Sinopse: Gepeto é um solitário marceneiro que sonha em ser pai e deseja que Pinóquio, o boneco que acabou de construir, ganhe vida.
Quando se fala em Pinóquio imediatamente nos lembramos do clássico da Disney de 1940, pois o filme ainda hoje impressiona pelo seu perfeccionismo e genialidade do criador de Mickey. Porém, ao longo das décadas, já houve diversas adaptações, que chegavam a ser mais e fiéis e com um teor um tanto que sombrio. "Pinóquio" (2019) é uma obra muito mais próxima da visão do escritor Carlo Collodi e que, curiosamente, transita entre a fantasia e realidade.
Dirigido por Matteo Garrone, do filme "Gomorra" (2008), somos apresentados à verdade sombria por trás de um clássico que marcou gerações. O solitário marceneiro Gepeto (Roberto Benigni) tem o grande desejo de ser pai, e deseja que Pinóquio (Federico Ielapi), o boneco de madeira que acabou de construir, ganhe vida. Seu pedido é atendido, mas a desobediência do jovem brinquedo faz com que ele se perca de casa e embarque em uma jornada repleta de mistérios e seres mágicos, que o levará a conhecer de fato os perigos do mundo.
O filme já começa de forma surpreendente, onde não testemunhamos um conto de fadas colorido, mas sim pálido, sujo, onde a cidade em que Gepeto mora mais parece uma cidade Italiana dos tempos pós-Segunda Guerra Mundial. Curiosamente, Gepeto é meio que o verdadeiro protagonista do primeiro ato da trama, já que Roberto Benigni constrói o personagem da sua maneira e se distanciando das outras encarnações que Gepeto teve ao longo das décadas. A sua atuação é tão boa que faz a gente até lamentar quando ele sai um pouco de cena e dando lugar ao pequeno protagonista.
Não tem muito o que dizer sobre atuação de Federico Lelapi como Pinóquio, já que ela é econômica e não possuindo o lado carismático que o personagem havia nos conquistado na versão de Disney. Ao menos, isso é um pouco contornado quando o protagonista embarca em uma verdadeira aventura cheia de fantasia, mesmo cometendo o erro de desobedecer ao seu pai ao longo da história. É a partir dessa desobediência que o personagem irá aprender da pior maneira possível que certas regras são preciosas e que são necessárias por elas em prática.
Logicamente o filme possui diversas passagens do livro que todos nós conhecemos, desde aos momentos em que o protagonista fica preso em um circo, como também nos momentos em que ele se dá mal nas mãos de dois larápios. Porém, a passagem em que ele e as demais crianças são transformadas em burros continua sendo um dos momentos mais assustadores do conto, ao ponto de quase superar o clássico da Disney. Curiosamente, alguns personagens ganharam nova roupagem, como no caso do Grilo Falante e que aqui ele mais parece a voz da consciência de Pinóquio, mas tendo pouco contato com ele ao longo do percurso.
Porém, a nova visão da Fada azul, interpretada pela atriz Marine Vacth, supera as nossas expectativas, principalmente por ser uma visão que se distancia e bastante do clássico da Disney e possuindo uma aura de mistério em volta dela. Alias. É através dela que surgem personagem animalescos, um mais curioso do que o outro e nos surpreendendo pelas suas pesadas maquiagens. Em tempos em que quase tudo é feito digitalmente nos rostos dos atores, não me surpreenderia se o filme ganhasse um Oscar por essa categoria.
O ato final não traz nenhuma surpresa, principalmente para aqueles que leram tanto o livro como também as suas adaptações ao longo dos anos. Porém, o filme é uma simpática adaptação para ser vista e revista com certo cuidado, já que ela toca em lições de vida que merecem ainda a nossa atenção, principalmente quando certos valores de amor e amizade são esquecidos por alguns em nosso mundo real. Transitando entre a fantasia e realidade, quem sabe o filme venha a conquistar uma nova legião de pequenos que nunca tinham ouvido falar sobre esse curioso personagem de madeira.
Indicado para dois prêmios ao Oscar 2021, "Pinóquio" é uma nova versão de um grande clássico, do qual o seu visual se difere dos outros e o que faz dele valer a pena ser conferido.
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