" (2014) e que havia sido dito por samuel l. jackson. Isso faz com que se crie um roteiro pronto em nossas mentes e fazendo a gente saber quais serão os destinos de alguns respectivos personagens.
Se há falta de originalidade, ao menos, há uma carga emocional e de respeito com relação a obra original de 1954. Não deixa de ser curiosa, por exemplo, a cena onde vemos o personagem de Ken Watanabe frente a frente com Godzilla e cuja a cena remete ao final do filme clássico. Se tem aqui, portanto, o fechamento de um círculo e início de um novo e do qual se torna uma faca de dois gumes para a obra como um todo.
O grande problema de "Godzilla II", talvez, seja justamente o fato dos seus realizadores não saberem encerrar o filme sem deixar de pensar o que poderá vir mais pela frente. Obviamente se tem aqui a intenção de se criar uma franquia de monstros gigantes para o cinema, mas que corre o sério risco de terminar antes mesmo de começar. Em tempos de franquias fracassadas, tanto dos "Monstros Clássicos" da Universal, como até mesmo do Universo de Super-Heróis da DC/Warner, realizar uma franquia de monstros gigantes atualmente requer que realizadores pensem duas vezes antes de dar o seu tiro no escuro e correr sério risco de sair no prejuízo.
"Godzilla II: Rei Dos Monstros" é um ótimo divertimento para os fãs do personagem, mas que também sofre nas mãos de realizadores que não se contentam somente em um único duelo e isso se deve graças ao dinheiro.
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